MEMÓRIA

Livro eterniza fachadas de valor arquitetônico e gráfico em BH

Professora e artista gráfica Fernanda Goulart assina "inventário" de imóveis que buscaram inspiração no Art Déco para ornamentação

Do HOJE EM DIA
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Publicado em 23/10/2024 às 07:20.
Para compor Beagá Decô, a artista gráfica inventariou cerca de 700 casas mapeadas nos eixos Leste-Oeste da cidade (Divulgação)

Para compor Beagá Decô, a artista gráfica inventariou cerca de 700 casas mapeadas nos eixos Leste-Oeste da cidade (Divulgação)

Com o objetivo de proteger parte da memória da arquitetura Art Déco em Belo Horizonte - que se popularizou como elemento decorativo em fachadas e platibandas de casas comerciais e residenciais na capital a partir da década de 1930 -, a artista gráfica e professora associada na Escola de Belas Artes da UFMG, Fernanda Goulart, lança o livro Beagá Decô - Patrimônio gráfico da cidade ao papel, neste sábado (26), às 10h, no Mercado da Lagoinha. 

Fernanda é autora da tese de doutorado e do livro homônimo "Urbano Ornamento: um inventário de grades ornamentais em Belo Horizonte (e outras belezas)", ambos de 2014. Desde 2008, dedica-se a pesquisas em que investiga, inventaria, interpreta, transfigura e multiplica a memória gráfica da arquitetura belo-horizontina, prioritariamente a não tombada.

Para compor Beagá Decô, formado por 10 plaquetes agrupadas em uma cinta, a artista gráfica inventariou cerca de 700 casas mapeadas entre os eixos Leste-Oeste da cidade, a grande maioria fruto de caminhadas realizadas entre 2017 e 2018. Quinze bairros foram escolhidos por ainda conter grande incidência da arquitetura em linguagem Déco em seus casarios: Santa Efigênia, Santa Tereza, Horto, Sagrada Família, Centro, Lagoinha, Bonfim, Santo André, Floresta, Colégio Batista, Concórdia, Bairro da Graça, Carlos Prates, Padre Eustáquio e Calafate. 

Para Fernanda, visitar, mesmo que somente com os olhos, essas casas, “é fazer resistência ao abandono que acontece a cada vez que, no cotidiano, de modo apressado, as ignoramos. Tanto quanto são ignorados os tantos comércios que, em tempos de e-commerce e de esvaziamento dos centros urbanos, cada vez mais se fecham para as ruas”, diz.

Interessa à artista o registro do Art Déco não monumental, que ela chamou afetivamente de popular: “Essas casas singelas estão a todo tempo afirmando a memória não apenas das estruturas, mas dos próprios ofícios que lhes deram origem”, observa.

Segundo a autora, a memória gráfica desse Art Déco popular e anônimo constitui parte importante da formação da identidade local belo-horizontina e brasileira. O projeto Beagá Decô tem caráter experimental e o inventário, feito por uma artista visual, é traduzido nas 10 plaquetes que destacam o grafismo da arquitetura, constituindo uma "memória gráfica" que dialoga com o campo de estudos de Fernanda Goulart.

“O principal desafio de empreitadas como esta é lançar mão de estratégias criativas que possibilitem valorizar o patrimônio urbano em sua dimensão etnográfica, técnica e estética. Os fascículos podem ser manuseados de forma lúdica e independente, oferecendo um olhar renovado e reflexões críticas sobre o déco belo-horizontino, em toda a sua diversidade”, diz a artista. 

Um dos fascículos traz textos de três pesquisadoras convidadas - Beatriz Magalhães, Michele Arroyo e Yana Tamayo - com reflexões sobre o tema; há também um roteiro arquitetônico impresso num mapa, com textos sobre as edificações escolhidas.

Para humanizar os registros para além das fachadas e platibandas, Fernanda entrevistou moradores e comerciantes que ocupam os imóveis, retratando seu olhar sobre as edificações e o bairro onde estão inseridas.

Histórico

O livro Beagá Decô é desdobramento de outro projeto, “A cidade e sua lírica geometria decorativa”, fruto do pós-doutorado de Fernanda Goulart realizado em 2022 junto ao Centro de Artes, Design e Moda da Universidade do Estado de Santa Catarina e ao Programa de Pós-Graduação em Design da Universidade Federal de Pernambuco, que também será lançado na mesma ocasião. Com tiragem artesanal, trata-se de uma caixa lúdica e interativa, com impressos e experimentações que também dissecam a visualidade do Art Déco. 

Fruto de cuidadosa análise gráfica, a obra constitui-se como um laboratório de produção e pensamento gráficos. Nesse contexto, Beagá Decô é uma forma de democratizar tal obra, num formato mais acessível ao público em geral. Ambos os trabalhos são uma continuidade do resultado da tese de doutorado de Fernanda, quando a professora documentou cerca de 5 mil fachadas nos bairros mais antigos de Belo Horizonte, registrando os desenhos ornamentais das grades (cercas, portas e janelas) forjadas em ferro, e desdobrada em livro homônimo, contendo mais de 3 mil desenhos vetoriais, que configuram um imenso e editável banco de imagens. Conheça mais sobre os projetos de Fernanda Goulart em @urbanoornamento (Instagram).

A coleção Beagá Decô será lançada também em e-book acessível para cegos e pessoas com baixa visão, contendo áudio descrição de textos e imagens. O projeto  foi financiado pelo Fundo Municipal de Cultura de Belo Horizonte.

Serviço

Lançamento Beagá Decô

Quando: 26/10/24, a partir das 10h

Onde: Mercado da Lagoinha - Avenida Antônio Carlos, 821, Lagoinha – BH

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