(Jefferson Bernardes)
Fantasma de 1950
Se foram 64 anos. Mas o “fantasma do Maracanazo” de 1950 ainda ronda a Seleção Brasileira. Aquela derrota histórica, na decisão para o Uruguai (2 a 1), em 16 julho, marcou muito. Tanto que perguntas em relação ao tema foram recorrentes aos jogadores canarinhos na Granja Comary, em Teresópolis, no Rio de Janeiro.
Por isso, o hexa dentro de casa colocaria de vez uma pedra neste episódio, o deixando como uma mera lembrança triste do passado. Apesar de o comandante Luiz Felipe Scolari não admitir, a psicóloga da comissão técnica, Regina Brandão, conversou com os atletas sobre o Maracanazo. O objetivo é fazer com que o trauma da época, após a falha do goleiro Barbosa e gol do uruguaio Ghiggia, no Maracanã superlotado, não se torne uma pressão a mais para o grupo.
Neymar no topo
A confiança está depositada em Neymar. O jovem craque do Barcelona, aos 22 anos, carrega o país nas costas neste Mundial. Os brasileiros já externam carência de um ídolo de repercussão internacional. Desde Kaká, em 2007, eles não presenciam um compatriota na condição de melhor jogador mundo, erguendo a “Bola de Ouro” na badalada cerimônia da Fifa.
A sexta estrela no escudo e um show particular nos duelos decisivos aproximariam o ex-menino da Vila Belmiro de fazer história e acabar com o incômodo jejum de sete anos. Vale a pena também Neymar dar uma secada nos principais concorrentes, entre eles o argentino Messi e o português Cristiano Ronaldo.
Na conquista da Copa das Confederações, no ano passado, o camisa 10 provou que pode ser “o cara”. Foi eleito o craque da competição. “Vou torcer para que o Neymar seja o melhor jogador do mundo. Se conseguir o feito, é porque o Seleção levou a Copa”, aposta Ronaldo Fenômeno.
Prêmio de consolação
Os gastos com as arenas da Copa chegaram aos R$ 8 bilhões, segundo estimativas do próprio governo. O craque Ronaldo declarou que não se faz Mundial “com hospitais, mas com estádios”. Os atrasos nas obras trouxeram caos às cidades-sede. Os aeroportos sequer ficaram totalmente prontos.
A população brasileira não conseguiu vislumbrar o prometido “legado” do torneio. Pelo contrário, os problemas sociais não deram trégua. O que parecia motivo de orgulho se transformou em revolta. A Copa não se tornou mais tão bem-vinda.
“Bomba” explodiu na Copa das Confederações de 2013. Protestos pararam o país. Milhares de cidadãos nas ruas cobrando melhorias, alguns vândalos depredando patrimônios públicos e particulares. Ficaram as lições e a expectativa de, pelo menos, a conquista do hexa. O título mundial apaziguaria um pouco o cenário. Seria um prêmio de consolação, após tantas promessas não cumpridas. Caso a Seleção decepcione, muitos acreditam que o clima tenso da Copa das Confederações pode voltar. Não haveria mais motivação na disputa caseira.
CBF na Berlinda
O mandatário da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin, entrega o cargo no fim de dezembro. A partir de 2015, Marco Polo Del Nero, atual vice e presidente eleito, assume o posto. A dupla anda esbanjando otimismo quanto ao sucesso da Seleção na Copa. E eles têm mesmo bons motivos para torcer.
A CBF está com a imagem arranhada após os diversos escândalos envolvendo o ex-presidente Ricardo Teixeira, que renunciou em março de 2012, depois de 23 anos à frente da entidade. Durante a estada no poder, Teixeira viu o Brasil ganhar os Mundiais de 1994 (Estados unidos) e 2002 (Coreia do Sul e Japão) e chegar ao vice-campeonato em 1998 (França).
No entanto, os escândalos de corrupção destruíram sua reputação, a ponto de até a presidente Dilma Rousseff “forçar” sua saída. Teixeira também se despediu do Comitê Organizador Local da Copa (COL). O clima na CBF inspira cuidados. Marin e Del Nero sabem disso.
Resgate
O Brasil se orgulha de ser o “país do futebol”. Porém, os fiascos nos últimos dois Mundiais, na Alemanha (2006) e África do Sul (2010), impuseram certa decadência aos canarinhos. A 22ª colocação no ranking da Fifa, em junho de 2013, a pior da história, foi o fundo do poço.
Os três anos de trabalho do ex-treinador Mano Menezes, neste ciclo final pré-Copa, também acabaram sendo muito criticados. Carlos Alberto Parreira, comandante do tetra, e Luiz Felipe Scolari, o técnico do penta, foram chamados às pressas.
Parreira, na primeira entrevista antes da preparação na Granja Comary, em Teresópolis, declarou que o “hexacampeão tinha chegado”. A Seleção encara a Croácia ostentando a terceira do ranking da Fifa, depois do título na Copa das Confederações de 2013.
Caso a taça venha, certamente o Brasil, único país a participar de todos os Mundiais, retornará ao seu lugar de costume: o topo da lista dos melhores.
Valorização
O Campeonato Brasileiro passa por um momento de contrastes. Com a crise econômica na Europa e nos vizinhos da América do Sul, os clubes daqui conseguiram repatriar estrelas que andavam fora. Além disso, investiram em bons nomes de equipes argentinas, uruguaias e em talentos de países menos tradicionais.
No entanto, ainda reclama-se do nível técnico do Brasileirão, que realmente deixa a desejar. Caso Thiago Silva erga a taça diante do planeta, em 13 de julho, no Maracanã, o futebol nacional voltará a ficar na vitrine, a ganhar destaque na mídia internacional.
Isso implicaria aumento de audiência do torneio nacional e também no desejo de jogadores de fora aturem no país. Outros ídolos canarinhos também ficariam tentados a retornar.
Para os astros brasileiros que estão no exterior, o hexa também representaria muito. A janela de transferências do mercado europeu continuará aberta até o fim de agosto. Hulk, Paulinho, Julio César, Marcelo e Daniel Alves podem trocar de clube na próxima temporada do Velho Continente.