Zema e Anastasia fazem último debate antes das eleições marcado por muita ironia e ataques abertos

Lucas Simões
lsimoes@hojeemdia.com.br
25/10/2018 às 22:05.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:26
 (Riva Moreira)

(Riva Moreira)

No último debate televisivo entre os dois candidatos ao governo de Minas, promovido pela TV Globo, na noite desta quinta-feira (25), Antonio Anastasia (PSDB) e Romeu Zema (Novo) não tiveram qualquer cerimônia para trocar um arsenal de ataques e ironias, do início ao fim do confronto.

No primeiro bloco, ausente de propostas concretas para o Estado, o senador Anastasia tentou associar o imagem do empresário Romeu Zema à inexperiência política. Em resposta, Zema partiu para a ironia e acusou Anastasia de mudar seu vestuário por causa da presença do candidato do Novo na corrida eleitoral. “Já estou fazendo a diferença. Por que nos outros debates, o Anastasia ia de terno e gravata, agora, ele tirou o blazer”, provocou Zema. “Além de vendedor, Romeu Zema é um grande estilista, não é?”, rebateu Anastasia, também em tom irônico.

Fora as acusações de cunho pessoal, as fakes news vieram à tona logo nas primeiras provocações. Zema voltou a afirmar sobre supostas informações falsas divulgadas contra sua campanha. Em resposta, Anastasia questionou o adversário sobre a filiação partidária recém-divulgada de Zema — ele foi filiado ao Partido da República (PR) por mais de 18 anos — e perguntou se essa informação também seria fake news. “Nunca fui a uma reunião e nunca me fui candidato a nada. Descobri isso só quando fui me filiar ao Novo, só quando seus detetives vasculharam nossa vida”, atacou Zema.

Mais ataques, menos propostas

No segundo bloco, mesmo a partir de temas sorteados pela produção do debate, o que obrigou os candidatos a tangenciarem assuntos como segurança, atraso nos pagamentos dos servidores e déficit fiscal, as insinuações e provocações continuaram a roubar a cena.

Ao falar sobre crimes e homicídios, Zema acusou o adversário de aumentar em até 52% as taxas de assassinatos no Estado, entre 2011 e 2014. Anastasia foi incisivo em criticar o plano de governo de seu adversário. O tucano provocou Zema, ao dizer que o empresário quer “levar as empresas de segurança privada para o campo, retirando as polícias Civil e Militar do interior”. “É o governo dos ricos, autocrático, autoritário. Como se fosse um pequeno reizinho, um menino rico, mimado”, cutucou o senador tucano, em referência a Zema.

Na discussão sobre saúde, Zema questionou as obras inconclusas de nove hospitais regionais em Minas, sendo oito empreendimentos parados ainda nos governos de Aécio Neves e Anastasia, segundo o empresário. O senador tucano revidou a crítica com novo ataque ao candidato do Novo. “As obras têm que ser retomadas. Mas, meu medo é da sua gestão da saúde. Na página 40 do seu plano de governo está escrito que o Estado não é responsável pela gestão da saúde. Você quer privatizar a saúde toda”, alfinetou Anastasia.

Foco em irregularidades

Com mais ênfase ainda aos ataques, no terceiro bloco do debate, Zema e Anastasia se concentraram em trocar acusações sobre possíveis irregularidades de campanha e explorar contradições em alianças e apoios neste segundo turno.

O senador tucano questionou o adversário sobre uma investigação aberta nesta quinta-feira (25), pelo Ministério Público Federal (MPF), e divulgada pelo jornal Folha de S. Paulo, para apurar possível abuso de poder econômico da campanha de Zema. O MPF investiga se o candidato do Partido Novo usou sua rede de lojas e empresas em ao menos 41 cidades de Minas para se beneficiar na corrida eleitoral -- o que é proibido pela Justiça Eleitoral. 

“Em suas lojas, havia um boneco, e também sua foto em sua frota de caminhões, isso a Justiça entendeu como equívoco para usar suas lojas como comitê eleitoral”. Zema negou as acusações, dizendo que “respeita a decisão da Justiça, mas acha exagerada”.

Ambos os candidatos também tentaram explorar relações das campanhas com o PT. O candidato do Partido Novo tentou relacionar o apoio da deputada federal Marília Campos (PT) ao senador tucano. “Não vejo problema nenhum em um apoio, porque Marília não é o PT”, disse o tucano. 

Já Anastasia questionou Zema sobre uma doação de R$ 2 mil que uma das empresas do candidato do Novo, a Zema Cia de Petróleo LTDA, fez à campanha de Manuela d’Ávila (PCdoB), ainda em 2008, quando a hoje candidata à vice-Presidência na chapa de Fernando Haddad (PT) concorreu à prefeitura de Porto Alegre (RS). “Eu não lembro dessa doação, mas vou averiguar”, disse o candidato do Novo. A doação, porém, está disponível no site do TRE-MG, na área prestação de contas da campanha eleitoral.

Mais ironias

Nem mesmo no último bloco, Zema e Anastasia conseguiram discutir com seriedade suas propostas sobre temas como geração de empregos, gestão de obras e produção agrícola. Ainda em tom de ataques, o candidato do partido Novo acusou o tucano de deixar uma dívida de R$ 80 bilhões, junto a um déficit de R$ 9 bilhões, tentando traçar uma comparação entre a gestão tucana e o atual governo de Fernando Pimentel (PT). Anastasia retrucou o adversário. “Esses números não procedem. O déficit não existe, já foi demonstrado isso, aliás, o déficit foi de R$ 2 milhões”, rebateu o senador.

O tucano aproveitou a brecha para questionar a proposta de Zema para unificar todas as alíquotas de ICMS do Estado em apenas uma. “Hoje, a gasolina é 32%, já o leite é 13%. As alíquotas vão se igualar ou uma das duas vai custar mais caro? O mineiro fica inseguro com essas propostas”, questionou. Zema negou que pretende unificar o ICMS, mas não esclareceu qual seria sua proposta para o imposto. “Queremos alíquotas em degraus, são alguns degraus para não existir uma infinidade distinta de alíquotas diferentes”, disse Zema.

No último bloco, os dois candidatos fizeram as suas considerações finais, aproveitando para defender os modelos de gestão propostos para o Estado e também para pedir votos aos eleitores de Minas, principalmente os indecisos, que somam 8% do eleitorado até o momento, segundo a última pesquisa Datafolha, divulgada nesta quinta-feira (25). Em suas considerações finais, Zema chegou a fazer uma analogia do Estado a um pato, que, segundo o candidato do Partido Novo, "não nada direito, não voa direito, ou seja, não faz nada direito, assim como o Estado quer tentar fazer, tentando ser especialista em tudo". Até neste momento, em tom irônico, Anastasia aproveitou para cutucar o adversário, dizendo ter "muita simpatia pelos patos no reino animal".

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