(Wesley Rodrigues)
A procura por imóveis para compra, que representava 60% das negociações do setor até o início de 2015, deu lugar à busca pelos aluguéis, que agora são mais da metade das buscas nas imobiliárias, segundo o Raio-x FipeZap relativo ao segundo trimestre deste ano.
Dados da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) revelam que as vendas de novos imóveis no primeiro semestre do ano somaram pouco mais de 49 mil unidades, uma queda de 13,9% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Dentre os motivos estão o aumento dos juros e a restrição do crédito imobiliário, além do receio do consumidor em aderir a financiamentos de longo prazo com parcelas elevadas. Com os índices de desemprego em ascensão, compradores potenciais têm sido mais cautelosos, contribuindo para redução nas vendas.
Devoluções
Os distratos também cresceram na comparação dos últimos 12 meses. A elevação foi de 3,2%, o equivalente a mais de 47 mil devoluções de imóveis, de acordo com o estudo.
Apenas no mês de junho foram rescindidos contratos de 3.828 unidades, o que representa um aumento de 0,4% frente ao número absoluto de distratos registrados em junho de 2015.
O presidente da Comissão de Direito Imobiliário da Ordem dos Advogados do Brasil de Minas Gerais (OAB-MG), Kênio Pereira, explica que a situação atual se opõe ao boom vivido pelo mercado imobiliário até o fim de 2014.
“Em dezembro daquele ano, a cada 10 clientes que procuravam imóveis, seis pretendiam comprar e quatro alugar. Hoje, a proporção é exatamente inversa”, aponta o especialista. “Além disso, o empréstimo que era, em média, de 8,5% agora é de 10,5% ou mais”, acrescenta.
Em vantagem
O administrador de empresas Daniel Papini cogitou adquirir o próprio apartamento, mas, ao fazer as contas, constatou que, para ele, seria mais vantajoso alugar um imóvel.
“Avaliamos a viabilidade considerando também a situação econômica do país. Hoje, o valor de entrada de um imóvel por ser aplicado e, só com os rendimentos, já é possível pagar um aluguel”, explica.
Na Grande BH, profissionais do mercado imobiliário afirmam que o aumento na procura pelos aluguéis é um fenômeno comum todas as vezes em que as vendas entram em retração e que ambos os nichos são sensíveis às mudanças macroeconômicas.
“Há dois anos, 70% das pessoas que acessavam o portal Rede Habitar estavam à procura de imóveis pra comprar. Desde então, com a perda da confiança e do emprego, esses mesmos 70% que navegam pelo nosso site hoje buscam imóveis para alugar. Isso deve continuar acontecendo até que a situação econômica se resolva no Brasil”, explica Fábio Pietra, gestor da rede.
Além Disso
Nem mesmo a concentração da demanda nas locações de imóveis tem sido suficiente para provocar uma elevação de preços. De acordo com o Índice FipeZap, os preços de locação registraram queda nominal de 0,67% na passagem de junho para julho de 2016. Com isso, a variação já acumulada de –2,44% em 2016 e de –5,23% nos últimos 12 meses.
“A procura de locação por imóveis residenciais tem crescido de forma geral em todos os bairros. Desde março já percebemos um acréscimo de 20% na sondagem de clientes, no entanto, os preços não são reajustados como de costume”, comenta a corretora da imobiliária Lar Imóveis Karina de Oliveira.
Belo Horizonte tem, atualmente, o terceiro menor preço do metro quadrado para locação entre as regiões abordadas na pesquisa FipeZap (R$ 19,87), perdendo apenas para São Bernardo do Campo, onde o preço é R$ 18,87 e Curitiba, onde o metro quadrado para locação custa, em média, R$ 16,60.
“O aluguel, na maioria das vezes, anda na contramão das vendas de imóveis. No entanto, não há dinheiro circulando no mercado. O que todos esperam é que até o fim de 2017 as coisas voltem a crescer”, analisa o Diretor Secretário do Conselho Regional de Corretores de Imóveis de Minas Gerais (Creci-MG), Vinícius Araújo.