Já tive a oportunidade de falar, numa coluna passada, sobre a questão dos recalls e como eles são cada vez mais inevitáveis na vida de um proprietário de veículo, o que tem o lado bom (é um sinal de respeito ao consumidor) e outro bem menos (significa que motorista e demais ocupantes podem ter passado por riscos sérios à própria integridade). Isso quando há tempo suficiente para corrigir o problema – nunca é demais lembrar a mais de uma centena de acidentes fatais ligada a falhas nos airbags da japonesa Takata, que provocou a maior chamada às concessionárias da história do automóvel em todo o mundo. As convocações para reparos têm sido tão constantes que ficava difícil estabelecer uma realidade clara do fenômeno. Coisa que, felizmente, fizeram os dois órgãos que têm por função zelar pelo cumprimento das leis (o Ministério da Justiça) e pelo bom andamento do trânsito e das ações por sua segurança (o Ministério das Cidades), elaborando um boletim que, na verdade, é um grande retrato dos recalls no mercado brasileiro nos últimos três anos e meio – o levantamento leva em conta os dados até junho de 2016. Antes de mais nada, chama a atenção a curva ascendente no número de ocorrências, que saltaram de 70, em 2013, para 114, em 2015, muito embora o mercado tenha encolhido no período. Há dois anos, nada menos que 43% dos veículos que deixaram as linhas de montagem foram obrigados a retornar à concessionária, número bastante preocupante. E os campeões em problemas no período, como não poderia deixar de ser, foram os airbags (26%), seguidos pelos freios (17%) e pelo sistema de combustível (16%). Três componentes cuja eventual falha traz riscos graves aos ocupantes. E há uma estatística interessante que ajuda a mostrar a capacidade das montadoras de se blindar do problema – em conjunto com os fornecedores das autopeças, é lógico. Com base no total de chamados, o documento estabelece o tempo médio que os produtos de cada fábrica levam até o "inevitável" recall. De forma até certo modo esperada, quem está melhor na fita são os japoneses: Toyota (7 anos e 5 meses), Nissan (7 anos e 4 meses) e Honda (automóveis), com 7 anos e 1 mês. Na prática, apenas o segundo ou terceiro proprietário terá o trabalho de voltar à revendedora. Fiat (4 anos e 9 meses) e Hyundai/CAOA (4 anos e 2 meses) apresentam números bastante razoáveis, enquanto Peugeot/Citroën (2 anos e 7 meses), Volkswagen (tanto mais com o Dieselgate), com 2 anos e 6 meses; GM (2 anos e 1 mês) e, especialmente Ford (1 ano e 5 meses), derrapam feio. Tudo bem que estamos falando de uma média mas, na soma de fatores para levar em conta para comprar um carro zero, é sempre um fator importante.