(RIVA MOREIRA)
Os acidentes com motociclistas correspondem a mais da metade das ocorrências de tráfego registradas em Belo Horizonte. As quedas e colisões envolvendo motos deixaram mais de 7 mil feridos e 42 mortos em 2018, segundo a BHTrans. O problema é considerado pela própria autarquia como o maior desafio para a melhoria do trânsito da capital.
Nas ruas não é difícil perceber o porquê de números tão elevados. A maioria esmagadora dos pilotos se arrisca trafegando entre os carros, em zigue-zague, quase sempre acima da velocidade permitida por lei. Em paralelo, a frota de veículos de duas rodas também cresceu. Em 2009, eram pouco mais de 149 mil. No ano passado, já ultrapassava as 220 mil unidades, um aumento de quase 50% em uma década.
Coordenadora de Projetos Especiais e Segurança no Trânsito da BHTrans, Jussara Bellavinha destaca que os impactos de tantos acidentes são sentidos pela sociedade na saúde pública.RIVA MOREIRACena comum no trânsito de BH: motociclista faz manobra irregular em plena Praça 7, no Centro
“Só em BH, nos hospitais de urgência, são mais de R$ 15 milhões gastos com atendimentos a motociclistas acidentados. Isso reflete nas cirurgias eletivas que, para serem realizadas, dependem de vaga em CTI (Centro de Tratamento Intensivo)”, diz a servidora, referindo-se à gravidade das lesões desses condutores que, muitas vezes, obriga a adequações nos procedimentos já agendados. “O motociclista, quando chega, fura essa fila”, explica.
Rotina
O motofretista Marcelo Gonçalves, de 42 anos, trabalha com entregas há quase duas décadas e afirma que a situação tende a piorar. Para ele, a exploração da mão de obra barata de jovens é o maior agravante.
“Tem muito garoto sem nenhuma experiência que precisa trabalhar e acaba aceitando as condições dos aplicativos de comida. Eles tentam fazer o máximo de entregas para poder ganhar mais e acabam se arriscando”, diz.
O jovem Marcos Antônio Gomes, de 21 anos, que trabalha com manutenção de condomínios e se desloca de moto por todas as regiões da capital, afirma que os motoristas também têm parcela de culpa. “Eles fecham as motos o tempo inteiro. Já aconteceu comigo e com muitos colegas. Essa falta de respeito prejudica a todos”, diz.
Presidente do Sindicato dos Motociclistas e Ciclistas Autônomos do Estado de Minas Gerais (Sindimoto-MG), Rogério dos Santos Lara afirma que a entidade tem trabalhado junto aos órgãos responsáveis para realizar seminários e cursos com a categoria. “Mas a maior parte das ações deve vir do governo que é quem recebe todos os tributos que nós pagamos, como o IPVA”.
Fiscalização
Polícia Militar informou, por nota, que o patrulhamento ostensivo de trânsito é realizado de forma ininterrupta. A abordagem a motociclistas “ocorre tanto por meio das operações blitze, quanto em abordagens isoladas se for verificada alguma irregularidade ou suspeição”, acrescenta a corporação.
A reportagem entrou em contato com as três principais empresas de entrega de comida por aplicativo que atuam em BH, mas nenhuma se pronunciou até o fechamento desta edição.
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