Fechar os olhos por alguns minutos e se desligar de tudo em volta parece difícil demais. Ainda mais nos dias atuais. O mundo moderno nos exige cada vez mais imediatismo e atenção em tudo e em todos, menos na gente. Por isso mesmo, aprender a focar no presente e vivê-lo com plenitude deve ser um exercício diário. Quanto mais cedo começamos, melhor. Mas se tem adulto que torce o nariz para a proposta de desacelerar, como estimular a criançada a parar e respirar? Animem-se, pais! Tem jeito.
A prática constante da meditação facilita a percepção do corpo e da mente, melhora concentração e criatividade, aumenta a autoconfiança e a estabilidade emocional. Tanto em gente miúda quanto nos grandões.
Para despertar o interesse dos pequenos, o segredo é recorrer ao lúdico, ensina a instrutora de yoga Daniela Leite Lage Rosa, que, recentemente, começou a dar aulas para crianças em Belo Horizonte. Segundo ela, estar atento ao que acontece consigo mesmo ajuda a disciplinar e, principalmente, a exercitar o autocontrole.
“O segredo é trabalhar de forma bem lúdica, in corporando brincadeiras e fazendo alusão a histórias. A respiração é o centro de tudo. É ela quem vai ditar o funcionamento do corpo. Quando se sentem nervosas, por exemplo, recomendo que respirem fundo e, assim, reagirão melhor”, orienta.
Leitura
Best seller na Europa, com mais de 350 mil exemplares vendidos, o livro Quietinho Feito um Sapo – Exercícios de Meditação para Crianças e Seus Pais, da holandesa Eline Snel, faz sucesso no Brasil. A publicação, verdadeiro bê-a-bá da prática do mindfulness – atenção plena, em português –, utiliza o sapo como referência para exercitar foco no aqui e agora.
Capaz de dar saltos enormes, o sapo também consegue ficar quieto por um bom tempo. Mesmo ciente de tudo o que acontece ao redor, não reage prontamente. “O sapo senta quieto e respira, guardando energia em vez de se deixar levar por todas as ideias que passam por sua cabeça”, diz trecho do livro.
Regularidade
Meditação para crianças não tem mistério. É importante que haja regularidade, mesmo que a meditação seja feita por breves períodos de tempos. A dica é da psicopedagoga Sonia Beira Antonio, coordenadora dos programas de mindfulness do Centro Mente Aberta, vinculado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Três a dez minutos são suficientes, pois o importante é a frequência e não a quantidade de tempo”, explica.
Independência, confiança, percepção de si e do outro, diminuição da agressividade, da frustração e da tristeza são alguns dos resultados conquistados com a prática. Há estudos, inclusive, que relacionam os benefícios à melhora do rendimento escolar. “Práticas informais podem ser feitas escovando os dentes, tomando banho ou fazendo a lição de casa”, diz Sonia Beira.
Além Disso
Uma instituição de ensino infantil de Belo Horizonte vem inovando nas aulas de meninos e meninas de 2 a 8 anos.Inaugurada há pouco mais de um ano, a Escola Miri Piri, no bairro São Bento, na região Sul, tem os fundamentos baseados na kundalini yoga, prática milenar que promove a expansão da consciência e o despertar de energias latentes. O objetivo, segundo a diretora da instituição, Sat Kartar Kaur, é formar crianças mais seguras, capazes de conhecer as próprias emoções e lidar com elas de maneira autônoma. “A ideia era construir uma escola de ensino regular com aquilo que se tem de melhor e mais inovador do ponto de vista pedagógico, dialogando sempre com a yoga, com a meditação e as artes marciais. Não queremos ensinar as crianças a eliminar a raiva, mas a aprender a lidar com ela de forma inteligente”, diz.