Vinho e cerveja artesanal são fabricados com técnicas modernas em Minas Gerais

Lídia Salazar - Especial para Força do Campo
04/11/2015 às 07:57.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:20
 (Sérgio Amzalak)

(Sérgio Amzalak)

Os negócios no campo vêm passando por uma contínua revolução tecnológica com o surgimento de novas pesquisas, formas de trabalho e equipamentos, que otimizam cada vez mais as produções. Mesmo sabendo disso, foi uma grande surpresa chegar a Augusto de Lima, na região central de Minas Gerais, a cerca de 250 quilômetros de Belo Horizonte, município com população estimada de 5 mil habitantes, e encontrar equipamentos de última geração na produção de cerveja artesanal.

É a microcervejaria Balkon, do empresário Antônio Marcos de Vasconsellos, que investiu mais de R$ 1 milhão em equipamentos para a produção de cerveja. Antônio Vasconcellos trabalhava com gado de corte quando resolveu largar tudo para produzir a bebida. “Tive algumas oportunidades de ir para fora do Brasil e lá conheci muitos sabores e cervejas artesanais com uma qualidade infinitamente maior que as tradicionais produzidas aqui. Quando voltei para Augusto de Lima, resolvi fazer a minha própria cerveja, semelhante as que havia conhecido e até a testar novos sabores e aromas”, conta.

Sócio fundador da Balkon, ele comprou, então, um kit de produção caseira e começou fazendo 50 litros por mês, apenas para consumo próprio e da família. Com o tempo, os amigos e familiares foram apreciando e a demanda aumentou. O hobby passou a se tornar uma grande possibilidade de negócio.

“Mudei todos os negócios e investimentos para comprar os equipamentos que precisava. Um ou dois produtores em Minas têm a mesma tecnologia que a minha. A produção é moderníssima. A panela de cozimento, filtragem, fervura, fermentadores, caldeira, banco de gelo, banco de água quente. Tudo é controlado eletronicamente. São os mesmo equipamentos utilizados em grandes indústrias de cerveja, só que o nosso produto tem muito mais qualidade porque trabalhamos em pequena escala e buscamos produzir cervejas artesanais diferenciadas”, detalha.

Qualidade

Antônio Vasconcellos explica que, antes, os produtores tinham que cronometrar o tempo de cada fase no processo de elaboração da cerveja. Hoje, sua estrutura permite colocar a receita com os detalhamentos em cada etapa para que o próprio equipamento monitore.

“Claro que existe um acompanhamento do mestre cervejeiro, que é fundamental para a qualidade, sabor, aroma e diferenciação da bebida, mas, processos burocráticos, a própria máquina faz”, diz Antonio. A microcervejaria Balkon adota a lei da pureza alemã para produzir a cerveja pura, usando apenas os ingredientes malte, lúpulo, água e levedura. Com o lema ‘Beba menos, mas beba melhor’, o retorno das vendas já tem superado as expectativas.

Antônio Vasconcellos comercializa, atualmente, em barris que vão direto para o consumidor final e para bares dos municípios de Augusto de Lima, Corinto, Curvelo, Buenópolis, Santo Hipólito e no norte de Minas. Em sua microcervejaria São produzidos 6 mil litros por mês, vendidos em barris de 50, 30 e 20 litros, comercializados, respectivamente, por R$ 350, R$ 210 e R$ 140.

Ele desenvolve o trabalho junto com o irmão Bruno Vasconcellos e com Nilton Pedras. Os equipamentos chegaram à cidade em julho deste ano e a previsão de retorno do investimento é em torno de três anos. Além disso, a expectativa dos sócios é produzir vários tipos de cervejas. “Hoje, fazemos a Lite American Lager, por ser uma cerveja leve e refrescante, devido ao forte calor da nossa região. Ano que vem vamos iniciar a produção do tipo Ipa e Weissbier (cerveja de trigo), seguindo as padronizações mundiais”, afirma.

Para o produtor, o diferencial da cerveja Balkon é o puro malte, que garante um sabor inconfundível, refrescante e de qualidade à bebida. Os insumos usados na produção são comprados em Santa Catarina, Bélgica e Alemanha.

