(Flavio Tavares)
As mãos seguram firmemente o exemplar datado de 24 de fevereiro de 1988, que faz parte do acervo histórico do Hoje em Dia. Sentado no sofá da sala, o homem de 84 anos observa com atenção a manchete estampada na edição número 1: “Assassinos de Heitor ficam na impunidade”.
Algumas páginas à frente, a reportagem sobre o julgamento dos policiais suspeitos de matar o filho de 21 anos atesta: “Morte de Heitor não merece cadeia”.
Passados 25 anos, o reencontro do tenente reformado do Exército, José Heitor Cardoso, com a antiga edição faz os olhos dele ficarem embaçados pela tristeza e a voz embargada pela emoção.
A dolorida viagem pelo tempo relembra a trajetória do filho Heitor Cardoso, o Heitorzinho, cuja vida foi cruelmente interrompida. No entanto, as matérias publicadas pelo jornal trouxeram um alento para a família.
Um Inocente
O rapaz estava em um carro com três amigos. Numa ladeira do bairro Santa Inês, região Leste de BH, o veículo cantou pneu, despertando a atenção de militares.
Após perseguição, o jovem foi alvejado por um policial, em frente ao Hospital de Pronto Socorro, na mesma região.
“Covardia contra a vida de um inocente”, resume o pai. Os miliares envolvidos no caso foram julgados e absolvidos. Apesar do sofrimento causado pela impunidade, José Heitor faz questão de dizer que a execução do filho serviu para mudar a realidade da PM em Minas. “Os abusos começaram a ser coibidos. E a imprensa, principalmente o Hoje em Dia, teve papel relevante”, aponta o oficial reformado.
“Naquela época, levantei a bandeira da justiça e o jornal me ajudou a segurá-la. Desde então, uma nova PM passou a existir”.