(Flávio Tavares/Arquivo Hoje em Dia)
Moradores de 15 cidades da região metropolitana, incluindo Belo Horizonte, poderão ficar sem água. A possibilidade de rodízio ou racionamento do recurso hídrico consta em laudo elaborado pela Copasa, após a suspensão da captação no rio Paraopeba, em Brumadinho, tomado pela lama depois do rompimento da Mina Córrego do Feijão, da Vale.
Diante do risco iminente, o governo de Minas pressiona a mineradora a adotar medidas emergenciais. A Advocacia-Geral do Estado (AGE) acionou a Justiça para que a empresa inicie, imediatamente, a captação em trechos do manancial não afetados pelos rejeitos de minério.
O estudo feito pela Copasa aponta o comprometimento do curso d’água em decorrência do desastre e as implicações para o abastecimento tanto na capital quanto em várias cidades vizinhas. Desde 25 de janeiro a companhia não faz a captação no manancial para levar água às casas.
O sistema Paraopeba era responsável por atender não apenas a uma parte da população de Belo Horizonte, mas também a outros 14 municípios, segundo a Agência Nacional de Águas (ANA): Betim, Contagem, Esmeraldas, Ibirité, Igarapé, Juatuba, Mário Campos, Mateus Leme, Pedro Leopoldo, Ribeirão das Neves, Santa Luzia, São Joaquim de Bicas, Sarzedo e Vespasiano.
“Abrange mais de 50% da água consumida na região metropolitana”, afirma Winston Caetano de Souza, Presidente do Comitê da Bacia do Rio Paraopeba.
Ele esclarece que os reservatórios de Rio Manso e Várzea das Flores – ambos abastecidos pelo rio – estão com níveis razoáveis. “Mas sabemos que, se o período de estiagem for longo, esse nível pode ser reduzido drasticamente e teríamos um cenário de caos”.
Winston Souza também reforçou que a obra de captação a ser feita pela Vale também não é simples. “Precisamos saber se haverá tempo hábil”, pondera.
Alerta
Membro da Fundação SOS Mata Atlântica e mobilizador socioambiental do projeto Observando os Rios, o biólogo Tiago Felix afirma que retomar a retirada de água no Paraopeba, mesmo em trechos considerados preservados, é uma operação de risco.
“Entre Brumadinho e Três Marias, por exemplo, há quase dez vezes mais metais pesados que o permitido por lei”, garante. “Mas como os poluentes estão difusos na água, é difícil saber se há tecnologia para se fazer essa captação para um abastecimento em escala tão grande”, alerta o pesquisador.
Felix afirma, ainda, que o prejuízo causado ao curso d’água só poderá ser revertido no longo prazo porque muitas cidades ao longo do Paraopeba ainda despejam esgoto dentro do manancial.
“Provavelmente, o máximo que vão conseguir fazer de imediato é captar água em ribeirões que são afluentes do rio”, avalia.
Velhas
Além de exigir que a Vale assuma medidas emergenciais no Paraopeba, o governo mineiro pede, na ação, que a empresa realize medidas preventivas para impedir danos ao sistema Rio das Velhas. O laudo da Copasa demonstra que há riscos reais de contaminação, também, neste sistema.
A Advocacia- Geral do Estado foi procurada pela reportagem, mas nenhuma fonte atendeu às ligações. Já a Vale informou que só vai se posicionar sobre a ação na próxima audiência judicial sobre o caso.
Leia também:
Governo aciona Vale na Justiça após Copasa apontar situação crítica no abastecimento de água na RMBH
(Colaborou Daniele Franco)