Compositor aposentado que vive em moradia assistencial há quase 30 anos celebra vacina

Luisana Gontijo
lgontijo@hojeemdia.com.br
28/01/2021 às 18:40.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:02
 (Wander Veroni | Santa Casa BH)

(Wander Veroni | Santa Casa BH)

Tomar a vacina contra a Covid-19 tem um gostinho ainda mais especial para quem, apesar de enfrentar intempéries e desafios constantes, sente gratidão e amor pela vida. Esse é o caso do compositor aposentado José Brito, de 68 anos, que vive há quase três décadas no Instituto Geriátrico Afonso Pena (Igap), mantido pela Santa Casa de BH.

Seu Zé Brito, como é carinhosamente chamado por quem o conhece, recebeu a primeira dose da CoronaVac no último dia 25, junto com os outros 26 moradores do Igap, com idades entre 62 e 102 anos. Cadeirante há quase 39 anos, quando sofreu um acidente de trabalho que afetou sua coluna, ele não tem os movimentos do peito para baixo.

Sensação de liberdade

“A vacina foi um alívio. É uma sensação de liberdade. Mas os médicos estão orientando a gente a não baixar a guarda. Como só uma minoria vai ser vacinada agora, por enquanto, a gente tem que se resguardar. Mas, só de pensar que vamos poder voltar a receber visitas e ir lá fora, é um alívio”, celebra ele.

Natural de Coroaci, no Vale do Rio Doce, Seu Zé Brito conta que era filho único e, em outubro de 1981, veio a Belo Horizonte formar uma dupla sertaneja com um conhecido. Para sobreviver, até que a dupla musical se firmasse, foi trabalhar em uma construtora, onde se acidentou e sofreu a lesão na coluna.

"A vacina foi um alívio. É uma sensação de liberdade. Mas os médicos estão orientando a gente a não baixar a guarda. Como só uma minoria vai ser vacinada agora, por enquanto, a gente tem que se resguardar. Mas, só de pensar que vamos poder voltar a receber visitas e ir lá fora, é um alívio"

“Eu teria motivos para ser rancoroso, mas Deus não deixou nada de mal no meu coração. Podia ter morrido naquele acidente, mas estou vivo e sou feliz”, ensina. Seu José recorda que, à época, a esposa, que estava no interior, veio cuidar dele, trazendo os dois filhos pequenos. Depois de quatro anos, a mulher quis se separar e ele passou os oito anos seguintes na casa de uma cunhada, que tinha cinco filhos e enfrentava dificuldades financeiras.

“Conversei muito com minha cunhada e decidi vir para o Igap. Tive o privilégio de ser acolhido aqui nesta casa, porque, na ocasião, eu tinha 40 anos, era novo, mas consegui vir para uma das melhores instituições de repouso de BH. Com quase 69 anos –, não tenho vontade de sair daqui para morar em nenhum outro lugar”, pondera ele.

Bom de prosa, Seu Zé sente falta das visitas diárias que recebiam no Igap antes da pandemia. E, para manter o brilho da vida e da alegria em alta, ele lê, toca violão, investe em compor músicas – um dos seus hobbies prediletos –, em interagir nas redes sociais e ainda faz entrevistas para um jornal interno do Igap. Entre as 80 letras musicais que diz já ter prontas, uma, “Pura Verdade”, pode ser ouvida no YouTube, na voz do Trio Explode Coração.

De 1996 a 2002, integrou um coral composto por moradores do Igap, batizado de Grupo de Vozes Chama Acesa, que tocou em igrejas e na própria Santa Casa de BH. E, como Seu Zé é movido a projetos, ele revela que há um CD com oito de suas composições prontinho para ser gravado em estúdio. “Sou um amante da música, isso me motiva”, reforça Brito.

Moradia e assistência

Segundo informações da Santa Casa de BH, o Instituto Geriátrico Afonso Pena (Igap) oferece moradia e assistência humanizada a mulheres e homens, atendidos por uma equipe multidisciplinar completa, composta por geriatra, enfermeiro, psicóloga, assistente social, fisioterapeuta, técnicos em enfermagem e cuidadores de idosos. A expectativa é que Seu Zé Brito e os demais moradores possam receber a segunda dose da CoronaVac no prazo de duas a quatro semanas, como preconizam as pesquisas sobre a vacina.

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