Teste nos EUA aponta que vacina do Butantã contra dengue é eficaz

Estadão Conteúdo
17/03/2016 às 09:30.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:50

Um teste feito pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês) revelou que a vacina contra a dengue desenvolvida em parceria com o Instituto Butantã oferece proteção completa contra o vírus.

A terceira e última fase dos ensaios clínicos da vacina começou em fevereiro e está sendo feita no Brasil pelo instituto. Os testes incluem a imunização de 17 mil voluntários humanos, que serão acompanhados ao longo de alguns anos.

Em artigo científico publicado nessa quarta-feira (16) na revista Science Translational Medicine, no entanto, os pesquisadores americanos apresentam os resultados de um teste clínico mais rápido e radical, ainda que realizado em pequena escala.

Nesse modelo de testes, conhecido como "desafio em humanos", os voluntários são imunizados e depois recebem uma forma amenizada do vírus para avaliar a eficácia da vacina.

Pesquisa

O estudo, feito por pesquisadores do NIH e da Universidade Johns Hopkins, também nos Estados Unidos, teve a participação de 41 voluntários que nunca tiveram dengue. A vacina foi aplicada em 21 voluntários e outros 20 receberam placebo. Seis meses depois, todos eles foram infectados com uma variante atenuada do sorotipo 2 do vírus - aquele cuja prevenção por vacinas é considerada a mais difícil entre os quatro sorotipos.

Os voluntários que receberam placebo tiveram sintomas moderados da doença. Entre os que receberam a vacina, 100% ficaram completamente protegidos da infecção e não apresentaram qualquer sintoma.

Segundo o diretor do Butantã, Jorge Kalil, o teste é bem-vindo e corrobora os resultados obtidos na fase 2 dos testes clínicos, feita pelo instituto. "É um estudo interessante e importante porque dificilmente as autoridades sanitárias brasileiras permitiriam que fizéssemos um teste do tipo desafio, usando o vírus vivo", disse Kalil ao Estado. "O teste de desafio em humanos mostrou que todo mundo ficou protegido. Já conhecíamos esses resultados e eles nos deixaram muito animados."

De acordo com Stephen Whitehead, do Instituto de Alergias e Doenças Infecciosas do NIH e um dos autores do artigo, os dados obtidos no novo estudo já haviam sido considerados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) quando o órgão aprovou a realização da terceira fase dos testes clínicos. "Esses resultados subsidiaram a recente decisão das autoridades brasileiras para que o Instituto Butantã levasse adiante a terceira fase dos testes clínicos", disse Whitehead.

Zika

A autora principal do estudo, Anna Durbin, da Universidade Johns Hopkins, afirma que o vírus amenizado, produzido pelos americanos, é capaz de infectar uma alta porcentagem dos voluntários sem causar sintomas mais graves da doença. Em geral, os pacientes apresentam apenas manchas na pele, mas não chegam a ter febre.

"Ficamos agradavelmente surpresos ao verificar que essa vacina fornece proteção completa às pessoas imunizadas", disse Anna. Segundo ela, com o sucesso do experimento, o grupo espera desenvolver o modelo de desafio em humanos para outros vírus, incluindo o zika. "Acreditamos que um teste-desafio em humanos pode ser desenvolvido para zika. Ele seria uma ferramenta para acelerar o desenvolvimento de uma vacina contra essa doença."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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