(Maurício Vieira/ Hoje em Dia)
"Meu sonho é ter alguém pra namorar, para compartilhar a vida”. A afirmação é de Leonardo Costa, de 29 anos, pessoa com deficiência (PCD) cognitiva, de Belo Horizonte. O relato, compartilhado aos pais algumas vezes nos últimos anos, serviu de trampolim para o desenvolvimento do site Amor Especial (veja aqui), uma plataforma de relacionamento com ferramentas de acessibilidade para pessoas com deficiências intelectuais e físicas.
As pesquisas começaram no ano passado, envolvendo um estudo das necessidades desse público em uma rede social. Segundo o analista de sistemas responsável pelo portal (e pai do Leo), Élton Costa, de 56 anos, há propostas nacionais e internacionais que promovem a interação de diversos “nichos”, incluindo o PCD. Porém, sem as ferramentes de acessibilidade.“É paradoxal”, disse.
Após cerca de oito meses de trabalho de uma equipe de oito profissionais, entre programadores, designers, advogados e jornalistas, com investimento de R$ 20 mil, o Amor Especial foi lançado, no último dia 15. “Fizemos parcerias com as duas empresas consideradas as mais importantes do mundo em questão de acessibilidade”, contou Élton.Reprodução/ Amor Especial
O site foi lançado no último dia 15 de julho
O acesso à plataforma é feito por meio de um cadastro. O usuário insere dados e fotos e já pode iniciar chats com o intuito de fazer amizades ou firmar relacionamentos amorosos. “Temos um painel de busca muito abrangente, que ajuda a localizar pessoas. Por esse mecanismo, é possível filtrar perfis por localização, pelo critério se ela tem deficiência ou não, se fuma, bebe, tem filhos”, acrescentou.
Há ainda a disponibilidade de textos diários de relevância para a sociedade. De acordo com a co-criadora da plataforma, a mãe de Leonardo, a dentista Cláudia Fagundes, de 54 anos, são artigos que estimulam a interatividade. “A gente traz um conteúdo interessante e atual, com eventos, datas importantes, dicas, notícias, concursos, livros, tudo que envolve a acessibilidade e a inclusão, além de outros assuntos que sejam de utilidade não só para o público PCD, e sim para todos”, afirmou.
Até o momento, o site tem 150 usuários, com uma média de 15 novos cadastros por dia. Até o fim do ano, o objetivo é estar com 2 mil participantes. Há planos para a construção de um aplicativo e a expansão para a América Latina, em 2022. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2019, mostram que o Brasil tem pelo menos 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência - quase 25% da população.
O site tem uma versão gratuita, que limita a quantidade de mensagens e chats enviados, e outra paga, com mensalidade de R$ 55 - ou R$ 30 para quem assina pelo mínimo de seis meses.Reprodução/ Amor Especial
Usuário pode usar busca avançada para iniciar conversas
A inspiração
Leonardo, filho do casal, nasceu com uma má-formação cerebral congênita. Ele tem deficiência intelectual. Apesar disso, consegue se comunicar, mesmo que com pequena dificuldade.
“Eu já usei alguns aplicativos de encontro, como Happn e Tinder, mas é difícil. No Amor Especial, ainda não conheci ninguém, mas estou confiante que vai acontecer”, disse.
“Todas as histórias vividas com ele até aqui, e sentir na pele o que ele sente, as dificuldades, limitações, e as várias experiências com ele, são uma grande motivação. Me sinto uma mãe mais especial. Ser mãe do Leonardo é ser mãe de uma pessoa de muita superação. Me sinto mais humana também”, relatou Cláudia.Maurício Vieira/ Hoje em DiaLeo tem usado o site e aprovou a proposta
Tecnicamente acessível
A preocupação com o acesso realmente facilitado à população com deficiência norteou os trabalhos de Élton e Cláudia na construção do Amor Especial. Durante o processo de pesquisa e desenvolvimento da plataforma, o especialista em sistemas de informação firmou parcerias estratégicas com as empresas Hand Talk e EqualWeb, consideradas líderes em acessibilidade digital no mundo.
De acordo com Élton, a HandTalk foi eleita, em 2013, a melhor aplicação social do planeta pela Organização das Nações Unidas (ONU). Na prática, a ferramenta funciona como um dicionário de bolso que traduz textos e áudios em português para a Língua Brasileira de Sinais, por meio dos avatares Hugo e Maya. Assim, os tradutores virtuais tornam os textos do site acessíveis em Libras com o simples clique de um botão.Reprodução/ Amor Especial
Pessoas com ou sem deficiência podem acessar a plataforma
Já o trabalho da EqualWeb, também pioneira em acessibilidade digital, é focado na oferta de um conjunto diversificado de ferramentas que permitem a responsividade facilitada para PCD’s, como contrastes e fontes ajustáveis, comando de voz, lupa, ampliador de texto, navegação inteligente, dentre outras.