Uma vitória para a eternidade

Mazda 787B foi o resultado de 8 anos de evolução e consagrado em Le Mans

Marcelo Ramos
miramos@hojeemdia.com.br
23/07/2016 às 09:53.
Atualizado em 15/11/2021 às 19:59

Automóveis de competição, ao contrário de pilotos, podem se dar ao luxo de entrar para a história com apenas um único feito. Foi o que fez o Mazda 787B em 1991 ao vencer as 24 Horas de Le Mans. Das 21 corridas que participou o esporte-protótipo japonês venceu apenas uma e foi a mais importante de todas, que lhe garantiu um lugar no Olimpo do automobilismo.

O 787B foi o quinto protótipo desenvolvido pela Mazdaspeed, divisão esportiva da Mazda, para provas de longa duração. Desde 1983 a marca apostava num bólido equipado com motor do tipo Wankel, que utiliza rotores triangulares de pistões e bielas deslocadas paralelamente por um virabrequim. A obsessão pelo formato de propulsor tinha uma explicação: desde 1978 a marca japonesa vendia o esportivo RX-7 que utilizava pequeno Wankel de dois êmbolos de 1.2 e 1.3 litro.

Visibilidade

Para a Mazda, ter um bom desempenho nas pistas é essencial para comprovar que o conceito de motorização pode ser tão eficiente como os motores e linha, em V ou contrapostos (boxer). E depois de sete anos a marca chegou ao 787, que estreou nos 1.000 Km de Fuji.

O carro era uma evolução do 767, mas com mudanças na posição dos radiadores, deslocados das laterais para a parte frontal, assim como a adoção do novo motor R26B com quatro cilindros detonados por três velas cada, que desenvolvia 940 cv, mas era limitado a 700 cv para provas de longa duração.
A razão era que o excesso e potência comprometiam a eficiência do carro, exigindo mais reabastecimentos e desgastes de pneus e freios, que não compensariam o ganho de velocidade. Completava o conjunto uma caixa de cinco marchas, fornecida pela Porsche.

Apesar de muito superior ao 767, o 787 não teve bom desempenho em 1990. No ano seguinte, a Mazdaspeed modificou o carro, alongando o entre-eixos em cerca de 22 milímetros. Pode parecer pouco, mas ajudou na melhor distribuição dos componentes e, consequentemente, no equilíbrio do carro. Outra inovação foi a modificação dos dutos de admissão de abertura variável e gerenciados por uma central eletrônica.

Assim, mais duas unidades foram construídas como 787B, além de atualizar as outras duas unidades do 787. Os 787B estrearam nos 430 Km de Suzuka e tiveram resultados medianos, porém animadores, o que colocava o time confiante para Le Mans.

A prova

A Mazdaspeed havia se unido à famosa escuderia francesa Oreca e o trio de pilotos do carro número 55 era composto pelo alemão Volker Weidler, o britânico Johnny Herbert e o belga Bertrand Gachot.Já o carro 18 contava com o irlandês Dave Kennedy, o sueco Stefan Johansson e o brasileiro Maurizio Sandro Sala.

Com 830 quilos e 700 cv e uma carroceria muito bem equilibrada, o carro 55 terminou a prova após 362 voltas e 4.922 quilômetros percorridos, com duas voltas de vantagem do todo poderoso Jaguar XJR-12, número 35, que tinha como um dos pilotos o brasileiro Raúl Boesel.

Os Jaguares ainda conquistaram a terceira e quarta posições, tendo o Mercedes-Benz C11 em quinto e o 787B de Sandro Sala terminando em sexto lugar. Já outro 787, da primeira safra, terminou em oitavo.

A vitória impactou nas vendas da marca no mercado europeu, onde o roadster MX-5 (Miata), que chegou a ser importado para o Brasil, fazia bastante sucesso e a Mazda construiu mais uma unidade. No entanto, reza a lenda que a marca não soube explorar a glória em Le Mans e faturar em cima da conquista. A japonesa até chegou a desenvolver um novo carro, o RX-792P, com base na atual geração do RX-7, em 1992, mas o projeto foi cancelado.

Mas o que realmente importa é que Mazda 787B foi o único carro japonês a vencer na categoria principal das 24 de Le Mans e até hoje o protótipo é levado para exposição em eventos como a própria corrida francesa e demais encontros automobilísticos.

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