Análise da Faculdade de Ciências Econômicas projeta retração generalizada com as medidas protecionistas já adotadas
Bem-estar global deve sofrer uma diminuição da ordem de US$ 130 bilhões (Marcello Casal jr / Agência Brasil)
A guerra comercial deflagrada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, tem potencial para provocar redução de 0,16% no Produto Interno Bruno (PIB) global, o que equivale a uma perda de US$ 128 bilhões. Para o comércio mundial a previsão é de US$ 592 bilhões de prejuízo, com retração de 2,81% no nível de atividade. Já o bem-estar global – medida monetária que visa refletir a perda de bem-estar econômico – deve sofrer uma diminuição da ordem de US$ 130 bilhões.
As projeções estão no estudo sobre os impactos econômicos regionais e setoriais das elevações de tarifas de importações dos EUA - com respostas de outro gigante econômico, a China, desde o mês passado, além de outros países e blocos econõmicos. A análise publicada pelo Núcleo de Estudos em Modelagem Econômica e Ambiental Aplicada (Nemea) do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Faculdade de Ciências Econômicas (Face) da UFMG aponta que EUA e China sairão perdendo da guerra comercial instaurada por Donald Trump, mas em diferentes proporções.
Para a China, a projeção é de que o PIB sofrerá redução de US$ 32,7 bilhões, ou 0,27%. Já os Estados Unidos enfrentariam uma diminuição de US$ 92,7 bilhões (0,48%) em seu PIB, o que reflete “uma considerável perda econômica”, anotam os pesquisadores. Portanto, a perda estadunidense projetada é quase duas vezes maior que a chinesa em termos relativos e quase três vezes maior em termos absolutos.
“Ao instaurar um imposto sobre os importados, parte dos custos de produção (insumos produtivos) ficam mais caros, retraindo o nível de produção e, consequentemente, a atividade econômica. Para o caso dos EUA, esse argumento é mais notável, dado que o país aplicou tarifas para todas as regiões nessa simulação, reduzindo potenciais efeitos de substituição de parceiros comerciais. Já no caso da China, como o país apenas aplicou tarifas sobre os EUA, a metodologia captura mudanças nos padrões de comércio, indicando substituições de parceiros comerciais”, aponta o documento.
É possível que um pequeno incremento – da ordem dos US$ 350 milhões, ou 0,02% – venha a ser observado no PIB brasileiro como consequência das medidas de proteção comercial adotadas pelo governo de Donald Trump, aponta estudo do Cedeplar/UFMG. E seria consequência quase exclusivamente do ganho na produção e exportação da soja. Com exceção do setor das sementes oleaginosas, todos os demais (inclusive os demais segmentos agropecuários) deverão sofrer “perdas significativas” – em particular, o de serviços e a indústria, essenciais para melhorar o posicionamento estratégico do Brasil na estrutura econômica mundial.
“O setor industrial seria o mais afetado, estimando-se uma perda de US$ 3,5 bilhões, demonstrando um impacto adverso considerável na economia brasileira. O segmento de serviços também enfrentaria uma diminuição, com uma perda de US$ 375 milhões”, destaca o relatório, apontando para a possibilidade de um preocupante avanço na hipercomoditização da economia brasileira.
“A elevada perda de exportações e produção da indústria brasileira sugere efeito de ‘desindustrialização’ na economia. Este fenômeno teria consequências significativas nas perspectivas de crescimento e geração de empregos mais qualificados e com maior remuneração”, registra-se no relatório.
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