(Foto: Porsche/Divulgação)
Nenhum outro carro foi tão vitorioso nas pistas como o Porsche 911. O esportivo alemão venceu tudo que competiu, de provas de turismo a disputas de rali. Mas o carro que abriu caminhos para o Nine Eleven se tornar um mito dentro e fora das pistas foi o 904.
Depois de abandonar a Fórmula 1, a marca do doutor Ferdinand decidiu que iria se dedicar às competições de turismo e endurance. Mas ela levou ensinamentos como o uso do motor central traseiro. Claro que a Porsche sempre adotou motores traseiros, desde o primeiro exemplar do 356, mas deslocar o bloco para uma posição central, antes do eixo posterior garantiu melhor distribuição de massa e consequentemente melhor estabilidade.
A primeira aposta foi com o 718, um bólido aberto de corridas, com motor central traseiro. Receita que hoje é adotada no 718 Boxster e Cayman. Mas a Porsche queria se tornar referência nas provas de Gran Turismo. E foi aí que ela projetou o 904, que seguia as exigências do regulamento da FIA para as provas da Classe GT3.
A Porsche precisava de algo totalmente diferente e foi ver o que a concorrência andava aprontando. No final dos 1950, a Ferrari já era a Ferrari e tinha se tornado soberana na F1 e nas provas de endurance, com cinco vitórias nas 24 Horas de Le Mans e ainda venceria novamente em 1964.
No ano de 1963 a Ferrari já tinha desenvolvido seu GT de acordo com o regulamento, o 250 P tinha o conhecido V12 Colombo montado atrás do habitáculo, que venceu em Le Mans e venceria novamente na classe principal em 1964.
Mas a Porsche queria correr na GT3, onde a Ferrari construiu o 250 LM, que seria o rival a ser batido. Assim como o italiano, o Porsche 904 tinha desenho agressivo, com frente bastante pontiaguda, com balanço dianteiro alongado com uma bolha comprida para emoldurar os faróis. O habitáculo era compacto e logo atrás um imenso capô que se fundia com os para-lamas e traseira.
Era ali que a Porsche instalou o conhecido bloco seis cilindros boxer, do 911. Naquela época o motor tinha apenas 2.0 litros de deslocamento, mas capaz de entregar 198 cv, combinado a uma caixa manual de cinco marchas.
Pode parecer pouco, mas o motor era leve assim como a carroceria e entregava uma performance invejável ao 904, capaz de acelerar de 0 a 100 km/h em 6,0 segundos e máxima de 260 km/h.
904 Carrera GTS
Para poder colocar o carro na pista, a Porsche precisou construir uma centena de carros para atender o regulamento, uma vez que os GTs derivam de carros de produção. Ao todo foram 106 unidades, mas reza a lenda que os pedidos foram muito maiores e o carro saiu da linha de montagem com status de raridade e uma valorização assombrosa. Hoje, um exemplar pode custar algo em torno de US$ 2,5 milhões (R$ 12,3 milhões).
A versão de rua era equipada com as tradicionais rodas Fuchs, que já eram utilizadas no 911, com aro de 15 polegadas. Por dentro, o 904 tentava se disfarçar de carro de rua. O uso de acabamento em couro nos espremidos bancos tipo concha, assim como o encosto de cabeça fixo na estrutura imprimiam um pouco de garbo ao carro.
Mas ele carecia de qualquer refinamento. As janelas não tinham vidros que subiam ou desciam, apenas uma parte deslizava para trás e uma abertura auxiliava na refrigeração. Se em 1966, os primeiros clientes do Lamborghini Miura reclamaram da claustrofobia dentro do Lambo, certamente porque não deram uma volta no 904.
Legado
O 904 não teve a mesma notoriedade que o 911 nas provas de GT, mas serviu de base para o desenvolvimento e aperfeiçoamento dos Porsche com motores centrais, reinado que teria início em 1970, com a primeira vitória nas 24 Horas de Le Mans e que até hoje não foi superada.