Viagens de ônibus continuam crescendo frente a demanda oferecida pelas aéreas

Cláudio Lacerda Oliva*
turismologoali@hojeemdia.com.br
Publicado em 22/06/2023 às 07:14.
Conforme informações da ANTT, uma das explicações para o impulso às viagens de ônibus é o preço

Conforme informações da ANTT, uma das explicações para o impulso às viagens de ônibus é o preço

No atual cenário econômico e com os preços das passagens aéreas nas alturas, o brasileiro tem recorrido mais aos ônibus para viajar. Em 2022, 52 milhões de passagens foram vendidas no país para viagens em ônibus interestaduais e internacionais, de acordo com dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

O número não só é maior do que nos anos piores de pandemia como  também já superou os 25 milhões de 2019, antes de a crise sanitária interditar deslocamentos. Principalmente para rotas mais curtas como Rio de Janeiro, Curitiba, Belo Horizonte, Porto Alegre, Brasília e até Salvador, viajar de ônibus está sendo muito mais vantajoso do que viajar de avião. 

Embora existam algumas desvantagens, como maior tempo do  deslocamento, e ter de fazer paradas obrigatórias para lanchar, usar o banheiro e fazer algumas refeições ao longo da viagem rodoviária, os valores podem ser mais de 5 vezes a diferença entre o aéreo e rodoviário.

Conforme informações da ANTT, uma das explicações para o impulso às viagens de ônibus é o preço. Em 2022, enquanto a passagem do ônibus interestadual subiu 14%, a de avião avançou 23,5%. Uma em cada três passagens vendidas no ano passado tinham algum tipo de tarifa
promocional.

Se antes viajava quatro vezes por ano de avião, a historiadora Magali Bernardes, 53 anos, conta que reduziu os deslocamentos para, no máximo, dois e de ônibus.

“Opto por viajar mais de ônibus, que tem um preço mais acessível. Até meados de 2019, eu viajava muito de avião de São Paulo para Maceió e Belo Horizonte. Agora, viajo menos e procuro fazer viagens mais curtas”, conta Magali, que mora em São Bernardo do Campo (região metropolitana de São Paulo, uma das cidades integrantes do ABC). No último feriado de Corpus Christi, por exemplo, ela foi para o Rio de Janeiro de ônibus.

“Geralmente, faria uma viagem dessa de avião e gastaria uma hora. Agora, topo gastar seis horas”, afirma. A diferença é que pagaria R$ 1.100,00 de avião e o ônibus leito saiu a R$ 210,00, uma baita economia.
Letícia Pineschi, do conselho deliberativo da Associação Brasileira das  Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros (Abrati), diz que há, sim, um movimento de comparação com o preço do transporte aéreo.

“O custo-benefício da passagem de ônibus é muito atrativo. Mas não é só
isso. Há uma demanda muito reprimida durante a pandemia, da qual ainda estamos experimentando uma retomada.”

Ano passado, a categoria que mais cresceu na venda de passagens, ante 2021, foi a executiva, com 8 milhões a mais. Ela ficou muito perto de  empatar com a categoria convencional: foram 21 milhões de passagens convencionais vendidas em 2022, para 20 milhões de executivas.

Segundo Pineschi, o setor observou, no pós-pandemia, demanda vinda da camada da população com maior renda, o que não ocorria até então. Em nota, a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) diz que “as empresas aéreas estão constantemente anunciando novos voos e promoções”, mas a entidade entende que “somente a tomada de medidas estruturantes podem trazer o setor aéreo para o mesmo
patamar de preços dos anos anteriores”.

A mais urgente, segundo a Abear, é a revisão de como é cobrado o combustível usado nos aviões. Mesmo assim, as cias aéreas ainda cobram o despacho das malas, e outros serviços como marcação de assentos, aumentando e muito a tarifa final dos bilhetes, um absurdo.

Outro fator preocupante são os constantes cancelamentos de voos que acontecem sistematicamente, com explicações de problemas técnicos, que sabemos, nem sempre são verdadeiros. Precisamos urgente ter tarifas mais justas para regular o mercado. Num país continental como o Brasil, temos um grande mercado interno, que pode ajudar no crescimento real desse importante segmento, o de transportes. Temos demanda pra viagens rodoviárias e muita demanda pra viagens de avião. O que tem de haver é preço justo e serviço honesto!

* Diretor Executivo da Assimptur

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