Gestora da Água Mineral Viva

'É preciso ser o que é de verdade para ter sucesso nos objetivos', diz Roberta Simões

hcfreitas@hojeemdia.com.br
Hermano Chiodi
03/04/2023 às 10:49.
Atualizado em 03/04/2023 às 12:25
Nós, como mulheres, temos dificuldades e temores próprios, impostos pela sociedade. O jeito de olhar para a mulher que lidera projetos, que busca assumir esse lugar de fala e comando é diferente (Agenda Comunicação )

Nós, como mulheres, temos dificuldades e temores próprios, impostos pela sociedade. O jeito de olhar para a mulher que lidera projetos, que busca assumir esse lugar de fala e comando é diferente (Agenda Comunicação )

O mês dedicado às mulheres acabou, mas trouxe números mostrando que o caminho para a igualdade plena entre homens e mulheres ainda é longo. Muito longo. Principalmente quando voltamos o olhar par ao mundo do trabalho. Homens e mulheres ocupam o mercado de forma parecida, porém, quando aplicamos a lupa e mostramos apenas os cargos de liderança e com melhores remunerações, confirmamos o abismo. 

Mas nem tudo está perdido. Em Minas, por exemplo, uma gigante do setor de água mineral, a Água Mineral Viva, indústria localizada em Itaúna, região Centro-Oeste do Estado, passou, há menos de dois anos, por um processo de reestruturação no organograma, feito com a expertise da Fundação Dom Cabral. A partir daí, os três principais cargos da empresa, presente em 500 dos 853 municípios de Minas e com 145 funcionários, passaram a ser geridos por mulheres: Karina Nogueira na superintendência comercial; Roberta Simões (administrativo/financeiro) e Delane Mabel, à frente de toda a área operacional da fábrica. 

Conversamos com Roberta Simões, 43 anos, natural de Itaúna, superintendente administrativa e financeira. Ela falou de sua trajetória e das dicas para outras mulheres que querem seguir o mesmo caminho.

Como é que você chegou ao cargo que chegou?
Tem 15 anos que eu trabalho na Água Viva. Comecei como analista contábil, nessa época eu já tinha contato direto com o presidente, assumi a funções na auditoria e controle interno da empresa. Em 2021, após uma consultoria da Fundação Dom Cabral, foram definidas algumas alterações estruturais e a criação de alguns cargos estratégicos para liderar as mudanças que estavam por vir. Na análise de perfil para comandar estas superintendências, eu fui escolhida para liderar a Superintendência de administração e finanças, hoje aí à frente dos processos de gestão da Água Viva.

Você fez a carreira então desde os cargos na base da hierarquia até o topo. Ser mulher foi um obstáculo nessa trajetória?
Eu entrei na Água Viva ainda muito jovem; me afastei, tive experiências em outras empresas, e depois retornei. A maior parte da minha trajetória profissional foi na Água Viva, que é uma empresa onde estas questões não são limitadoras da carreira de ninguém. Mas é inegável: nós, como mulheres, temos dificuldades e temores próprios, impostos pela própria sociedade. O jeito de olhar para a mulher que lidera projetos, que busca assumir esse lugar de fala e comando é diferente. Existem resistências. Mas na Água Viva, tanto por parte da direção da empresa quanto dos demais colegas de trabalho, nunca houve nenhum entrave. Ter a sorte de fazer carreira em uma empresa com este perfil foi um facilitador. Tanto que hoje, na Água Viva, após essa consultoria, foram escolhidas três mulheres. Temos a Karina Nogueira, Superintendente Comercial; a Delane Mabel, na Superintendente de Operações, e eu, como Superintendente Administrativo Financeiro.

E como se chegou nesse perfil para os cargos? Houve algum tipo de critério dando preferência às mulheres para as vagas?
Não. A escolha foi técnica, por perfil e competências individuais de cada uma mesmo. A Fundação Dom Cabral tinha esse conceito de reorganizar a estrutura e tomada de decisões e a escolha das superintendentes, a escolha de colocar mulheres, partiu do próprio presidente. Nós três já trabalhávamos na empresa e fomos escolhidas pela experiência dentro da empresa.

Hoje, com esse olhar de chefe, num ponto mais alto da carreira, como define “liderança”?
Liderar é praticar uma condução humanizada, colaborativa, e conduzindo as pessoas com respeito. Basicamente, essa é a função principal do líder e é assim que fazemos os colaboradores trabalharem junto com a empresa.

