(Marcelo CamargoAgência Brasil))
Um caderno apreendido pela Polícia Federal na Operação Lava Jato, na casa de um ex-assessor do senador Fernando Collor (PTC-AL), aponta uma possível compra de votos nas eleições de 2012 em Alagoas. As anotações manuscritas indicam lista de material de construção, quantidade de votos, nome, número de título e seção eleitoral.
Em abril deste ano, o relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, ministro Teori Zavascki, determinou que as suspeitas de compra de votos fossem encaminhadas para a Justiça Eleitoral alagoana para serem investigadas. Fernando Collor foi eleito, em 2006, senador. Em 2012, a eleição era para prefeito e vereador.
O bloco foi capturado na Operação Politeia, em julho de 2015, com um ex-assessor de Collor. "Restou apreendido", afirmou a PF na ocasião, "caderno com anotações possivelmente referentes a compra de votos".
O ex-assessor morreu em maio de 2016.
Em relatório datado de agosto de 2015, subscrito pela agente da PF Mikhaela Paim Azevedo, a PF apontou para o 'caderno de anotações com capa preta e título "ATAS" com várias anotações dentro'.
"O caderno traz diversas anotações manuscritas, datadas no ano de 2012, possivelmente referentes a negociação de votos. Como exemplo, podemos citar as anotações feitas na página 21 do caderno, onde consta relação de material de construção, quantidade de votos, nome, número de título eleitoral e seção", sustentou a agente.
No documento, a PF anexou algumas páginas do caderno. No primeiro trecho separado pela Federal, há as seguintes anotações: 'Margarida 2 votos', 'Maria Eduardo 2 votos sobrinha'.
O caderno cita ainda 'Cesar ex-goleiro CRB'. O Clube de Regatas Brasil, ou CRB, é um time de Maceió, considerado o maior do Estado. Embaixo do nome 'Cezar', está anotado: '10 sacos de cimento', '4 votos', '0049 Cezar', '0049 esposa', 'Rosineide dos Santos sogra'.
A PF identificou 'Cesar ex-goleiro CRB' por meio de uma matéria de jornal. Segundo a publicação, ele seria Carlos César de Oliveira, 'goleiro do Corinthians nos anos de 1981 e 82.
Leia mais:
Supremo nega recursos para desbloquear contas de empresas de Collor
Sexto inquérito contra Collor na Lava Jato apura propina em obras da BR
Cerveró diz que Collor recebeu propina de até R$ 20 milhões da UTC
Em outra página do caderno, há ainda as anotações: 'Imperial p/ pegar 8hs. Srº Cicero. 3 pessoas. 0084 Faculdade. Benedita 0084 Faculdade. Fernando Filho. Wedja Hélio. Srº Severino e a família, Luciana F da Silva Viúva. Seção 84. Pai". Os escritos indicam ainda 'srº Luiz carroceiro esposa'.
A terceira página do bloco indica 7 nomes. Cada um seguido de zona, seção e título.
A última página traz o título 'casa Vizinho do Ferro Velho do Iraque', três nomes acompanhados das seções e dos respectivos números, além de 'senhora vizinha ok'.
Como foi para a Justiça Eleitoral no Estado, a investigação não implica Collor em nenhum crime eleitoral, pois o senador só pode ser julgado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Na Operação Lava Jato, Collor foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal (STF), em agosto de 2015, por corrupção e lavagem de dinheiro. O senador é acusado de receber R$ 26 milhões em propinas no esquema de corrupção na Petrobras. O ex-assessor, com quem foi apreendido o caderno, foi citado na denúncia como um funcionário que não desempenhava 'atividades relacionadas às suas esferas de atribuições funcionais' no gabinete de Collor, no Senado.
A reportagem entrou com contato com o gabinete do senador Fernando Collor, mas não obteve retorno.