(FLAVIO TAVARES)
O alemão Andreas Duhnke, piloto da Condor Airlines de 30 anos, veio ao Brasil a trabalho, mas não pode reclamar da sorte. A seu pedido, foi escalado para um voo para o Rio no período da Olimpíada e está hospedado no 17º andar do hotel Windsor Atlântica, no Leme, de frente para arena do vôlei de praia. "Assisti a vários jogos da janela do meu quarto", conta. Na manhã desta quinta-feira, foi um espectador privilegiado das provas de remo. Em vinte minutos, viu seu país levar duas medalhas de ouro, no skiff quádruplo masculino e feminino. Sem pagar um tostão.
Duhnke era um dos muitos torcedores que assistiram à chegada dos remadores em uma estreita calçada à beira da ciclovia da Lagoa Rodrigo de Freitas, palco das competições, colados ao alambrado. Na altura da sede do Flamengo, ao lado do estádio do remo, onde os ingressos para esta quinta custavam entre R$ 100 e R$ 280, a turma do gargarejo pôde ver de graça seis disputas de medalhas, depois da frustração pelo cancelamento das provas de quarta-feira, por causa do mau tempo.
"Bravo", repetia Duhnke, entre gritos de 'uhuuu' diante dos conterrâneos campeões. "Até que enfim vamos melhorar o desempenho de medalhas. E a visão daqui é muito boa", disse o alemão, que nesta sexta-feira comandará um voo de volta a Frankfurt e dará adeus aos Jogos.
Perto de Duhnke, a holandesa Geesje Mechiel, ao lado da família, vibrou com a medalha de prata da equipe feminina do skiff quádruplo. Ainda nas semifinais, Geesje já gritava palavras de estímulo aos atletas e acenava com o boné laranja. "Aqui é o segundo melhor lugar para ver a competição. Não conseguimos comprar ingressos, mas está muito bom do lado de cá", elogiou.
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Outro grupo de espectadores ao ar livre preferiu o gramado ao lado do clube Caiçaras para se acomodar com mais conforto, embora não fosse possível ver a chegada dos competidores. O mexicano Samuel Atri, de 25 anos, estudante de Relações Internacionais na Cidade do México, levou um binóculo para acompanhar a passagem dos remadores. Economizou nesta modalidade, depois de comprar ingressos para boxe, basquete, vôlei e tênis de mesa. "Adoro a vida no Brasil", elogiou.
Outra visão privilegiada do remo, embora não tão emocionante quanto a chegada, é o ponto de partida, próximo ao túnel Rebouças. A doméstica Antônia Maria Rodrigues de Souza, de 40 anos, a filha Alana, de 17, estudante do curso normal, e a amiga Antônia Alda do Nascimento, de 52, também doméstica, todas de férias, caminhavam pela orla da Lagoa quando perceberam o movimento de preparação para a largada, pouco antes das 8h30.
"Eu sabia que hoje tinha remo, mas não sabia a hora. Demos sorte de passar agora", disse Antônia Souza, que prestava atenção na sofisticação da câmera de TV que, pendurada a um cabo, percorria no ar todo o percurso da prova. "Agora não podemos dizer que não vimos nada da Olimpíada", brincou. "O resto a gente vê na TV".
Logo na segunda largada da categoria dois (remadores) com timoneiro, a plateia improvisada no recuo da ciclovia, onde ficam aparelhos de exercício físico, lamentou o erro da equipe francesa, que não largou em linha reta e chegou a encostar um dos remos na corda divisora da raia. "Treinar tanto e errar na saída é muito triste, que pena", lamentou Antônia Souza. "Com um remo só para cada uma é muito difícil", disse Alana.
A irlandesa Luise Dalton, de 32 anos, que mora com o marido francês no Brasil há um ano e meio, levou os dois filhos, Hugo, de quatro anos, e Nuna, de um, para passear de bicicleta na Lagoa e parou para ver os remadores passarem. "A vantagem é que torcemos para vários países", afirmou. Luise não comprou ingressos para o remo, contentou-se com a vista de longe, mas, no fim de semana, assistirá às competições de atletismo e ciclismo de pista.