(Lucas Simões/ Hoje em Dia)
Às vésperas da votação que pode cassar o mandato do vereador Cláudio Duarte (PSL), acusado de embolsar R$ 1 milhão com o esquema de rachadinha em seu gabinete, pelo menos dois parlamentares da Câmara Municipal relataram ter sofrido ameaças na noite de quarta-feira (31) para votarem contra a perda do mandato de Duarte. Segundo o vereador Jair di Gregório (PP), ele e a presidente da Casa, a veradora Nely Aquino (PRTB), foram ameaçados com áudios e vídeos enviados pelo WhatsApp.
Os veradores acionaram a Polícia Civil e solicitaram a presença de um delegado na Câmara Municipal, nesta quinta-feira (1°), para realizar um boletim de ocorrência sobre o caso. A segurança da Casa foi reforçada por equipes da Guarda Municipal e por Policiais da Unidade Metropolitana Unificada de Apoio (PUMA) da Polícia Civil.
"É uma situação chocante. Nós vamos receber uma equipe da Polícia Civil para nos atender, eu e a presidente Nely. Temos que chegar aos culpados e prender os culpados. Isso é criminoso. E vamos andar com seguranças armados porque não vamos arriscar nossas famílias", disse o vereador do PP.
Segundo o relato de Jair di Gregório, por volta das 22h desta quarta-feira (31), o vereador recebeu dois áudios pelo WhatsApo com ameaças de morte. Em uma das mensagens, um homem diz: "Quero ver você votar amanhã contra o (vereador) Cláudio Duarte. Eu vou te explodir", diz o áudio.
Ainda conforme o vereador do PP, a sua filha, de 17 anos, também recebeu diversas mensagens obscenas do mesmo número, que enviou as ameaças a Jair di Gregório. "Quando cheguei em casa, pipocou mais mensagens. Minha filha, que é modelo fotográfica, tive que excluir a conta dela do Facebook. Eles estavam querendo intimidar. Tipo assim: 'temos o telefone da sua filha'", diz o vereador do PP.
A presidente da Câmara, a vereadora Nely Aquino (PRTB), também recebeu ameaças veladas na noite de quarta-feira, através de vídeos enviados ao celular do marido dela pelo WhatsApp, pelo mesmo número que fez as ameaças a Jair di Gregório. Nas imagens, uma pessoa parece filmar, às escondidas, o filho da veradora, de 6 anos, na porta da escola.
"A presidente Nely também sofreu ameaças, estava chorando muito, inclusive, porque envolveu o filhinho dela", disse Jair di Gregório. A vereadora Nely Aquino confirmou as ameaças, mas disse que só vai se pronunciar após a sessão Plenária desta quinta-feira (1°).
Um funcionário da Casa, próximo à vereadora Nely Aquino, porém, confirmou que as ameaças à vereadora foram realizadas por um funcionário do gabinete de Cláudio Duarte.
Para o vereador Mateus Simões (Novo), as ameaças não estão relacionadas apenas ao processo de cassação de Cláudio Duarte, mas também ao pedido de cassação contra o vereador Welligton Magalhães (DC), numa tentativa de minar os processo de quebra de decoro em análise na Câmara. Magalhãs também é alvo de mais um pedido de cassação, acusado de desviar de R$ 30 milhões do legislativo municipal.
"O vereador Welligton Magalhães é parte desse problema. Eu não tenho dúvida. Por que a veradora Nely não vota hoje. Essa ameaça contra a vida e a família dela não tem sentido. Por que ela é presidente da sessão. Quem é que pode ser prejuducado pela Nely? Wellington Magalhães, que ainda não teve a denúncia contra ele feita. Não estamos falando de um fato isolado. Mas de uma articulação para derrubar os dois graves processos de cassação que temos na Casa", diz Simões.
Em Plenário, Wellington Magalhães se defendeu das acusações e atacou diretamente o vereador Mateus Simões, autor do segundo pedido de cassação contra ele na Casa. "Eu tenho uma filha de 2 anos e outra de 10 anos. O senhor me chamou de bandido, mas eu não sou bandido e vou te provar isso. O senhor deveria calçar as sandálias da humildade", disparou Magalhães.
Procurado, Claúdio Duarte (PSL) não atendeu a imprensa. Ele está presente na Câmara Municipal para a sessão Plenária desta quinta-feira (1°), mas se retirou do Plenário durante a discussão entre os vereadores.
Para a cassação de Cláudio Duarte (PSL), são necessários 28 votos dos 41 parlamentares da Casa. O voto é aberto e, se dois terços dos vereadores decidirem pela cassação, o suplente de Duarte, Ronaldo Batista de Morais (PMN), assume o mandato imediatamente, segundo resolução do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG).
Entenda
Cláudio Duarte foi afastado da Câmara Municipal no dia 2 de abril. Ele chegou a ficar dez dias preso e permaneceu fora do legislativo por dois meses, mas continuou recebendo o salário de R$ 17,6 mil. Desde o dia 13 de julho, após retornar aos trabalhos na Câmara, o vereador do PSL está sendo monitorado pela Polícia Civil, sendo obrigado a usar tornozeleira eletrônica.
O vereador do PSL foi indiciado pela Polícia Civil pelos crimes de peculato, organização criminosa e obstrução de Justiça. Ele é acusado de embolsar ao menos R$ 1 milhão com o esquema da rachadinha, entre 2017 e 2018. Segundo a denúncia da Polícia Civil, Cláudio Duarte chegou a confiscar até R$ 10 mil do salário de R$ 11 mil de apenas um funcionário, mensalmente.
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