SMURF ELÉTRICO

Testamos o Renault Zoe E-Tech, que é bom tem tudo, menos num detalhe

Marcelo Jabulas
@mjabulas
08/04/2023 às 09:20.
Atualizado em 10/04/2023 às 21:22
 (Marcelo Jabulas)

(Marcelo Jabulas)

A percepção e valor do consumidor brasileiro se mede pelo tamanho (sem piadas de quinta séria, por favor). Mas é fato, um carro grande pode ser caro, um compacto não. Tudo bem que nos dias de hoje tudo é caríssimo. Mas fato é que compactos qualificados não têm muita chance por aqui, a não ser que venham com um logotipo premium na grade. E olhe lá.

É o que acontece com o Renault Zoe E-Tech. Um carrinho espetacular. Certamente o melhor Renault que guiei depois do saudoso Sandero R.S. e da perua Mégane. Esse pequeno elétrico faz sucesso na Europa e com razão.

Trata-se de um carro bem montado, com ótimo acabamento (esqueça o você já viu, ouviu e tateou num Logan, Sandero ou Kwid). Ele é bonitinho, com design agradável sem aquelas viagens estéticas que a Renault gosta de inventar. 

E o melhor anda muito bem. Seu motor de 135 cv e 25 kgfm de torque oferece ótimo comportamento para esse compacto. Acelerações fortes e segurança numa ultrapassagem. O único detalhe é que ele é elétrico.

Ser um elétrico no Brasil ainda é um tabu. E aqui é terra dos tabus. Mas o bom que no Brasil tabus caem (e devem cair) com certa frequência. Uma hora o tabu do elétrico vai pelos ares, mesmo que a própria indústria faça um a espécie de jogo duplo para retardar a inevitável produção local.

Mas o grande problema de ser elétrico no Brasil está em três fatores: preço, autonomia e infraestrutura. Três ingredientes indigestos, afinal o consumido paga caro, tem uso comprometido e falta lugar para carregar. Não precisa ser um prêmio Nobel de matemática para gastar a grana num modelo a combustão maior e imponente. Danem-se os pulmões de Gahia. 

E o Zoe se encaixa nesse dilema, é um carro de R$ 240 mil, tem baterias para cerca de 380 km (com a regra do Inmetro cai para cerca de 250)e é um compacto. Com essa grana o consumidor leva para casa um Jeep Commander ou três (Sanderos) Stepway. Fica difícil argumentar.

Mas o Zoe não é caro por gracejo da Renault. É caro porque a tecnologia do elétrico ainda é cara. As imensas baterias custam um fortuna e por ser importado e com dólar acima de R$ 5, não dá para esperar que seja um carro barato. 

Mas vamos ao Zoe E-Tech. Esse pequeno elétrico é um dos mais equilibrados e práticos de seu segmento. O mercado conta com boas opções, mas todos eles carregam naqueles ingredientes citados acima. Quanto têm boa autonomia são muito caros. Quando são muito refinados andam pouco. E se são mais acessíveis não são refinados em nem vão longe.

O Zoe é o meio termo entre tudo isso. Tem autonomia confortável para rodar a semana sem precisar espetar na tomada. Tem ótima construção e muito conforto e seu preço flutua no fiel da balança dos elétricos. 

Volto a repetir: R$ 240 mil é um valor exorbitante para qualquer automóvel. São quase 182 salários mínimos. Ou seja não é para a esmagadora maioria dos brasileiros.

Mas, sem dúvida é um dos melhores elétricos que se pode escolher, em nosso teste ele superou os 320 km de autonomia, acima do Inmetro, mas abaixo dos testes laboratoriais divulgados pela fabricante. Mas mesmo assim,  uma boa quilometragem para quem roda em media 50 km por dia. Dá para rodar a semana toda e deixar o carro dormindo no Wallbox uma vez na semana.

E por falar em Wallbox, é necessário ter o carregador rápido em casa. A Renault vende uma tomada para rede doméstica. Mas nela é preciso dois dias para carregar as baterias de 52 kWh. Num Wallbox o tempo cai para oito horas. 

O carrinho oferece climatização digital, multimídia (com Android Auto, Apple CarPlay, quatro portas USB-A e câmera de ré). A conexão é apenas por cabo, o que pode desagradar quem já se acostumou com acessos sem fio. 

O carrinho ainda oferece acendimento automático dos faróis, sensor de chuva, monitor de ponto cego, limitador de velocidade e o piloto automático (que o motorista define a velocidade constante). Mas faltaram assistentes de condução como controle de cruzeiro adaptativo, alerta de colisão ou frenagem emergencial. Num carro de R$ 240 mil faz falta.

É definitivamente um dos elétricos mais divertidos do mercado. Pena que custa três Sanderos, que tem a vantagem de ser abastecido a qualquer hora e qualquer lugar. 

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