Zé Prates, prefeito de Salinas, lança Dilmécio para 2010

Jornal O Norte
15/05/2009 às 09:35.
Atualizado em 15/11/2021 às 06:59

Entrevista a Fabíola Dourado

José Antônio Prates, o Zé Prates (foto), nascido em Salinas, é prefeito do município no segundo mandato. Eleito em 2004 pelo PT com 7.996 votos. Reeleito em 2008 pelo PTB com 11.065.

Arquiteto e urbanista, líder estudantil perseguido nos anos 1970 pela ditadura militar, sendo obrigado ao exílio no Chile, Peru, Argentina, França e Guiné-Bissau, retornando ao Brasil em 1979, no momento da anistia. Na volta, passou a residir em Brasília-DF, onde construiu sólida carreira profissional.

Escritor, foi presidente da Academia de Letras do Distrito Federal. É autor dos livros “O Pirata Escarlate”, “Luz do Navegante”, “A Ilha do Rei”, “Neoliberalismo e Globalização – os verbetes da traição”, “Paixão e Dor” e “O Tropeiro e o Menino”.

Como prefeito, se destacou, em 2006, ao lançar o Lulécio em Minas Gerais, ou seja, defendeu a tese de que era preciso apoiar as reeleições de Lula para presidente e Aécio para governador. Ideia vitoriosa, porém que motivou sua saída do PT, partido que ajudou a fundar no início da década de 80.

Hoje no PTB, não perdeu, no entanto, espaço com o presidente Lula. Zé Prates, ao lado do prefeito de Venâncio Aires (RS), foi o único chefe de executivo municipal convidado a participar da reunião que definiu como o governo federal vai recompor as perdas do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). E saiu de lá com a sua ideia aprovada, ou seja, recomposição integral de todas as perdas com base nos valores praticados em 2008, um dos melhores anos de toda a história do FPM.

Atualmente, Prates insiste em uma nova tese para as eleições de 2010: o “Dilmécio”, ou seja, uma composição entre a ministra Dilma Roussef e o governador Aécio Neves para a sucessão presidencial. “Se o Lulécio deu certo, porque não o Dilmécio? A Dilma pode muito bem ser a vice do Aécio Neves, ou vice-versa. É só questão de acerto”, fala misteriosamente.



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– Por que um homem com vida totalmente consolidada em Brasília resolve voltar à terra natal para ser prefeito? 

- Exatamente porque é a minha terra natal. A consolidação da minha vida está aqui, embora Brasília seja um belo porto. Salinas precisou de mim e ainda precisa. Mas eu preciso muito mais de Salinas do que ela de mim. Ela é minha fonte de energia e inspiração permanente.

– Por que Salinas precisou e precisa de você?

– Porque a minha vida sempre foi ligada a uma luta contra a opressão e à dominação dos mais fracos, seja por quem fosse. Eu lutei contra a ditadura militar, porque ela oprimia o povo e em Salinas existia um modelo político que era dos coronéis, semelhante ao que combati no período da ditadura.

– Você acha que esse modelo velho está sendo desconstruído?

– Com toda certeza. Nós combatemos não pessoas, mas um modelo. Nosso discurso político foi compreendido pelo povo como uma alternativa e uma possibilidade de libertação. Nós trilhamos um caminho difícil, tortuoso, mas sempre de alinhamento com a população mais humilde da nossa terra, em todas as nossas ações de governo.

– Na prática, quais ações comprovam essa transformação?

– A mais importante delas é tratar os moradores dos bairros populares com o respeito e o carinho que eles nunca tiveram antes, embora ainda falte uma parte por fazer, mas que já está a caminho. A pavimentação das ruas foi mais que uma grande obra, foi um gesto concreto e sincero de amor e recuperação da dignidade e da cidadania do povo. Também criamos oportunidades, através das nossas obras, para o emprego digno dos mais necessitados. Melhoramos a educação e a saúde. A educação, com o Centro Solidário de Educação Infantil, que é o nosso modelo de escola. A nucleação escolar acabou com a escola multisseriada, que era uma farsa histórica. A instalação definitiva do campus da Unimontes e da Universidade Aberta do Brasil, além do Pré-Vestibular Gratuito, que já atendeu cerca de 3 mil pessoas, merecem destaque, junto com a reforma e ampliação das escolas, a construção de quadras poliesportivas, as festividades abertas ao público, o transporte escolar de qualidade. Uma revolução que fizemos na educação foi a implantação do SGI, o Sistema de Gestão Integrada, e vamos implantar também o plano de carreira, inédito em Salinas, para valorizar o profissional da educação.

