Mambembe, sem coletivas e com apresentações sem acesso aos veículos, Salão do Automóvel voltou do jeito que deu

(Foto: Marcelo Jabulas)
O Salão Internacional do Automóvel de São Paulo é o principal evento automotivo deste lado debaixo do Equador. Afinal, o Brasil ainda é um dos principais mercados globais.
Mesmo assim, a feira paulistana não ficou de fora do movimento de enfraquecimento dos salões. Fabricantes decidiram se debandar destes encontros. E os argumentos são plausíveis: muito investimento para visibilidade fragmentada.
Quem quisesse se destacar tinha que construir um estande titânico. Quem não tinha dinheiro era obliterado. Assim, as marcas passaram a apostar em ações próprias, sem concorrência.
Mas o Salão do Automóvel é legal para o público. Num mesmo espaço dá para ver o que toda indústria está aprontando. Mesmo que as mostras não sejam comerciais, apenas institucionais, dá para se ter uma noção comparativa do que se poderá escolher num futuro próximo.
E depois de muitos tropeços, o salão voltou. Mas voltou diferente, com estandes de medidas padronizadas. Fator que, de acordo com a boca miúda, desagradou marcas que se ausentaram, pois não teriam espaço suficiente para mostrar tudo que queriam.
Quem resolveu encarar precisou se adaptar e se espremer. Mas espremidas, de verdade, foram as apresentações.
Sem as contumazes coletivas, em que a imprensa corre de estande para estande, este ano as apresentações foram no palco, do teatro anexo do pavilhão de exposições do Anhembi.
Cada marca poderia levar até três carros, um de cada vez. Mas não poderiam exceder o limite de peso suportado pelo palco. Assim, muitos modelos eletrificados como GWM Tank 700 e Denza B5 precisaram ser mostrados rapidamente no foyer do teatro.
Carros do salão
O primeiro dia de coletivas ficou marcado pelo anúncio do Renault Koleos. O SUV grande finalmente chegará ao mercado, depois de uma promessa de quase 10 anos. Eletrificado, o grandalhão faz parte da fase premium da francesa no Brasil.
Já sua sócia, Geely, revelou a versão híbrida do SUV EX5, que será produzido na planta de São José dos Pinhais (PR). A chinesa comprou cerca de um quarto da participação nacional da Renault. O enlace também permitirá o lançamento de novos produtos eletrificados com emblema francês.
Depois disso, o primeiro dia foi dominado pelas marcas asiáticas. A dupla chinesa Omoda & Jaecoo apresentou rapidamente os modelos Jaecoo 5 e 8, para completar a gama. Eletrificados, a dupla estreia em 2026 para ampliar a oferta de SUVs de luxo chineses.
A GWM também trouxe novidades para testar o público, como a minivan Wey G9 (que testamos na China) e o imenso Tank 700. A dupla não pode subir no palco pois têm mais de 3 toneladas de peso.
A Honda aproveitou para levar o novo WR-V ao salão. O SUV compacto chegou para se posicionar abaixo do HR-V e aposta em preços "tentadores" a partir de R$ 146 mil.
Mas a grande sensação da japonesa foi o anúncio do novo Prelude. O cupê volta ao mercado, agora eletrificado. Lindo, o carro conta com conjunto híbrido de 205 cv.
Já a sul-coreana Kia trouxe o Sportage reestilizado, assim como a nova geração do Sorento, com mecânica diesel. Mas a sensação foi a feiosa picape Tasman, que colocará Seul no segmento de caminhonetes por aqui.
A Toyota também se fez presente, com o inédito Yaris Cross. O SUV, rival declarado do WR-V, chega com motorização eletrificada e preços que vão de R$ 161 mil a R$ 190 mil.
Já a Caoa Chery revelou o Tiggo 9, outro modelo que conferimos de perto na China. O SUV grandão chegará para ser o topo de linha da marca e sete lugares, num degrau acima do Tiggo 8.
Outra novidade da sino-brasileira foi o Tiggo 5X reestilizado. É a segunda intervenção do compacto, que ganhou frente redesenhada, detalhes laterais e novas lanternas.
Apresentação em bloco
No segundo dia de coletivas, a Stellantis dominou a manhã do teatro Celso Furtado. A Jeep abriu os trabalhos como o Avenger estourando uma vidraça. A entrada triunfal remete ao mesmo feito realizado em 1992, no salão do Detroit, com o Grand Cherokee como protagonista.
A Fiat apresentou (pelo telão) o conceito Dolce Camper. Um utilitário de formas quadriculadas, que faz parte da nova identidade visual. Era esperado que sucessor do Argo (Panda) fosse revelado, mas no pavilhão, a marca preferiu mostrar o elétrico 600 Abarth (que o HD Auto conferiu na Itália).
As francesas Peugeot e Citroën aproveitaram seu tempo para mostrar os europeus 3008, agora com carroceria cupê, e C5 Aircross. A dupla se posicionou no segmento médio e veio para testar a reação do público.
Já a Ram reforçou a estreia da picape Dakota. A prima rica da Fiat Titano é a grande aposta da Stellantis para se consolidar no segmento de picapes médias.
E por fim a Leapmotor, confirmou a produção na planta de Goiana (PE). A marca chinesa, sócia da Stellantis, terá modelos montados aqui por meio de kits enviados da China.
A Caoa subiu novamente ao palco para anunciar a Caoa Changan. Ela apresentou a linha Avatar. A BYD também aproveitou seu espaço para anunciar a marca Denza, que será o braço de luxo da chinesa. A também chinesa MG (que era britânica) mostrou mais uma vez o roadster elétrico Cyberster.
Carro alegórico
Uma das grandes expectativas do dia seria a coletiva da Lecar. A marca brasileira do empresário Flávio Figueiredo Assis (o Elon Musk brasileiro), disse que apresentaria um protótipo finalizado.
No entanto, levou mockup feito de gesso e madeira, sobre "patins", aqueles carrinhos usados para manobrar carros para reboque. Sem discurso pronto, o empresário disse que o projeto de sua fábrica está pronto e que terá teto mais resistente que o da Toyota.
A infeliz comparação se deve ao temporal que destelhou a planta japonesa em Porto Feliz (SP), há menos de dois meses e atrasou o cronograma de lançamento do Yaris Cross.
Mas a gafe da Lecar não foi a única, a GAC que deveria ter subido ao palco na tarde do dia 19, cancelou a apresentação. A justificativa da assessoria seria problemas técnicos. No entanto, fontes disseram que o voo dos executivos chineses atrasou e eles faziam questão de participar. Dessa vez foram os anéis e os dedos também.