A Ucrânia não permitirá a entrada em seu território do comboio humanitário russo que está a caminho da fronteira, anunciou nesta terça-feira (12) o chefe adjunto do gabinete da presidência ucraniana, Valeri Chaly.
"Não consideramos possível o deslocamento de colunas russas no território de Ucrânia. O conteúdo do comboio poderia passar por um posto de fronteira ucraniano e ser transportado em um veículo do Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Não aceitaremos que (a ajuda humanitária) esteja acompanhada pelo ministério russo das Situações de Emergência ou por militares russos", declarou Chaly em uma entrevista coletiva.
Caminhões com ajuda humanitária saíram nesta terça-feira de Naro-Fominsk rumo ao leste da Ucrânia, informaram as autoridades da cidade russa.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou na segunda (11) o envio do comboio humanitário, apesar dos receios do governo de Kiev, assim como dos Estados Unidos e da União Europeia, que teme que se trate de um pretexto para uma intervenção armada.
Segundo o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, toda missão humanitária internacional deve excluir qualquer tipo de presença militar e a ajuda deve entrar em território ucraniano através dos postos fronteiriços controlados por Kiev, após o que seria escoltada pelas forças governamentais.
"Os caminhões levarão aos moradores da Ucrânia oriental mais de 2.000 toneladas de carga humanitária reunida pelos moscovitas e pelos habitantes da região de Moscou", disse um porta-voz do governo da capital citado pela agência oficial russa 'RIA Novosti'.
A ajuda humanitária, que será transportada em 280 caminhões, inclui 400 toneladas de cereais, 100 toneladas de açúcar, 62 toneladas de alimentos para crianças, 54 toneladas de remédios, 12.000 sacos de dormir e 69 geradores elétricos.
A Cruz Vermelha anunciou que está pronta para coordenar a entrega de ajuda humanitária russa no leste da Ucrânia, mas destacou que ainda espera a confirmação de que suas condições serão respeitadas.
SEPARATISTAS
Kiev suspeita que Moscou quer utilizar o pretexto humanitário para ajudar os insurgentes separatistas pró-Rússia, submetidos há várias semanas a uma grande ofensiva ucraniana e obrigados a permanecer entrincheirados em seus dois últimos redutos de Donetsk e Lugansk.
As potências ocidentais, com os Estados Unidos à frente, também alertaram contra qualquer intervenção unilateral russa "ilegal" em território ucraniano.
O presidente francês, François Hollande, conversou nesta terça-feira (11) com o colega russo, Vladimir Putin, e manifestou a "grande preocupação" com as "perspectivas de uma missão russa em território ucraniano", anunciou o Palácio de Eliseu.
Hollande "insistiu no fato de que qualquer operação humanitária só pode acontecer em território ucraniano com a aprovação das autoridades nacionais ucranianas, tanto na forma como nas modalidades de execução", afirma a presidência francesa em um comunicado.
O governo da Ucrânia e de países ocidentais acusam a Rússia de fornecer armas aos separatistas pró-Rússia do leste do país, o que Moscou nega.
"Os militares têm a intenção de fechar aos combatentes as estradas que levam à Rússia e cercar definitivamente Lugansk", afirma um comunicado do Exército nesta terça.
Em Donetsk, outro reduto dos insurgentes, explosões foram ouvidas durante a madrugada. As autoridades de Lugansk denunciam uma situação crítica há 10 dias: a cidade está sem energia elétrica e água corrente. Alimentos e gasolina estão cada vez mais escassos.
O Exército ucraniano anunciou ter atacado na segunda-feira territórios controlados pelos separatistas, com a destruição de três postos inimigos e "duras perdas" aos insurgentes.