(Lucas Prates)
“Fazendo uma reflexão, tenho certeza de que sou muito impaciente. Quero as coisas na hora. Depois, não serve mais”. A frase é de Ludimila Elisandra de Sousa, de 25 anos, que se autodefine – e já ficou conhecida entre familiares e amigos – como uma pessoa apressada e estressada.
Embora pareça peculiar, o comportamento dela não é único. Assim como a advogada, uma legião de pessoas têm se tornado vítimas de uma espécie de “síndrome da urgência” – desejo incontido por ter tudo no próprio tempo.
Lucas Prates
AJUDA - Ludimila ouve podcasts sobre atenção plena e autoconhecimento para ajudar a diminuir o próprio ritmo
Resultado do excesso de informações e da ansiedade, leva ao estresse, mas pode ser minimizada com exercícios diários capazes de aumentar a inteligência intrapessoal – capacidade de identificar as próprias emoções e sentimentos.
“O estresse deriva da necessidade de controlar. Quando o trânsito não anda, por exemplo, reclamamos do semáforo e buzinamos para que o outro saia da frente. O filósofo grego Epiteto já dizia: ‘Devemos nos ocupar somente daquilo sobre o que temos controle’. Essa é a chave da felicidade. É difícil conseguir alcançá-la, mas quem está relax, em tese, está melhor”, diz a psicanalista Simone Demolinari.
Ludimila de Sousa tem feito o dever de casa. Apostou as fichas em podcasts de autoconhecimento. Escutados diariamente a caminho do trabalho, os áudios ajudam a focar no momento presente e deixar de lado o costume de fazer e querer tudo ao mesmo tempo.
O resultado veio, inclusive, com bem-estar físico. “Sofria com tensões musculares e desconfortos nos ombros e pescoço, além de dores de cabeça e zumbido no ouvido. Tomar consciência de que não se deve fazer nem querer tudo ao mesmo tempo tem sido fundamental”, compartilha a advogada.
Treino de paciência
O estudante de arquitetura Lucas Valois, de 26 anos, também procurou ajuda ao identificar que estava se tornando ansioso e estressado demais por causa do imediatismo. Um dos exercícios que faz é escrever cartas para o namorado, que mora em outro Estado. “É um treino de paciência. Diferentes veículos permitem diferentes formas de comunicar. Na carta, falo de coisas que não são imediatas. A imaginação flui melhor e a comunicação fica mais morosa e afetiva”, diz.
Aprenda a praticar a respiração alternada no vídeo abaixo, com a psicanalista Ailla Pacheco:
Respiração ajuda a gerenciar emoções e controlar ansiedade
Indicação popular muito usada por quem se pega com raiva, ansioso, pronto para “explodir” a todo momento, contar até dez – e respirar – antes de reagir a uma situação pode ajudar também quem sofre da síndrome da urgência. Psicoterapeuta, professora de yoga e mestre em reiki em Belo Horizonte, Ailla Pacheco explica que inspirar e expirar pausada e profundamente ajuda no gerenciamento emocional e melhora o autocontrole.
“Nossa respiração está diretamente relacionada às nossas emoções. Em uma crise de ansiedade, as pessoas sentem os batimentos acelerados e a respiração fica ofegante. Acontecem, então, disparos do hormônio do estresse no corpo. Quando aprendemos a acalmar e controlar a respiração, prevenimos emoções destrutivas”, detalha, reforçando que um dos fatores que mais contribuem com a impaciência e, portanto, com a dificuldade em lidar com o ritmo do outro, é a ansiedade.
Tempo de cada um
A profissional reforça que à medida em que nos conhecemos e respeitamos nosso próprio tempo, nosso “relógio pessoal”, nos tornamos mais empáticos, pacientes, conscientes e compreensivos.
“A cobrança exacerbada, evidente na sociedade de hoje, é tóxica tanto para quem cobra, quanto para quem é cobrado. Ambos sofrem. Logo, quando se desperta para o processo do respeito mútuo, compreende-se com mais clareza sobre não se estar vivendo no agora, e sim, no futuro – a ansiedade –, clareando, então, o processo de autopercepção”, detalha.
Paciência
A psicanalista Simone Demolinari acrescenta que fugir do imediatismo não significa ser negligente nem deixar tudo para lá. Segundo ela, é um exercício de paciência, que deve ser ponderado e praticado individualmente. “Ser urgente pode ou não ser escolha. Mas se tiver um relógio computando, por exemplo, e a pessoa perder o tempo, o prazo, aí torna-se prisioneira de si mesma, e passa a ser um problema”, afirma Demolinari.
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