O comitê anticrise que monitora o Sistema Cantareira pediu para a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) apresentar um plano detalhado com alternativas do volume de água a ser retirado da principal fonte de abastecimento da Grande São Paulo até o fim do ano para diferentes níveis de armazenamento. Nesta terça-feira, 19, o manancial estava com 14,9% da capacidade, novo recorde negativo.
O objetivo do grupo comandado pela Agência Nacional de Águas (ANA) e pelo Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE), gestores do sistema, é planejar o uso do chamado "volume morto" do Cantareira, cerca de 300 bilhões de litros que ficam no fundo dos reservatórios, para evitar o colapso do manancial.
A Sabesp começou na segunda-feira, 17, as obras necessárias para captar 200 bilhões de litros armazenados abaixo do nível das comportas nas Represas Jaguari e Jacareí, em Bragança Paulista, e Atibainha, em Nazaré Paulista. Segundo a companhia, a conclusão está prevista para maio e o "volume morto" seria suficiente para abastecer a Região Metropolitana de São Paulo por quatro meses, a partir do início da operação.
De acordo com o comitê anticrise, a medida seria necessária a partir de julho. Conforme o Estado antecipou na segunda-feira, o grupo estima que o chamado "volume útil" - armazenado acima das bombas - se esgote em julho, mês da Copa do Mundo.
Em nota oficial, a Sabesp informou que segue a determinação dos órgãos reguladores do Sistema Cantareira e vai apresentar o plano recomendado pela ANA e pelo DAEE assim que ele for concluído.
Seca
Em relatório divulgado hoje, o comitê anticrise aponta que, mesmo com a redução do volume de água retirado pela Sabesp em março, a quantidade de água que entrou no sistema está bem abaixo da registrada em 1953, que até este ano tinha enfrentado a pior seca da história e, por isso, serviu de parâmetro para as simulações de vida útil do Cantareira.
No papel, o grupo manteve como previsão de esgotamento do "volume útil" do Cantareira o mês de agosto, apresentado como o pior cenário no relatório fechado há um mês. Mas fontes ligadas ao comitê reiteraram que, se mantida a média de água que entrou no sistema este mês, e a retirada pela Sabesp para a Grande São Paulo, e para as cidades da região de Campinas, o nível dos reservatórios seca um mês antes.
As perspectivas ficaram mais pessimistas porque o déficit na conta entre o volume que entra e sai do manancial é de 3,9 mil litros por segundo em relação à simulação anterior. Para se ter uma ideia, o volume é superior à vazão que hoje é liberada para abastecer os cerca de 5,5 milhões de moradores da região de Campinas.
Desde janeiro deste ano, a quantidade de água que entrou nos reservatórios do Sistema Cantareira corresponde a 15% da média histórica, mesmo com a volta das chuvas neste mês. Em 1953, o pior índice foi o de janeiro: 39%. Naquele ano, a vazão média de água que abastecia as represas oscilou entre 24,5 mil litros e 26,7 mil litros por segundo no primeiro trimestre. Em fevereiro deste ano, a vazão foi de apenas 8,5 mil litros e neste mês estava em 14,1 mil litros até ontem.
Por outro lado, no mesmo período a quantidade de água liberada para abastecer cerca de 14,3 milhões de pessoas das Regiões Metropolitanas de São Paulo e Campinas foi de 29,7 mil litros por segundo, ou seja, déficit de 14,5 mil litros por segundo. O pior é que até agora nenhuma das medidas anunciadas pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB) foi suficiente para brecar a queda do "volume útil" do Cantareira, que estava com 21,9% da capacidade no início de fevereiro, quando começou o plano de bônus para quem reduzir o consumo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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