Existem algumas obviedades que precisam ser ditas. Um governo integrado majoritariamente por políticos acusados e investigados por corrupção é um governo conivente com a corrupção, para dizer o mínimo. Não que se esperasse algo diferente de Michel Temer, mas a montagem do ministério superou as piores expectativas. São sete ministros na lista da Odebrecht, três citados em delações premiadas e um que já é investigado na “Lava Jato”. Ao todo, doze ministros são alvo de investigações diversas.
Cito três, por conta da importância das pastas que ocupam e pelo peso das acusações contra eles. O ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB), responsável por coordenar as ações e apontar um sentido para os demais ministérios, sintonizando todo o governo com a política econômica, é investigado pelo STF na “Lava Jato” por desvio de recursos federais e falsidade ideológica.
Nos Transportes está Maurício Quintella (PR), que será responsável pela implementação do grosso das concessões de infraestrutura (estradas e aeroportos). Ele já foi condenado em primeira instância por envolvimento no esquema que desviou R$ 133 milhões da merenda escolar de Alagoas.
E o ministro da bilionária pasta da Saúde é Ricardo Barros (PP), investigado pelo STF por direcionamento de licitação de publicidade quando era prefeito em Maringá, no Paraná.
Outra obviedade que precisa ser dita: Temer, com seu ministério, repete os pecados de Dilma e Lula. Rifa as pastas entre a base de apoio no Congresso, entregando-as de porteira fechada a partidos como PR, PP, PSD, DEM e o próprio PMDB, que sabidamente se transformaram em máfias especializadas em desvio de dinheiro público.
Temer não fez diferente de sua antecessora e frustra aqueles que apoiaram o impeachment por conta da corrupção no governo petista. Quem duvida que os crimes do passado voltarão a acontecer? Ou vocês acreditam que pessoas como Mendonça Filho (DEM) na Educação, Helder Barbalho (PMDB) na Integração Nacional ou Osmar Terra (PMDB) no Desenvolvimento Social estão genuinamente interessados em promover eficiência e lisura nas ações do governo?
Vejam que situação: a Usiminas está em pleno processo de renegociação de suas dívidas com os bancos e de um aumento de capital de R$ 1 bilhão. Precisa urgentemente da aprovação de uma extensa agenda de detalhes pelo Conselho de Administração para dar prosseguimento ao seu plano de salvação financeira. No entanto, o conselho está proibido de se reunir por conta de uma decisão da juíza Luciana Raquel Tolentino de Moura, do Tribunal Regional Federal do Distrito Federal, reafirmada na semana passada. A Usiminas deu entrada com ação em Brasília para impedir a participação nas reuniões de dois membros do Conselho, representantes de sua concorrente CSN.
Enquanto a juíza analisa o pedido, suspendeu por tempo indeterminado as reuniões, o que no final das contas foi pior para todos. Não agradou nenhum dos contendores: nem Nippon Steel, nem Ternium/Techint, nem CSN.