Vinhos 100% mineiros produzidos com insumos encontrados no Estado

Nem toda produção de qualidade precisa de insumos de fora do Estado. É o que defende a coordenadora do Curso de Vinhos da Universidade CeasaMinas (Uniceasa), Sylvia Helena Resende Simão. “Sempre falo com meus alunos da importância de valorizar o que temos no nosso estado. Conseguimos produtos de alta qualidade com insumos daqui. É muito importante que os produtores tenham essa formação acadêmica de valorizar o seu estado e região”, aconselha.

E é no município de Andradas, localizado no sul de Minas, a 460 quilômetros de Belo Horizonte, que está uma das produções de vinhos que se destacam por garantir bebidas puramente mineiras. A Vinícola Campino fabrica vinhos feitos com 100% de uvas plantadas na própria lavoura: o Casa Geraldo Shiraz e o Alma Sauvignon. Ambos são produzidos com a tecnologia de poda invertida, que foi desenvolvida por uma pesquisa da Epamig.

Conhecida também como dupla poda, essa técnica altera o ciclo natural da planta, desviando o período de maturação da uva para o inverno. O primeiro corte dos galhos da videira ocorre em setembro para formação de ramos e, o segundo, em janeiro ou fevereiro, para a produção. Isso é o que permite o surgimento de vinhos finos de qualidade no Sudeste e Centro-Oeste do país, tanto em Minas Gerais, como em Goiás e São Paulo. No Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, é feita uma poda só de produção, em agosto ou setembro.

O vinho Casa Geraldo Shiraz, da Vinícola Campino, foi premiado com medalha de ouro no 10º Concurso Mundial de Bruxelas, em 2013. É uma bebida fina, de cor vermelho rubi brilhante, escuro e profundo. Possui aromas com notas de amora, ameixa preta e especiarias. Na boca, é potente, mas equilibrado, de taninos firmes e de caráter levemente mineral. Seu amadurecimento foi apenas três meses em barricas de carvalho americano, deixando destacar ainda a lembrança de sua fruta.

O vinho Alma Sauvignon Blanc, elaborado exclusivamente a partir de uvas Sauvignon Blanc colhidas no inverno, sem passagem por madeira. Apresenta cor amarelocitrino de reflexos esverdeados e aromas de frutas brancas e cítricas mais frescas envoltos por típicas notas vegetais e herbáceas, além de toques florais, minerais e defumados.

Turistas são atraídos pela qualidade dos vinhos produzidos no Sul de Minas

Os outros produtos da Vinícola Campino são feitos com parte das uvas vindas de Caxias do Sul (RGS). “Todos os produtores de uva de Minas Gerais não conseguem atender à demanda da produção de vinho. Por isso, nós buscamos esse complemento das uvas gaúchas”, explica Leonardo Gomes, gerente da loja Casa Geraldo, em Belo Horizonte.

A Vinícola Campino foi fundada há mais de 30 anos. Na época, os vinhos produzidos eram mais simples, considerados vinhos de mesa e vendidos a granel. Com o tempo, a família Marcon, fundadora da vinícola, criou a Casa Geraldo, em 2001, com vinhos mais finos e rotulados. A vinícola e as vendas foram crescendo, a forma de produzir foi evoluindo, a demanda por outros produtos aumentou e os donos investiram cada vez mais no negócio, se especializando e modernizando sua estrutura.

Hoje, a Casa Geraldo tem três lojas, duas em Andradas e um em Belo Horizonte, e mais de 50 produtos entre vinhos, sucos, espumantes, licores e grappas. “Planejamos entrar no mercado de vinagre no próximo ano e nossa expectativa não poderia ser melhor”, revela Leonardo Gomes.

Turismo

Ele conta ainda que uma das lojas fica dentro da Vinícola Campino, que tem também um turismo enogastronômico e um restaurante. “Muitas pessoas vão para Andradas conhecer a produção, as parreiras, experimentar os tipos de uva, os vinhos nos tonéis, os espumantes. A Vinícola Campino e a Casa Geraldo são fascinantes, é um passeio e tanto”.
 

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