(Flávio Tavares/Hoje em Dia)
Um dia após serem proibidos de atuar no Hipercentro de Belo Horizonte e protagonizarem confronto com a Polícia Militar, os camelôs voltaram a ocupar ruas e avenidas da região central da cidade nesta terça-feira (04). A categoria é contra a retirada forçada ordenada pelo prefeito Alexandre Kalil e tenta uma mediação com o prefeito.
Representantes dos trabalhadores estão há cerca de duas horas reunidos com o secretário adjunto de fiscalização da PBH, José Mauro Gomes, mas nenhum acordo foi anunciado até o momento.
O temor é que a demora na resolução do problema possa acirrar os ânimos novamente. A camelô Neiva Pimentel, representante da categoria, alega que o risco de novos confrontos é alto. "Camelô é um sujeito que ganha seu dinheiro durante o dia para poder se alimentar à noite. Esses dias sem trabalhar só estão deixando o pessoal mais nervoso. Mais um dia assim e uma quebradeira pode acontecer", prevê.
Enquanto nenhuma definição é encontrada, a maior parte dos camelôs permanece ocupando meia pista da av. Afonso Pena, em frente a prefeitura. A ocupação começou no in´cio da tarde e o trânsito está complicado na região. Agentes da BHTrans chegaram a desviar os carros para a rua da Bahia, mas por volta das 15h30, os carros voltaram a passar pela Afonso Pena, mas apenas por uma pista.
Por volta das 15h30, o trânsito voltou a ser liberado na Afonso Pena, mas os carros estão passando em apenas uma das quatro pistas. De acordo com a BHTrans, há reflexos de congestionamento em todo Complexo da Lagoinha, além das avenidas do Contorno e Andradas.
Às 18h haverá uma assembleia embaixo do viaduto Santa Teresa para balanço dos manifestos e definição de novas pautas do movimento.Raul Mariano / N/AManifestantes fecham a avenida Afonso Pena, em frente à sede da Prefeitura de Belo Horizonte
Antes, os camelôs percorreram vários trechos da cidade, saindo da rua São Paulo com rua Carijós, seguiram até a Rodoviária, passaram em frente ao Shopping Oiapoque para depois se concentraram em frente à PBH. No trajeto, disseram palavras de ordem e alguns pressionaram para que comerciantes fechassem as portas. Uma pessoa foi detida por tentar quebrar a vidraça de uma loja.
Lideranças pediram por vários momentos que a manifestação fosse pacífica, já que na segunda-feira houve confusão e a Polícia Militar usou a força para dispersar manifestantes.
O plano, agora, é ir para a Câmara de Vereadores, para sensibilizar os parlamentares. A sessão plenária começa às 15h.
Confronto
O primeiro dia útil da proibição da atividade ficou marcado por momentos de tensão, com confrontos, feridos e prisões. A megaoperação para coibir a presença dos vendedores começou a partir das 5h. Quatrocentos agentes, entre guardas municipais, fiscais e funcionários da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), estavam nas ruas e nenhum camelô se arriscou.
Um homem jogou pedras em direção a uma viatura, e o vidro traseiro quebrou. Os policiais desceram do carro atirando balas de borracha, bombas e spray de pimenta. A confusão se espalhou pelas ruas e quarteirões fechados da região central. A ambulante Rosana Maria, de 58 anos, ficou ferida após um tiro de bala de borracha na perna direita.
Pouco depois, um novo embate. Manifestantes decidiram subir a rua São Paulo e fechar a avenida Amazonas para, depois, voltar à Praça 7. Novamente, houve confronto e o Batalhão de Choque disparou dezenas de bombas de efeito moral e um canhão d’água para dispersar as pessoas.
A todo momento, o som de sirenes era acionado e o clima voltava a ficar tenso. Manifestantes atearam fogo em pedaços de madeira e lixo, e as ruas ficaram com cheiro de queimado e gás lacrimogêneo.
O comércio da região fechou as portas, e as pessoas tentaram se abrigar nas lojas e nos prédios. Momentos de desespero foram vividos por quem passava nos locais. Em meio à bagunça, era possível ver idosos apavorados e crianças chorando.
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Na proposta da prefeitura para retirar os camelôs está previsto o pagamento de parte do aluguel dos espaços em shoppings populares. Apesar do auxílio financeiro, a maioria dos camelôs se opõe à ideia.
O argumento é de que, mesmo com a ajuda, o aluguel será uma despesa a mais, em um momento de poucas vendas, o que tornaria a atividade inviável em pouco tempo.
O camelô Marcos Augusto, nas ruas de BH há 35 anos vendendo bebidas, afirma que a ação é precipitada, uma vez que a transferência dos trabalhadores não será um processo rápido. “Antes de tirar o nosso ganha-pão, a prefeitura tem que garantir que essa mudança vai dar certo”.
*Com Bruno Moreno