Achados arqueológicos

Palácio do Catete, no RJ, surpreende com descoberta de piso histórico soterrado

Cláudio Lacerda Oliva *
turismologoali@hojeemdia.com.br
16/03/2023 às 17:22.
Atualizado em 16/03/2023 às 18:52
Piso histórico descoberto no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro (Daniela Reis)

Piso histórico descoberto no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro (Daniela Reis)

Quando a modernização do sistema de esgoto do Palácio do Catete começou, há cerca de um mês, não se sabia que sob camadas de terra no jardim se revelaria um piso histórico em ótimo estado de conservação. Com padrões que impressionam pelo requinte artístico, a descoberta
surpreendeu até mesmo os arqueólogos que trabalham na obra, já que plantas e documentos antigos não registram uma construção no local.

Os artefatos arqueológicos prometem resgatar detalhes esquecidos da propriedade, que foi cenário de acontecimentos emblemáticos da história do Brasil, como a declaração de guerra à Alemanha, em 1917; o lançamento da moeda Cruzeiro, em 1943; e o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954.

O mesmo piso também pavimenta trechos do prédio principal, o que indica a possibilidade de a construção soterrada nos jardins ser contemporânea à edificação do Palácio, erguido entre 1858 e 1867 como residência do Barão de Nova Friburgo. O casarão, que já foi lar da nobreza e sede do Poder Executivo Federal, hoje abriga o Museu da República (MR), um dos principais equipamentos culturais do Rio de Janeiro (RJ).

"Ficamos muito felizes com a descoberta desses achados, que agora se transformam em pesquisa arqueológica. Posteriormente, pretendemos expô-los ao público, mas, para isso, precisamos antes desenvolver projetos arqueológicos e museológicos";, informa o diretor do
MR, Mário Chagas.

Fachada principal do Palácio do Catete (Daniela Reis)

Fachada principal do Palácio do Catete (Daniela Reis)

A área onde os achados arqueológicos foram localizados ainda será escavada para verificar a dimensão dos pisos remanescentes. Com 1,40 metros de largura, é provável que o comprimento se estenda para além do trecho atualmente visível. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) está analisando junto ao Instituto Brasileiro de Museus

(Ibram), que administra o Museu da República, o melhor modo de preservar os artefatos. 

Ambas as instituições são autarquias federais vinculadas ao Ministério da Cultura. Embora ainda não se saiba qual a função da estrutura que existia nas proximidades do palácio, relatos da cultura popular oral sugerem que os elementos podem ser parte de uma antiga casa de banhos, de uma entrada alternativa da propriedade, ou até mesmo da residência da sogra
do Barão de Nova Friburgo. Nos próximos meses, será realizada pesquisa histórica e documental para reconhecer a estrutura identificada, remanescente apesar das sucessivas intervenções posteriores e que pode ajudar a compreender usos e ocupações do espaço durante o século XIX.

"Esses achados arqueológicos no Museu da República mostram como a arqueologia histórica tem sido importante ao revelar parte da cidade que não é mais visível, ou seja, existe uma história que pode ser recuperada a partir das pesquisas arqueológicas das diversas intervenções pelas quais a cidade vem passando ao longo dos últimos anos", explica o
superintendente do Iphan-RJ, Paulo Vidal.

"Assim foram revelados diversos sítios arqueológicos quando  implementadas as linhas 1, 2 e 3 do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Por exemplo, na frente da Igreja Santa Rita, foi encontrado um cemitério. O Cais do Valongo também foi revelado a partir do trabalho de mudança do sistema de infraestrutura urbana no Porto Maravilha", complementa.

* Diretor Executivo da Assimptur

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