Trégua em Gaza reforça presidente egípcio, mas situação continua delicada

AFP
22/11/2012 às 11:50.
Atualizado em 21/11/2021 às 18:31
 (AFP)

(AFP)

CAIRO - O presidente islâmico egípcio, Mohamed Mursi, está mais forte graças aos esforços em favor de um cessar-fogo em Gaza, elogiado pela comunidade internacional, mas a fragilidade da situação ameaça a sua difícil tarefa de
 mediar o conflito entre Israel e os palestinos, consideram os analistas.

Os elogios que chegaram de Washington, Paris, Bruxelas e da ONU foram acompanhados pelo desejo de que esta vitória se transforme em uma solução "duradoura".

Sinal da incerteza que ainda pesa, Mursi cancelou de última hora uma viagem muito esperada à Cúpula dos países muçulmanos emergentes ("D8") em Islamabad nesta quinta-feira (22), justificando a necessidade de acompanhar pessoalmente a situação em Gaza.

A equação é complexa para Mursi, que quer se distanciar da política de seu antecessor Hosni Mubarak, criticado no Egito por agir de forma muito conciliadora com Israel, e manter o crédito de mediador na região alcançado com seus acordos de paz concluídos em 1979 com o Estado Hebreu.

Apoio popular

A Irmandade Muçulmana, da qual pertence Mursi, é historicamente próxima ao Hamas, no poder em Gaza, e a opinião pública egípcia apoia massivamente a causa palestina.

"Já não é mais o Egito de antes. O governo foi eleito e deve prestar contas ao povo" contrariamente ao regime autocrático de Mubarak derrubado em fevereiro de 2011, ressaltou um funcionário da presidência egípcia sob condição de anonimato.

Governo

O cessar-fogo em Gaza "foi o primeiro grande teste para Mursi, que conseguiu se sair bem dele. Levou adiante a negociação de maneira equilibrada", considerou Amin Al-Sayed Shalabi, diretor do Conselho Egípcio de Relações Exteriores, um centro de estudos.

"Antes a pressão egípcia era feita sobre o Hamas. Mubarak era utilizado pelos israelenses", ressalta por sua vez o cientista político egípcio, Hasan Nafaa.

"Mursi, em contrapartida, conseguiu habilmente utilizar suas relações com o Hamas para alcançar o objetivo primordial do Egito que era o fim da violência" em uma região em sua fronteira, destaca.

Avaliação internacional

Mas a secretária de Estado americano, Hillary Clinton, presente no Cairo para o anúncio do cessar-fogo, preferiu implicitamente relacionar a ação de Mursi com a tradição herdada dos presidentes Anwar Al-Sadat e Mubarak, aliados de Washington.

O "novo governo egípcio assume a responsabilidade e a liderança que fizeram deste país o pilar fundamental da paz e da estabilidade na região", declarou Hillary, elogiando o presidente islâmico.

Alguns especialistas dizem, no entanto, que as relações egípcio-israelense já não são dominadas pela mesma confiança de antes.

Mursi empregou uma retórica virulenta contra a operação israelense, descrita como "agressão flagrante contra a humanidade", e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu foi visivelmente pressionado pelos Estados Unidos a aderir o acordo proposto pelo Egito, afirmou Mustafa Kamel Al-Sayyed, da Universidade do Cairo.

"Podemos questionar qual será no futuro a reação de Netanyahu a um cessar-fogo, que se apresenta como um fracasso para o primeiro-ministro, já que não atende aos objetivos militares", considerou.

Ações

Os esforços de Mursi, que prometeu agir para melhorar as condições de vida em Gaza, também dependem de uma flexibilização efetiva do bloqueio ao território palestino evocado no acordo de cessar-fogo.

Sem avanços em direção a uma solução duradoura para o conflito, os esforços do presidente islâmico parecem tão pouco substanciais como os de Mubarak, estimou o Sayyed.

"O que é importante saber, é se a base política de Mursi, a Irmandade Muçulmana, está pronta para atender a um acordo no final, se for repetido o que foi feito sob Mubarak", disse.

© Copyright 2024Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por
Distribuido por