E existe diferença entre homens e mulheres nessa condução?
Acredito que não. O importante é o respeito. É assim que se assume a liderança. Aqui na Água Viva, por exemplo, nós da liderança recebemos esse respeito de todos e retribuímos da mesma forma. O resultado tem sido satisfatório. Hoje a empresa tem 66 funcionárias mulheres entre 140 trabalhadores da fábrica; em diversas funções, não só naquelas consideradas mais leves. Somos uma indústria. O crescimento que foi possibilitado para mim, está aberto a todos. Hoje, quando uma colaboradora tem o interesse de se qualificar, investir na capacitação, a empresa tem projetos para auxiliar e facilitar a vida dessas trabalhadoras. A gente tem essa força das mulheres e percebe nelas a vontade de ver a empresa crescer para crescer junto.

A senhora que chegou lá, qual o segredo para as outras mulheres que querem seguir esse caminho?
O segredo é não perder a essência, saber ouvir e não desistir.

O que chama de essência?
Tem mulher que perde essa essência. A mulher tem um jeitinho de ser, de cuidar das pessoas. Mas algumas mulheres que buscam esse espaço de liderança tentam mudar o jeito de ser para agradar e atender uma expectativa da sociedade. Não devem fazer isso. É preciso ser o que é de verdade para ter sucesso nos objetivos. A pessoa precisa ser o que é, passar confiança. O dom da mulher hoje é essa capacidade de acolher as pessoas e trazer esse conforto. Se a mulher tem isso, não precisa abandonar. Do ponto de vista da gestão, é essencial.

A senhora hoje é a responsável pela gestão. Essa diversidade com presença de mulheres na chefia, na fábrica, traz quais ganhos para a organização?
Eu acredito que essa diversidade - homens e mulheres - favorece muito a empresa. Traz essências diferentes. Existe um toque feminino. Na minha experiência, mesmo que a gente não possa generalizar, eu percebo que a mulher observa mais, cuida mais. Para o nosso mercado, de água mineral e produtos alimentares, essa característica, por exemplo, é fundamental. Hoje a Água Mineral Viva tem projetos ousados com estratégias comerciais, na área ambiental, na expansão de portfólio e as mulheres podem ser pilares no apoio das empresas nesses projetos, fazendo conexões. Nós temos certificados internacionais de qualidade e buscamos certificações que nos coloquem em posições diferenciadas em relação aos nossos concorrentes. É para nós importante, como por exemplo a implantação do Selo de Controle Fiscal de Procedência das Águas de Minas Gerais; uma garantia de qualidade essencial para a empresa e para os consumidores. Estamos em uma das maiores reservas de água mineral do mundo e trabalhamos para preservar esses recursos. Ao mesmo tempo estamos expandindo nossa distribuição e as mulheres podem ser pilares da empresa nesses projetos, nos ajudando a fazer conexões.

Nas pesquisas sobre as dificuldades das mulheres que trilham o caminho da liderança no mercado de trabalho surgem com frequência questões relacionadas aos conflitos entre escolhas profissionais e escolhas familiares; a escolha de ser mãe, por exemplo. Como lidou com estas questões?
Não posso mentir e eu tenho que dizer: não foi fácil; pelo contrário, foi muito difícil. Eu amo trabalhar e escolhi ser mãe. Quando meu filho nasceu, eu escolhi ficar um ano com ele, me dedicando. A forma como as empresas tratam essa questão é fundamental. É um dos fatores que levam o funcionário a se manter nas empresas.
Foi difícil. Trabalhar, cuidar de criança, sair de casa, ter responsabilidades grandes, não é fácil. Mas também não é nada impossível e as pessoas têm que ter isso em mente. Uma empresa que facilite isso traz qualidade de vida para os funcionários e ajuda inclusive nos resultados. Lembra que eu falei que não desistir é uma das chaves do sucesso, especialmente para as mulheres? Então, passa por aí. Não podemos desistir.

E a relação com a família em casa, como fica para você que escolheu investir também na profissão?
Quando eu casei eu avisei a meu marido: eu sou mulher e vou pro mercado; eu não sou uma mulher que vai ficar em casa, mas eu também quero ter uma família. Ele sabia qual era o objetivo e sempre me apoiou. O resultado que eu tenho hoje é da minha família; eu nunca estive desamparada. Os casais tem que lembrar isso, que o resultado é sempre para os dois.

A menina Roberta estaria satisfeita com o que você se tornou?
Eu diria que eu superei as minhas expectativas. A gente quer sempre estudar mais, se qualificar mais, esse tem que ser o objetivo sempre; se qualificar sempre, não parar nunca. Mas o que eu já tenho hoje supera o que eu imaginava e é um desejo que todas superem seus objetivos de infância.

© Copyright 2024Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por
Distribuido por