(MAURÍCIO VIEIRA)
Por dia, pelo menos 220 crianças e jovens, de até 19 anos, chegam aos postos de saúde de Belo Horizonte com transtornos mentais e comportamentais. Cerca de 10% são considerados casos graves, sendo necessário o encaminhamento a centros de referência especializados. A média de atendimentos neste ano já ultrapassa os socorros prestados em 2018 e preocupa a classe médica, que considera os números elevados.
As consultas mais comuns são as de crises de ansiedade, estresse e depressão. Já os quadros mais delicados têm relação com o risco de suicídio. Dentre as motivações estão o bullying, pressão nos estudos, uso excessivo de redes sociais, acesso a conteúdos violentos – por meio de games, por exemplo – e problemas familiares.
Coordenador de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), Fernando Siqueira diz que a maior parte dos que vão aos postos nos bairros da cidade consegue resolver a situação no local. Os demais, são levados aos Centros de Referência em Saúde Mental Infantojuvenil (Cersami).
“Geralmente, são casos de esquizofrenia, risco de autoextermínio”, afirma Siqueira. Segundo ele, BH tem três unidades especializadas. Os espaços ficam nas regionais Nordeste, Noroeste e Centro-Sul e recebem demandas das outras áreas da metrópole.
Drama em todo o país
As estatísticas da SMSA refletem um contexto nacional. Levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) – em razão da Semana da Criança, que é celebrada nesses dias – mostra que as internações hospitalares de meninos e meninas, de 10 a 14 anos, aumentaram 107% em uma década.
O cenário, que já desperta a atenção, é ainda pior, pois os dados são apenas dos atendimentos feitos no Sistema Único de Saúde (SUS). Na rede privada, garantem os médicos, a demanda também tem crescido.
É o caso da estudante Marina*, de 15, que faz acompanhamento em uma clínica particular da capital. “No ano passado, na escola, criaram uma conta no Instagram para falar mal de alguns alunos. Eu fui uma das vítimas”, contou a jovem.
A família dela mora no bairro São Geraldo, na região Leste de Belo Horizonte. Na época dos atos de violência psicológica, relembra a mãe, a menina ficou reclusa. “Mas o estopim foi quando ela tomou uma série de remédios para tentar se matar”, revela a mulher.Editoria de Arte
Globalização
De acordo com a psiquiatra infantojuvenil Jaqueline Bifano, a faixa etária de até 19 anos é considerada “de risco”. “Existem muitas mudanças hormonais e psíquicas. Afinal, a criança está deixando de ser criança. E o adolescente, deixando de ser adolescente”.
Para a Sociedade Brasileira de Pediatria, o crescente número de atendimentos de transtornos mentais e comportamentais também deve ser analisado com prioridade pelas autoridades brasileiras para que ações e políticas públicas de prevenção e cuidado sejam implementadas.
*Nome fictício
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