Janaína Gonçalves
Repórter
Desde o dia 1º de novembro ao final de fevereiro de cada ano, os pescadores das cidades ribeirinhas convivem com o período da piracema, mais conhecida como subida de peixes, quando desovam e se alimentam.
Piracema: sinal de prejuízo para quem
vive da pesca nas cidades riberinhas
A piracema coincide com as chuvas, portanto é comum perceber que o rio enche de forma assustadora, sem contar com as sujeiras. Deparar com galhos, além de produtos recicláveis e até mesmo animais sendo levados pelas correntezas, principalmente no Norte de Minas, é natural nesta época.
O Norte esteve no município de Pedras de Maria de Cruz para conferir de perto esta fase. Ao deparar com o rio São Francisco, arbustos e a cor verde escura que dão um tom característico ao rio foram substituídos pela água barrenta de cor rosada, que se mistura e carrega o que vê pela frente.
Ao conversar com um pescador que, há 22 anos, convive com esta realidade, Gercino Evangelista Souza, ele relata, com tristeza, sobre a situação do rio.
- O ano de 2010 foi razoável para a pesca, porque choveu pouco e o rio não encheu. A cada ano, percebo que tem sido mais difícil isso – conta.
PESCA ILEGAL
A falta de fiscalização e de conscientização dos pescadores contribui para a escassez de peixes no período que compreende de março a outubro.
Pedras de Maria da Cruz carece de fiscalização
no período da piracema
Para Gercino Evangelista, ainda é comum ver a pesca proibida de Surubim, Dourado e Curimatá nesta época.
- Isso prejudica muitos pescadores, que querem trabalhar honestamente. É preciso uma fiscalização mais rígida, presente em todas as áreas que o rio passa, para que tenhamos maior segurança e que o nosso sustento financeiro não seja prejudicado, uma vez que há muitos pescadores fora das normas – denuncia.
Ele acrescenta que a matança de filhotes de peixes é comum no rio São Francisco.
- Os predadores usam a malha miúda (rede de pesca) de número 7 a 8, sabendo que o permitido são malha de 16 e 20. Com isso, acaba matando os peixes e diminuindo a pesca na época boa – explica.
APOIO
Para que os pescadores não fiquem prejudicados com o período da piracema, o governo federal criou o seguro-defeso para não explorarem os peixes.
- Recebo um salário mínimo por mês. Ao todo, compreende R$ 2 mil em quatro meses, mas, para isso, o pescador deve ser sindicalizado nas colônias respectivas, e possuir a carteira de pescador profissional do ministério da pesca – diz Joaquim Roberto Santos.
EXPECTATIVAS
Ao perguntar aos pescadores sobre 2011, pesca e vendas, as expectativas são as melhores.
- Ao olhar para o rio cheio, já é possível a gente perceber que, neste ano, será melhor que 2010 – comemora Joaquim Roberto Santos.
Segundo ele, as chuvas são fundamentais para que a piscicultura seja sustentada e continue dando o sustento e alimento para as famílias que vivem da pesca.
- Estou pedindo a Deus para que este ano, após a piracema, eu volte a pescar uns 300 quilos de peixe por dia – conta.
Já para Souza, apesar da falta de conscientização de grande parte dos pescadores, ainda assim espera, para 2011, uma produção maior em relação ao ano passado.
- Se continuar chovendo, teremos um retorno bem mais satisfatório neste ano – completa.
A colônia de pesca no município possui hoje 250 pescadores cadastrados.
- Com o sindicato, temos a garantia de possuir com maior facilidade a carteira profissional de pesca e a garantia de ajuda de custo durante a piracema – reforça.
ESCASSEZ
Encontrar peixe nesta época está igual a ouro. A tarefa começa cedo. Muitos pescadores passam o dia inteiro tentando encontrar pelo ou menos um peixe.
- Houve uma queda de 70% nas vendas. Comercializo uma média de cinco peixes por dia. Surubim, Dourado e Curimatá são substituídos pelo Tambaqui, mas com muita dificuldade – revela o pescador e também comerciante Gercino Evangelistas Souza.
Além disso, o quilo do produto também aumentou.
- Fora da piracema, vendo por R$ 6,00 o quilo de peixe, mas hoje estou comprando nos estabelecimentos de estoque por R $12,00.
Já para o pescador Joaquim Roberto Santos, 2010 foi um fracasso de peixe. - Tive um saldo de R$ 2.300 por ano, o que poderia ter alcançado se fosse um época boa de pesca de até R$ 6 mil por ano, mas, em 2010, houve meses de pegar somente dois peixes. Cheguei a ficar até 18 dias sem pegar nenhum – conta.
CLIENTES RECLAMAM
E a dificuldade também é sentida pelos clientes, que vão para comprar ou até mesmo para degustar o peixe à beira rio e não encontram.
- Acho que os pescadores deveriam se preparar mais para atender a clientela, uma vez que sabem que todos os anos, a piracema prejudica o comércio – afirma o aposentado, Ivani José Spagnol, de Montes Claros.
- Falta também a conscientização dos pescadores para melhor nos atender – continua.
Ele explica que, nesta época, ambos poderiam ganhar mais.
- Como cliente ao satisfazer o meu desejo de vir a uma cidade ribeirinha comer peixe e o comerciante que fatura financeiramente – comenta.