Tortura na Fundação Casa pode ter mais envolvidos, segundo investigações

Bruno Paes Manso
21/08/2013 às 08:54.
Atualizado em 20/11/2021 às 21:10

Há mais funcionários envolvidos em torturas na Fundação Casa (ex-Febem) da Vila Maria, na zona norte de São Paulo, além dos cinco que foram afastados após divulgação de vídeo onde pelo menos seis jovens são espancados na unidade João do Pulo. A afirmação foi dada nessa terça-feira, 20, por cinco vítimas que prestaram depoimento ao Ministério Público Estadual.

Ao todo, oito jovens que testemunharam a sessão de agressões e que apanharam naquela unidade foram transferidos para depor em outro prédio da fundação, no Brás.

O promotor Matheus Jacob Fialdini afirmou, no entanto, que ainda é cedo para pedir o afastamento dos suspeitos, já que eles não aparecem nas imagens. "Precisamos tratar o assunto com cuidado. Como nesses casos não há imagens respaldando a denúncia, é preciso antes investigar melhor", disse.

Desde que o caso apareceu no Fantástico, da Rede Globo, no domingo, 18, cinco funcionários já foram afastados pela Fundação Casa. São eles o diretor da unidade, Wagner Pereira da Silva, os coordenadores de segurança Maurício Mesquita Hilário e José Juvêncio (que aparecem no vídeo agredindo os jovens) e o coordenador de equipe Edson Francisco da Silva, que assistiu às agressões. Na segunda, outro coordenador de equipe foi afastado. A Fundação Casa não divulgou o nome do funcionário.

Nas imagens da TV, gravadas dentro da unidade João do Pulo, os funcionários dão socos, tapas, pontapés e cotoveladas em pelo menos seis adolescentes, que estão de cuecas, acuados em uma sala da unidade. As imagens foram gravadas em maio. O quinto afastado aparece no vídeo ameaçando os garotos: "Vou falar para os senhores: a mãe dos senhores vai visitar os senhores lá no IML. Lá no IML. Vai visitar no IML, porque eu não vou 'dar boi'", ameaça o funcionário.

Comportamento

Os cinco jovens que foram ouvidos pelo MPE nessa terça-feira disseram que houve tumulto e tentativa de fuga, o que teria motivado as agressões. Os rapazes ainda disseram que surras para tentar punir desvios de comportamentos costumavam ocorrer.

As testemunhas, no entanto, ponderaram que há funcionários na unidade que não compactuam com as torturas e agressões. "Eles sabem apontar os funcionários que são cúmplices daqueles que trabalham direito", disse o promotor.

Na segunda-feira, 20, o MPE ouviu 16 funcionários da Fundação Casa. Na primeira sessão de depoimentos, constatou, segundo disse, a falta de capacitação e de vocação de muitos dos trabalhadores ouvidos com a educação de jovens. Os cursos para agentes, de acordo com os promotores, duram 15 dias. A Fundação Casa nega que falte capacitação para os funcionários e afirma que os cursos melhoraram nos últimos anos.

Documentos

A partir desta quinta-feira, 22, a promotoria vai ouvir outros jovens e funcionários, além de buscar documentações sobre os trabalhos na unidade. A intenção é aproximar os trabalhos da promotoria criminal, da Polícia Civil e da Corregedoria da Fundação Casa, que também investigam a ocorrência. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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