Lendas do Automobilismo: em 1936, o Auto Union Type C riscava o asfalto a 340 km/h

Marcelo Ramos
miramos@hojeemdia.com.br
26/08/2016 às 14:34.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:33
 (Audi/Divulgação)

(Audi/Divulgação)

Reza a sabedoria popular que nos momentos de crise surgem as melhores oportunidades e soluções. E se existe uma prova material desse pensamento, certamente é o Auto Union Type C “Flecha de Prata”, que ajudou a consolidar dois dos principais nomes da indústria automotiva: Audi e Porsche. 

A quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, provocou um rombo na economia mundial e impactou fortemente a Alemanha. Foi nessa época que alguns fabricantes locais resolveram se unir para fundar a Auto Union. Audi, Horch, DKW, Wanderer criaram o grupo que deu origem ao emblema das quatro argolas, que hoje representa a Audi. 

Assim como hoje, naquela época uma das melhores formas de promover um fabricante de automóveis era na pista. E se atualmente há diversas categorias para disputar, na década de 1930 a melhor vitrine eram os Grand Prix que tinham Alfa Romeo, Bugatti e Mercedes-Benz como principais competidores. 

Uma mão lava a outra
No início da década, Ferdnand Porsche estava desempregado e o escritório dele, especializado em carros de corrida, não andava bem das pernas. Na verdade, não tinha um cliente sequer. A Auto Union precisava de um carro de competição para promover a marca e convidou o engenheiro austríaco para desenvolver o bólido.

Porsche tomou como base o projeto do Benz Tropfenwagen, de 1923, que utilizava motor central (montado entre os eixos) e carroceria aerodinâmica. Para reduzir gastos a Porsche decidiu instalar o motor atrás do cockpit, pois dessa forma motor e diferencial estariam juntos e não seria necessário um eixo cardã para tracionar as rodas.

Para angariar fundos, os executivos bateram na porta do então chanceler Adolf Hitler e pediram dinheiro para construir o carro. Para convencê-lo disseram que o carro iria elevar o moral do povo alemão, afundado num abismo financeiro.

O primeiro protótipo Type A ficou pronto em 1934 e era equipado com um sofisticado V16 4.4 de 295 cv, que fazia o “Flecha de Prata” atingir a máxima de 252 km/h. Mesmo assim, não era capaz de superar a Mercedes e muito mesmo a Alfa “Bimotore” projetada por Enzo Ferrari.

O Type C
Com o patrocínio do governo, Ferdinand Porsche voltou à prancheta para evoluir o carro, começando pelo motor. Porsche elevou o deslocamento do V16 que saltou de 4.4 para 6.0 litros e instalou novos carburadores que fizeram com que a potência saltasse para 520 cv. A carroceria também foi lapidada para reduzir o arrasto e o Type C era capaz de atingir 340 km/h, um absurdo para a época. 

O Type C permitiu que o alemão Bernd Rosemeyer conquistasse o título europeu de pilotos em 1936, em campanha irretocável. No entanto, o mesmo carro que levou Rosemeyer ao estrelato também tirou a vida dele dois anos depois. 

O piloto participava de uma bateria de testes com uma versão com carroceria aerodinâmica e se acidentou após quebrar o recorde de velocidade, alcançando a marca de 432 km/h numa autobahn próximo a Frankfurto. Antes de a Segunda Guerra estourar, a Auto Union ainda criou o Type D, que teve como piloto o italiano Tazio Novulari, que correu pela marca até 1939.

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