Após duas tentativas de licitação fracassadas e cinco anos de atraso, o reitor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Walter Albertoni, pretende assinar no apagar das luzes de seu mandato o contrato para a construção do prédio principal do câmpus de Guarulhos. O novo edital teve aumento de 26% e a obra deve custar R$ 58 milhões. A contratação neste momento atrapalha, dizem professores, o debate sobre a possível mudança do local do câmpus.
Três empresas entregaram na segunda-feira (26) o documento para habilitação, o primeiro passo para a construção do prédio. Caso a documentação atenda às especificações que a universidade exige, os envelopes com os valores serão abertos. Em agosto, um edital de R$ 46 milhões fracassou porque nenhuma empresa apresentou interesse oficialmente. Depois do esvaziamento, a reitoria as convidou para debater alterações - o que havia ocorrido na primeira vez em que o edital para a obra não foi para frente.
Segundo o reitor, conduzir o processo para a construção do edifício é prioridade de seu mandato, que vai até fevereiro. "Caso o processo de licitação ocorra sem intercorrências, a contratação será realizada ainda nesta gestão", afirmou, em nota. Em audiência pública, neste mês, ele declarou que a Unifesp continua em Guarulhos, a despeito do debate entre os professores.
O câmpus de Guarulhos, que abriga a Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (EFLCH), foi inaugurado em 2007. Desde então, alunos, professores e funcionários aguardam infraestrutura adequada. Neste ano, alunos fizeram greve de cinco meses para exigir melhorias.
Isolamento
A unidade fica no Bairro dos Pimentas, periferia de Guarulhos. Em agosto, um grupo de professores encaminhou à reitoria um dossiê exigindo a saída da escola do local. O documento diz que a unidade é isolada geográfica e culturalmente, além de não acrescentar nada ao bairro, como revelou o Estado.
Além de dificultar o acesso, colaborando para os altos índices de abandono dos cursos, a localização prejudicaria as pretensões de excelência que constam no projeto pedagógico da escola.
Após o dossiê, a congregação da escola aprovou a criação de uma comissão para debater a permanência. Foi aprovada uma consulta a alunos, professores e funcionários. O início da construção do prédio, porém, pode tornar o debate inócuo, pois consolidaria de vez a escola nos Pimentas.
Para o professor Glaydson José da Silva, diretor da EFLCH e presidente da Comissão que discute a Unifesp nos Pimentas, a assinatura do contrato atrapalha. "O reitor nunca acolheu a discussão sobre a permanência, por isso deu continuidade ao trâmites", diz ele. Alguns professores defendem uma saída parcial dos Pimentas. "É determinante que se esclareça: o que está em questão é a permanência da EFLCH e não da Unifesp em Guarulhos."
O professor de Filosofia Juvenal Savian ressalta que cabe à unidade definir sobre seu futuro. "A atitude (de assinatura do contrato) não reconhece o fato ético-político legitimamente criado pela Congregação da EFLCH." As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
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