- E a saúde?

– Na saúde, quando nós chegamos, só três PSFs funcionavam. Agora, temos dez. Só isso fala da nossa atenção com o povo, já que a saúde básica hoje está, principalmente, onde está o povão. Encontramos três consultórios odontológicos, hoje temos treze em pleno funcionamento. Mudamos o sistema de atendimento no hospital. Todo mundo tem atendimento ambulatorial de qualidade. A média complexidade é completamente bem resolvida.  Criamos e ativamos o Consórcio Intermunicipal de Saúde, dividindo responsabilidades e bons resultados com as cidades vizinhas. Ampliamos o número de ambulâncias, de somente duas para oito, incluindo uma unidade do Samu para os casos de urgência e emergência, uma UTI móvel.

– Zé, saindo um pouco das questões de Salinas, você que é referência hoje na política estadual e federal, o que pensa sobre as eleições de 2010 em Minas e no Brasil?

- Eu penso que chegou o momento da grande síntese para os brasileiros, que só se construirá a partir de Minas, com a participação expressiva do governador Aécio Neves, mas sem desconhecer o papel do governo Lula, representado pela ministra Dilma. O “Dilmécio” é a grande oportunidade histórica de libertação do Brasil, porque nós tivemos antes de Lula um governo de tese de estado de bem-estar, misturado com neoliberal. Depois, tivemos com Lula um estado democrático socialista de resultados, com a transferência compulsória de renda do estado para os pobres. Mas, já na segunda eleição do presidente, o povo apontava na direção de uma síntese que é o sonho popular. Eu acredito que o imaginário popular sonha esta síntese e ela deve ser o caminho do povo brasileiro.   

– O que essa síntese representaria?

– A síntese de um estado democrático verdadeiro, onde não exista nenhum tipo de instituição que se assemelhe ao estado policial. A saúde resolutiva em todos os níveis e uma educação de qualidade que contemple o projeto do Brasil e não apenas a educação pela educação. O projeto do Brasil soberano, o projeto das oportunidades. Uma reorganização da exploração do subsolo brasileiro. A ampliação das políticas de transferência de renda e geração de uma verdadeira política pública para a zona rural e o agricultor familiar. A verdadeira política de valorização do mercado interno. A reorganização do pacto federativo, com o fortalecimento dos municípios.

– Quais passos devem ser dados para que o “Dilmécio” aconteça?

– Essa síntese se dá com a conjugação das forças mais expressivas da política brasileira, desses dois momentos anteriores. Já existe uma interface política que as novas elites não querem perceber, porque pra elas interessa mais o projeto de poder do que o projeto de Brasil. Não é sequer um projeto de partido. Elas querem apenas um projeto de conquista do poder, o que nos parece o maior equívoco do momento político brasileiro.  Agora, esta síntese não se dá sem Minas. Minas é novamente o centro do equilíbrio do Brasil e nada acontecerá também sem desarticular um centro de poder econômico que desequilibra o Brasil. Minas não tem vocação para ser tutelada, da mesma forma como não deseja ser força hegemônica sobre quem quer que seja. Não há Brasil sem Minas. Para isso acontecer, o governador tem que romper com o PSDB. Não existe condição dele representar essa síntese sem ruptura. Então, eu defendo que o governador não pode se enganar com a possibilidade de ser respeitado como candidato pelas elites paulistas. Ele tem que adotar o gesto histórico de Juscelino e de Tancredo: romper com tudo e procurar o entendimento do Dilmécio ou Adil – Aécio e Dilma. 

– E quem você prefere na cabeça da chapa? Aécio Neves ou Dilma Rousseff?

– Aécio. Porque eu acho que ele teria condição de unir a força de Minas, com o espírito de Minas e o corpo do Brasil.

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