‘Protagonismo’

Zema X estados do Nordeste: entenda a polêmica surgida após declarações do governante mineiro

Raquel Gontijo*
raquel.maria@hojeemdia.com.br
07/08/2023 às 12:29.
Atualizado em 07/08/2023 às 13:12
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

Governantes de nove estados do Nordeste do Brasil reagiram à fala do governador de Minas, Romeu Zema (Novo), em entrevista ao jornal Estado de São Paulo, no último sábado (5), que defendeu a formação de uma aliança Sul-Sudeste para alcançar ‘protagonismo’ econômico e político. Em resposta, Zema alegou “distorção dos fatos”.

A reportagem destaca que governadores do Consórcio Sul-Sudeste (Cossud), já se preparam e se organizaram para “dar trabalho” ao Governo Federal e atuar “em bloco” no Congresso. 

“Já decidimos que além do protagonismo econômico que temos, porque representamos 70% da economia brasileira, nós queremos – que é o que nunca tivemos – protagonismo político”, declarou Zema em entrevista ao Estadão.

Em nota divulgada neste domingo (6), o presidente do Consórcio do Nordeste e governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB), criticou as declarações de Zema e disse que ao defender o protagonismo do Sul e Sudeste, indica um movimento de tensionamento com o Norte e o Nordeste e o que político não compreende as desigualdades do país.

“É importante reafirmar que a união regional dos estados Nordeste e, também, os do Norte, não representa uma guerra contra os demais estados da federação, mas uma maneira de compensar, pela organização regional, as desigualdades históricas de oportunidades de desenvolvimento. (...)

Enquanto Norte e Nordeste apostam no fortalecimento do projeto de um Brasil democrático, inclusivo e, portanto, de união e reconstrução, a referida entrevista parece aprofundar a lógica de um país subalterno, dividido e desigual”, diz trecho da nota.

A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), usou as redes sociais para rebater a declaração do governador de Minas. 

O Nordeste deve receber atenção nas discussões federativas por tanto tempo de descaso e indiferença. Nossos pleitos não vão além do que é justo diante de uma construção histórica tão conhecida. Não construiremos o Brasil que sonhamos com mais desigualdade. (...) Se está sendo criado para diminuir as divergências regionais, precisa dar mais a quem tem menos. Ao contrário, não faria sentido existir”.

O Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste é formado pelos estados Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe, todos localizados na região Nordeste do Brasil.

Repercussão

A fala do político mineiro gerou ampla repercussão no meio político.  O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, disse que a opinião de Zema é “pessoal” dele e que participa do Consórcio do Sudeste para que ele “seja um instrumento de colaboração para o desenvolvimento do Brasil e um canal de diálogo com as demais regiões”.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, foi às redes sociais e se manifestou dizendo que “seremos todos mais fortes quanto mais formos um só Brasil”. Segundo Leite, ele nunca achou que o Norte e Nordeste haviam se unido contra os demais estados do país.

“Muito pelo contrário, a união desses estados em torno da pauta que é de interesse comum deles serviu de inspiração para que a gente possa, finalmente, fazer o mesmo. Não tem nada a ver com frente de estados contra estados”. Leite acrescentou que, caso Zema tenha dito o contrário, “não me representa’.  

Em entrevista à GloboNews, o governador do Pará Helder Barbalho, atual presidente do Consórcio da Amazônia Legal, que reúne os estados do Norte mais Maranhão e Mato Grosso, disse que é um equívoco estimular a competição entre os brasileiros das diferentes regiões.

“Nós devemos pregar a união federativa”, defendeu.

O presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) foi às redes sociais comentar a entrevista de Zema.

“Não cultivamos em Minas a cultura da exclusão. JK, o mais ilustre dos mineiros, ao interiorizar e integrar o Brasil, promoveu a lógica da união nacional”, disse. Segundo Pacheco, “Somos um só país”.  

A fala de Zema também repercutiu no governo federal. O ministro da Justiça e Segurança Pública Flávio Dino disse que “é absurdo que a extrema-direita esteja fomentando divisões regionais. Precisamos do Brasil unido e forte. Está na Constituição, no art. 19, que é proibido criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si. Ainda segundo Dino, “traidor da Constituição é traidor da Pátria”. 

Zema se defende

Na noite deste domingo (6), Romeu Zema também usou as redes sociais para se defender, dizendo que a união Sul-Sudeste não foi criada para “diminuir” outras regiões e alegou “distorção dos fatos”. 

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