O comércio permaneceu fechado nesta quinta-feira pelo segundo dia consecutivo por ordem do tráfico no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, zona norte do Rio. A favela conta com uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) desde novembro de 2010. O luto foi imposto devido à morte de Jorge Araújo Vieira, o Bebezão, de 35 anos, chefe das bocas de fumo da favela, na manhã de quarta-feira, 17. Uma escola municipal localizada em um dos acessos à favela abriu as portas nesta quinta, mas nenhum aluno compareceu. Apesar da presença de policiais militares da UPP, poucos moradores circulavam pelas vielas. Com medo, a maioria evitava falar com a reportagem, mesmo sem se identificar.
"Eu queria comprar um cigarro, mas como não tem nada aberto aqui, tive que andar uns 20 minutos até o Grajaú (bairro vizinho à Vila Isabel). A ordem dos bandidos é que o comércio reabra só amanhã. Quem vai ter coragem de desrespeitar?", disse uma aposentada de 59 anos, que mora há 20 anos na comunidade.
Nascido e criado no Morro dos Macacos, Bebezão deixou a favela após a ocupação pelas forças de segurança. Primeiro refugiou-se na Rocinha, na zona sul. Depois da pacificação da Rocinha, em 2012, fugiu para o Morro da Pedreira, em Costa Barros, zona norte, ainda sob domínio do poder paralelo. As comunidades eram controladas pela facção Amigos dos Amigos (ADA).
"Bebezão era querido por muita gente porque era cria daqui, colocava ordem na favela. Na época dele, ninguém roubava nada aqui dentro. Mas ele fez muitas mães chorarem, porque preferia arregimentar menores para o tráfico", contou outra moradora.
O bandido morreu por volta das 7h de quarta-feira, ao ser baleado durante uma troca de tiros com vigilantes que escoltavam um caminhão de cigarros na Avenida Brasil, na altura de Fazenda Botafogo, zona norte. Além de Bebezão, um menor de 16 anos que também participou da tentativa de roubo foi baleado e morreu. Por volta do meio-dia, bandidos em motos começaram a circular pelo Morro dos Macacos e por ruas de Vila Isabel, ordenando que os comerciantes baixassem as portas. Alguns lojistas relataram que receberam ordens até pelo telefone. Os estabelecimentos localizados fora da favela só reabriram nesta quinta.
Em nota, o Comando de Polícia Pacificadora informou que o policiamento foi reforçado dentro da comunidade e no entorno para garantir a segurança de moradores e comerciantes.
O Disque-Denúncia (21-2253-1177) oferecia R$ 1 mil de recompensa por informações que levassem à captura de Bebezão, que tinha mandados de prisão por homicídio e tráfico de drogas.
Este não é o primeiro caso de luto imposto pelo tráfico em favelas pacificadas. Bandidos já obrigaram o fechamento do comércio no Complexo do Alemão, na Mangueira e na Cidade de Deus - todas com UPPs.
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