Assistindo pela TV, domingo passado, à melancólica apresentação e derrota do Maior de Minas para o São Paulo, no Morumbi, não me saía da cabeça uma situação que vivi duas ou três vezes na vida. A de alguém que está fazendo, de maneira completamente desinteressada, a última prova do ano de uma matéria qualquer, no ensino fundamental ou médio, sem precisar de nota porque já atingiu a média exigida no colégio.
O detalhe é que, embora você não dê a mínima para o teste, não pode sair da sala antes do sinal. Tem que ficar lá, desenhando carinhas de monstros na carteira ou perdido em devaneios, olhando para o vazio. Algo do tipo: “E se eu pedisse dinheiro à minha mãe pra pagar o presente de aniversário dela e comprasse um disco do David Bowie?”.
Nem todo mundo teria a ideia de fazer uma excelente prova. De esforçar-se ao máximo para melhorar a pontuação, mesmo que isso não vá torná-lo o melhor aluno da sala.
Mas tem sempre um ou outro colega ao lado, sobretudo aquele chato e metido a maioral, que precisa arrasar no exame derradeiro para passar de ano.
E seria interessante, no caso, imbuir-se de espírito competitivo, a despeito do relativo sucesso já alcançado, e brilhar nas respostas.
Para facilitar o entendimento: vamos chamar o hipotético colega de Atlético – e o sobrenome pode ser Mineiro ou Paranaense, não importa.
A missão, no exemplo dado, seria a de tentar ficar melhor do que ele no boletim escolar da turma.
Não foi essa a postura do Cruzeiro, de maneira geral, na reta final do campeonato, após ter garantido a valiosa vaga na Libertadores sem depender de sua posição na principal competição do país. E a chance de superar o tal colega e ir ao ponto mais alto possível, mesmo com o triunfo maiúsculo sobre o Vitória, no meio da semana, ficou, aparentemente, só na vontade.
Bom, bola pra frente.
Até porque, depois de amanhã, tem festança no Mineirão. Na preliminar do penúltimo jogo do Cabuloso e do freguês Flamengo, este ano – e da última apresentação em casa dos cruzeirenses –, haverá um encontro mágico entre campeões da histórica Tríplice Coroa, conquistada há 15 anos, e um combinado de outros ídolos celestes.
Espero que, ao ver ex-jogadores do calibre do mago Alex em campo, vestindo novamente a mítica camisa das cinco estrelas, torcida e dirigentes inspirem-se devidamente para a difícil e promissora temporada que teremos em 2019.
E entendam que, para os cruzeirenses, no futebol, a meta, mais que a aprovação, sempre será tornar-se o maior destaque da classe.
PS: Minha saudosa mãe não gostou da coletânea do Bowie, na ocasião. Acho que ela queria uma blusa. Mas, como dizem, mãe é mãe e ela acabou me perdoando.