(Gaspar Nobrega/Divulgação)
Analistas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Estadual de Florestas (IEF) de Minas Gerais divulgaram, nesta quarta-feira (27), uma nota técnica atestando que a qualidade da água nos rios Paraopeba e São Francisco não foi afetada pela lama de rejeitos da Barragem I do complexo da mina do Feijão, que se rompeu no dia 25 de janeiro, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
"Até o momento, os dados oficiais de qualidade da água não indicam que os rejeitos atingiram o trecho do rio Paraopeba a jusante da Usina Hidrelétrica de Retiro Baixo. Portanto, também não atingiram o reservatório da usina de Três Marias e o rio São Francisco", diz o documento.
O resultado contradiz o estudo da Fundação SOS Mata Atlântica, que apontou índices de turbidez e alguns metais acima do permitido por lei no rio São Francisco, e que foi divulgado na última sexta (22). A informação faz parte do relatório “O retrato da qualidade da água nas bacias da Mata Atlântica".
Por outro lado, o relatório do Ibama indica que ainda não houve tempo hábil para passagem do material extravasado da Barragem B1 da Vale nesses trechos.
Procurada a mineradora Vale informou que os "resultados das análises, realizadas até 21 de março, indicam que a pluma de turbidez está localizada no reservatório da Usina de Retiro Baixo, a cerca de 300 quilômetros de distância do local do rompimento". E que "os pontos a jusante desse trecho apresentam turbidez bem abaixo dos limites legais permitidos pela legislação, de 100 NTU".
Ainda de acordo com a mineradora, a previsão dos técnicos é de que os sedimentos não atinjam o rio São Francisco. "Isto porque, ainda que com aproximações preliminares, do total de rejeitos aportados ao rio Paraopeba, cerca de 77% ficarão retidos no reservatório da usina de Retiro Baixo e os outros 23% no reservatório da hidrelétrica de Três Marias. Ambos reservatórios possuem ampla capacidade de retenção do sedimento, considerando seus volumes mortos", informou em nota.
Mortandade de peixes
O estudo do Ibama ainda aponta que os casos de mortes de peixes aconteceram em sua maioria nos primeiros dias após o desastre, entre 26 e 31 de janeiro, ocorrendo outro pico nos dias 16 e 17 de fevereiro, relacionado a aumento das chuvas na região.
Até o momento foram recolhidas 1.773 carcaças de peixes no rio Paraopeba, sendo que 98,3% (1.743) coletadas entre a foz do córrego Ferro e Carvão (ponto em que o rejeito atingiu o Paraopeba) e a Usina Termoelétrica (UTE) localizada em Juatuba, correspondendo a 44,8 km de rio.
O restante das carcaças encontrou-se distribuído nos trechos da UTE Juatuba até Pará de Minas, com 61,1 km e 0,96% (17 carcaças) e de Pará de Minas até o vertedouro da UHE Retiro Baixo, com 202,2 km e 0,73% (13 carcaças).
Outras 306 carcaças de Pimelodus maculatus (mandi-amarelo) foram coletadas a jusante da UHE de Retiro Baixo, próximo ao vertedouro, nos dias 12 e 13 de março. Esse material, porém, está sendo analisado, mas, de acordo com relatório, aparentemente não tem nenhuma relação com o desastre de Brumadinho.
O Ibama conclui que "é inegável que o rompimento da Barragem I do complexo da mina do Feijão em Brumadinho trouxe impactos à biodiversidade na região", mas que "a avaliação dos danos deve ser feita de forma segura, baseada em dados confiáveis, e respeitando os procedimentos técnicos cabíveis", informou em relatório.