Venda de peixes cai em 70% durante piracema

Jornal O Norte
04/01/2011 às 09:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 17:19

Janaína Gonçalves


Repórter

Desde o dia 1º de novembro ao final de fevereiro de cada ano, os pescadores das cidades ribeirinhas convivem com o período da piracema, mais conhecida como subida de peixes, quando desovam e se alimentam.




Piracema: sinal de prejuízo para quem


vive da pesca nas cidades riberinhas



 

A piracema coincide com as chuvas, portanto é comum perceber que o rio enche de forma assustadora, sem contar com as sujeiras. Deparar com galhos, além de produtos recicláveis e até mesmo animais sendo levados pelas correntezas, principalmente no Norte de Minas, é natural nesta época.

O Norte esteve no município de Pedras de Maria de Cruz para conferir de perto esta fase. Ao deparar com o rio São Francisco, arbustos e a cor verde escura que dão um tom característico ao rio foram substituídos pela água barrenta de cor rosada, que se mistura e carrega o que vê pela frente.

Ao conversar com um pescador que, há 22 anos, convive com esta realidade, Gercino Evangelista Souza, ele relata, com tristeza, sobre a situação do rio.

- O ano de 2010 foi razoável para a pesca, porque choveu pouco e o rio não encheu. A cada ano, percebo que tem sido mais difícil isso – conta.




PESCA ILEGAL

A falta de fiscalização e de conscientização dos pescadores contribui para a escassez de peixes no período que compreende de março a outubro.




Pedras de Maria da Cruz carece de fiscalização


no período da piracema





Para Gercino Evangelista, ainda é comum ver a pesca proibida de Surubim, Dourado e Curimatá nesta época.

- Isso prejudica muitos pescadores, que querem trabalhar honestamente. É preciso uma fiscalização mais rígida, presente em todas as áreas que o rio passa, para que tenhamos maior segurança e que o nosso sustento financeiro não seja prejudicado, uma vez que há muitos pescadores fora das normas – denuncia.

Ele acrescenta que a matança de filhotes de peixes é comum no rio São Francisco.

- Os predadores usam a malha miúda (rede de pesca) de número 7 a 8, sabendo que o permitido são malha de 16 e 20. Com isso, acaba matando os peixes e diminuindo a pesca na época boa – explica.




APOIO

Para que os pescadores não fiquem prejudicados com o período da piracema, o governo federal criou o seguro-defeso para não explorarem os peixes.

- Recebo um salário mínimo por mês. Ao todo, compreende R$ 2 mil em quatro meses, mas, para isso, o pescador deve ser sindicalizado nas colônias respectivas, e possuir a carteira de pescador profissional do ministério da pesca – diz Joaquim Roberto Santos.




EXPECTATIVAS

Ao perguntar aos pescadores sobre 2011, pesca e vendas, as expectativas são as melhores.

- Ao olhar para o rio cheio, já é possível a gente perceber que, neste ano, será melhor que 2010 – comemora Joaquim Roberto Santos.

Segundo ele, as chuvas são fundamentais para que a piscicultura seja sustentada e continue dando o sustento e alimento para as famílias que vivem da pesca.

- Estou pedindo a Deus para que este ano, após a piracema, eu volte a pescar uns 300 quilos de peixe por dia – conta.

Já para Souza, apesar da falta de conscientização de grande parte dos pescadores, ainda assim espera, para 2011, uma produção maior em relação ao ano passado.

- Se continuar chovendo, teremos um retorno bem mais satisfatório neste ano – completa.

A colônia de pesca no município possui hoje 250 pescadores cadastrados.

- Com o sindicato, temos a garantia de possuir com maior facilidade a carteira profissional de pesca e a garantia de ajuda de custo durante a piracema – reforça.




ESCASSEZ

Encontrar peixe nesta época está igual a ouro. A tarefa começa cedo. Muitos pescadores passam o dia inteiro tentando encontrar pelo ou menos um peixe.

- Houve uma queda de 70% nas vendas. Comercializo uma média de cinco peixes por dia. Surubim, Dourado e Curimatá são substituídos pelo Tambaqui, mas com muita dificuldade – revela o pescador e também comerciante Gercino Evangelistas Souza.

Além disso, o quilo do produto também aumentou.

- Fora da piracema, vendo por R$ 6,00 o quilo de peixe, mas hoje estou comprando nos estabelecimentos de estoque por R $12,00.

Já para o pescador Joaquim Roberto Santos, 2010 foi um fracasso de peixe. - Tive um saldo de R$ 2.300 por ano, o que poderia ter alcançado se fosse um época boa de pesca de até R$ 6 mil por ano, mas, em 2010, houve meses de pegar somente dois peixes. Cheguei a ficar até 18 dias sem pegar nenhum – conta.




CLIENTES RECLAMAM

E a dificuldade também é sentida pelos clientes, que vão para comprar ou até mesmo para degustar o peixe à beira rio e não encontram.

- Acho que os pescadores deveriam se preparar mais para atender a clientela, uma vez que sabem que todos os anos, a piracema prejudica o comércio – afirma o aposentado, Ivani José Spagnol, de Montes Claros.

- Falta também a conscientização dos pescadores para melhor nos atender – continua.

Ele explica que, nesta época, ambos poderiam ganhar mais.

- Como cliente ao satisfazer o meu desejo de vir a uma cidade ribeirinha comer peixe e o comerciante que fatura financeiramente – comenta.

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