Trump aperta cerco a imigrantes ilegais; comunidade brasileira nos EUA está apavorada

Bruno Moreno
bmoreno@hojeemdia.com.br
26/01/2017 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:33

Uma das principais bandeiras do novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o combate à imigração e aos imigrantes ilegais, começou a ser colocada em prática ontem. Os dois decretos assinados ontem por Trump ainda não atingem diretamente os brasileiros ilegais residentes naquele país, mas geraram enorme insegurança na comunidade por conta da escalada da repressão.

Ontem, Trump assinou o decreto determinando a construção de um muro na fronteira com o México para impedir a entrada de imigrantes ilegais. Segundo ele, as obras começarão dentro de alguns meses. E reiterou que o México pagará os cerca de US$ 20 bilhões previstos para cobrir os 3,2 mil quilômetros de extensão da fronteira.

O presidente norte-americano também assinou decreto que tem como alvo as chamadas “cidades santuário”, nas quais os imigrantes são protegidos da deportação. A ordem é aumentar o número de centros de detenção e cortar os recursos federais a essas cidades, a maioria governada pela oposição democrata. 

O efeito desse decreto não é imediato, já que seu objetivo é obrigar a mudanças nas leis estaduais e municipais. Mas deixa claro que os imigrantes ilegais estarão sob pressão crescente, com menos chance de trabalho e correndo mais risco de deportação.

Nos próximos dias o presidente deve tomar mais medidas de restrição à imigração. Entre elas, decretos para limitar a entrada de refugiados e bloquear a emissão de vistos a pessoas de vários países de maioria muçulmana.

Mas o decreto que afetará diretamente os brasileiros, também esperado para os próximos dias, será o que dará poder à polícia comum de fiscalizar e deter imigrantes ilegais.

Brasileiros

De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, há 1,4 milhão de brasileiros nos EUA, mas não há uma estimativa de quantos são legais e quantos ilegais.

Entre eles está a belo-horizontina Ione Costa, de 43 anos, que emigrou em 2010 e atualmente já possui cidadania norte-americana. Ela mora perto de Miami e é dona de uma empresa de serviços de limpeza doméstica. Entre seus empregados estão vários brasileiros ilegais. 

“Se Trump cumprir o que prometeu, os imigrantes aqui terão problemas. Quem é ilegal não vai poder trabalhar, nem ligar a luz do apartamento”, disse.

 Arquivo Pessoal / N/AIone está legal nos Estados Unidos, mas teme pelo futuro dos empregados de sua empresa de limpeza

 Expectativa por novas leis faz brasileiro se preparar para o pior

O paranaense Pedro (nome fictício) é um dos milhares de brasileiros que moram e trabalham ilegalmente na Florida. Ele entrou legalmente no país em 2005, com visto de turista.

Hoje, aos 43, ele e a esposa são imigrantes ilegais e vivem a ansiedade da concretização das promessas de repressão feitas por Trump. “É difícil saber o futuro daqui, mas falei com a minha mulher que temos que nos preparar para o pior. O clima é de total incerteza”, disse.

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A situação do filho do casal, de 17 anos, é legal, já que ele foi beneficiado pelo programa “DACA”, criado por Barack Obama em 2012 e que ajudou mais de 750 mil imigrantes ilegais que chegaram ao país menores de idade a obter vistos de residência e trabalho. Trump prometeu revogar essa lei. 

Já o estudante de mestrado (MBA) Jorge Nascimento, de 40 anos, mora na Flórida há dois anos e meio e espera continuar nos EUA. No entanto, para que consiga permanecer dentro da legalidade, deve continuar a frequentar a universidade para não perder o visto de estudante.

Atualmente, cursa dois mestrados ao mesmo tempo e analisa a possibilidade de ingressar no doutorado. Depois de terminar os estudos, ainda pode permanecer nos EUA, legalmente, por um ano. Outra possibilidade para continuar a morar nos Estados Unidos é conseuguir um visto de trabalho.Arquivo Pessoal / N/AJorge Nascimento: estudo continuo para não perder o visto de estudante


Desconstrução

As medidas anti-imigração de Trump fazem parte do esforço do ex-presidente de desfazer metodicamente o legado de seu antecessor democrata, conforme havia prometido durante sua campanha. 

Logo após tomar posse, anunciou a retirada dos EUA do acordo de livre comércio Ásia-Pacífico (TPP).

Ele tambem retomou o projeto do gigantesco oleoduto Keystone XL ligando o Canadá aos Estados Unidos, cuja construção foi bloqueada por Obama em nome da luta contra as mudanças climáticas.

Nos Estados Unidos, se os republicanos saudaram o anúncio com entusiasmo, ambientalistas e eleitos democratas denunciaram em uníssono uma iniciativa tomada em detrimento das questões climáticas.
 

  

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