Verdade ou conseqüência? - A crise dos alimentos dá uma trégua, diz FAO

Jornal O Norte
30/05/2008 às 11:10.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:34

Valéria Esteves


Repórter

Parece que o alto preço dos alimentos vai continuar até o ano de 2017. No Brasil, a inflação já está tomando seus primeiros passos de aceleração e as críticas quanto à produção de biocombustíveis não param.

Conforme economistas, o quadro a que se encontra o País parece favorável para produção de biocombustíveis sejam eles oriundos das oleaginosas tanto quanto da cana-de-açúcar ainda mais tendo em vista o cenário econômico na qual se encontra a maior potência mundial, os Estados Unidos. A União Européia e os Estados Unidos são grandes produtores de etanol e uma queda e conseqüentemente alta nos preços dos alimentos afeta e muito o equilíbrio dessas nações, conforme vem frisando especialistas.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem conseguido rebater as críticas quanto ao aumento da área plantada de oleaginosas e cana nessas viagens pelo mundo que costuma fazer. A defesa é: temos terra, solo e condições tecnológicas e hídricas para continuar produzindo alimentos e oleaginosas para os biocombustíveis.

O fato é que a boa notícia dada pela FAO -Organização da ONU para a Alimentação e a Agricultura e a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE) em um relatório sobre as perspectivas agrícolas mundiais no período 2008-2017 é de que os preços mundiais dos alimentos cairão um pouco em relação aos níveis recordes atuais, mas seguirão elevados durante pelo menos uma década.

O documento afirma que uma vez que retrocedam de seus atuais níveis máximos, no entanto, os preços permanecerão em níveis médios maiores, a médio prazo, que na década passada.

Mas a notícia ruim é que conforme essas entidades, milhões de pessoas correm o risco de passar fome. Quase 30 países da África, Ásia e Caribe registraram protestos nos últimos meses pelos altos preços dos alimentos. No Haiti a situação derrubou o primeiro-ministro.

O relatório antecipa que os preços nominais da carne de porco e de vaca subirão 20% em 2008-2017 na comparação com 1998-2007; o açúcar branco e mascavo subirá 30%; o trigo, o milho e o leite desnatado em pó de 40% a 60%; a manteiga mais de 60% e os óleos vegetais mais de 80%.

- Os preços para a próxima década também podem ser mais voláteis que no passado, advertiram. Os pobres, e sobretudo os pobres urbanos em países em desenvolvimento importadores de alimentos, sofrerão mais, opinam FAO e OCDE.

Precisamos de mais ajuda humanitária para reduzir o impacto dos elevados preços nos países muito pobres, acrescenta o documento.

Conforme Renato Maluf, presidente do Conselho nacional de segurança alimentar e nutricional, os organismos sugeriram uma maior organização de safras geneticamente modificadas e uma reavaliação dos programas de biodiesel, que usam grãos que poderiam servir para alimentação. 

POLÍTICA DE RECUPERAÇÃO

Parte da elevação dos preços dos alimentos é uma recuperação dos preços agrícolas após longo período de queda, mas nada assegura que ela beneficiará os milhões de agricultores familiares entre os quais se registram os mais elevados índices de pobreza no Brasil.

Um dado grave e pouco destacado por Renato, é o despreparo político-institucional da grande maioria dos países para enfrentar a presente crise. Devemos assistir à reconstrução de um padrão de regulação nacional no campo alimentar entre os países com capacidade para tanto. Embora pouco provável, seria importante se essa conjuntura estimulasse a revisão do tipo de multilateralismo e de regulação comercial patrocinados pela OMC. Requerem-se formas de cooperação e apoio técnico aos países mais fragilizados para além da doação de víveres.

Em texto encaminhado à reportagem, Renato faz questão de dizer que o acesso aos alimentos, fortemente afetado pela alta dos preços de alimentos essenciais como arroz, milho, soja, trigo e lácteos deixou de ser um direito a segurança alimentar das pessoas. Essa alta também desestabiliza o abastecimento alimentar em quase todos os países do mundo. No Brasil, o Dieese registrou aumento no custo da cesta básica em 16 capitais, chegando a 29,79% em Belo Horizonte nos últimos 12 meses; de janeiro a abril deste ano, ela já atingiu 19,25% em Fortaleza. No mesmo período, em São Paulo, a Fipe apurou inflação de 4,51% e aumento de 12% nos preços dos alimentos, que chegou a 62,8% no óleo de soja.

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