(Cruzeiro/Divulgação)
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Gastos em casa de entretenimento adulto, com compra de bebidas alcoólicas, em resorts de luxo e pagamentos desde agentes de jogadores à empresas ligadas a parentes e familiares de conselheiros consumiram praticamente R$ 40 milhões dos cofres do Cruzeiro em dois anos. Esse valor faz parte de uma investigação da Kroll Consultorias que investigou movimentações finaneiras do Cruzeiro entre o fim de 2017 e dezembro de 2019, período que compreende o "reinado" de Wagner Pires de Sá à frente da Raposa.
O resultado dessa investigação foi publicado no site do Cruzeiro na tarde desta segunda-feira (18) em um documento "pocket" da própria Kroll. A empresa sintetizou em três páginas que se tornaram públicas o que foi apontado em 600 folhas de um relatório enviado pelo Conselho Gestor do Cruzeiro ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).
Gastos
A Kroll discriminou ponto a ponto todos os gastos que somados chegaram a R$ 39,9 milhões, número do desfalque nos cofres celestes e que poderia facilmente quitar quase 50% das dívidas que o Cruzeiro tem na Fifa pelo não pagamento em transferências de jogadores entre 2016 e 2019.
De acordo com a Kroll o maior gasto aconteceu em pagamentos de contratos de intermediação de atletas. Só nessas negociações o clube retirou R$ 13.270.715,00 para pagar empresários em negociações não cadastradas no sistema da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), o que é proibido pelo Regulamento Nacional de Registro de Transferências de Atletas de Futebol.
Quase R$ 9 milhões (mais precisamente R$ 8.521.311,80) foram usados para pagar empresas vinculadas a dirigentes e/ou familiares desses players durante os dois anos analisados pela Kroll.
Os pagamentos eram feitos como prestação de serviços de consultoria. A auditoria apontou que pagamentos foram feitos em nome de esposas de dirigentes, para quitar comissões e pagamentos de rescisões contratuais não previstas e até bonificação de diretor por desempenho do time em campo. Transações financeiras em duplicidade também foram contabilizadas no levantamento.
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O Cruzeiro pagou de acordo com a Kroll R$ 7,07 milhões em comissões para intermediários de jogadores que já atuavam pelo Cruzeiro em negociações para aumentar o salário dos atletas. Nesse valor também foram computados bônus por desempenho e performance do atleta, como número de jogos na temporada, minutos em campo, fato que a auditoria detalhou da seguinte forma: "Essas comissões, apesar de não serem irregulares, podem ser consideradas inusuais e prejudiciais ao Cruzeiro", diz parte do relatório da Kroll.
Aumento exorbitante
O que também teve aumento considerado muito alto pela Kroll em seu relatório foram as despesas do Cruzeiro em apenas um ano. Os gastos aumentaram em 50%, saltando de R$ 770.097.107,00 para R$ 1.180.676.437,00, levando-se em conta o biênio anterior (2017/2018). "Os salários, que compõem 20% das despesas do clube, também tiveram um aumento de 50%, saltando de R$ 156.581.352,00 para R$ 234.380.814,00", apontou o relatório.
Pagamento a conselheiros
Empresas vinculadas a 52 conselheiros do Cruzeiro, mesmo o estatuto do clube vedando tais pagamentos, receberam mais de R$ 6 milhões (R$ 6.068.078,33) como forma de pagamento de contratos de mútuos, serviços de consultoria, advocacia e compras em estabelecimentos diversos. 12 desses conselheiros ganharam mais de R$ 100 mil e receberam 83% de todo o valor dispendido a esse tipo de transação financeira.
A Kroll até cita no documento de investigação que algumas atividades podem até ser regulares, mas não tinha todos os documentos necessários para afirmar categoricamente tal possibilidade.
Outros R$ 2.139.653,74 foram pagos a a empresas de consultoria jurídica, tributária e engenharia sem descrições completas das atividades e sem comprovação de que o serviço discriminado fora realizado. Quase R$ 600 mil também foram pagos em comissões por negociações de contratos com patrocinadores, mostra o relatório da Kroll.
Comissão por negociação irregular
Um empresário também recebeu comissão por negociação irregular segundo a Kroll. Nessa transação o Cruzeiro gastou meio milhão. O jogador em questão era menor de idade e, portanto, o negócio é proibido pelo Regulamento Nacional de Intermediários da CBF.
Pagou por que?
A Kroll também apontou gastos de R$ 1.548.608,00 que não puderam ser comprovados por notas fiscais. A investigação mostra que durante o período analisado nas contas esse montante constou em notas de débito de dirigentes sem qualquer descrição da natureza desses gastos.
Sacanagem?
Como já havia sido noticiado anteriormente pelos portais Uol, Superesportes e Deus Me Dibre, gastos com cartões corporativos do clube foram realizados de forma deliberada pelos dirigentes. Apontamentos da auditoria revelaram uso dos cartões até em locais completamente fora da realidade do futebol. Como, por exemplo, em casa de divertimento adulto.
"Entre as despesas analisadas, despesas pessoais e não condizentes com as atividades performadas pelo Cruzeiro, no valor de R$ 80.777,18, foram pagas com cartões de crédito corporativos emitidos em nome de quatro dirigentes, durante o período em análise. Os estabelecimentos incluíram lojas de eletrônicos, lojas de roupas, clínicas de saúde, bebidas alcoólicas, resorts de luxo e casas noturas de entretenimento adulto", diz documento publicado pela Kroll e revelado no site do Cruzeiro.
Investigação
Membros do Conselho Gestor entregaram no Ministério Público de Minas Gerais um relatório de centenas de páginas. O documento produzido pela Kroll pode, quem sabe, ajudar na punição daqueles que usaram o Cruzeiro para fins fraudulentos.
“Esperamos que, com este documento, o processo possa ter ainda mais elementos para chegar ao final e punir aqueles que prejudicaram o Cruzeiro. O relatório está sendo entregue para que possam ser tomadas as providências necessárias”, comentou Saulo Fróes, do Núcleo Dirigente Transitório, ao site oficial do Cruzeiro.
O advogado Kris Brettas, superintendente jurídico do Cruzeiro, espera que o estudo da Kroll possa balizar medidas de melhor gestão dos próximos presidentes.
“O relatório é muito amplo e envolve diversos aspectos dentro do Clube. O que a gente pode dizer é que muita coisa poderá não ser considerada como um crime, mas que pode ser trabalhada pelo futuro presidente. O relatório servirá para que o próximo presidente busque um ressarcimento daquilo que é considerado como má gestão do Clube. Infelizmente não podemos divulgar os dados pois envolve sigilo de informações, o que poderia prejudicar as investigações e o reembolso. O que desejamos neste momento é o ressarcimento de tudo o que foi indevidamente retirado”, ponderou também em entrevista ao site oficial da Raposa.