Alerta da fono

Testes permitem detectar precocemente tipo raro de demência que afeta a linguagem

Afasia primária progressiva é uma doença neurodegenerativa de difícil diagnóstico, que evolui para alterações cognitivas mais graves

Maria Fernanda Ziegler
Agência Fapesp*
Publicado em 14/04/2025 às 07:15.
Para os pesquisadores, adoção dos testes como ferramenta de auxílio ao diagnóstico é importante pois quanto mais cedo o tratamento for iniciado, mais lenta tende a ser progressão da doença (Freepik)

Para os pesquisadores, adoção dos testes como ferramenta de auxílio ao diagnóstico é importante pois quanto mais cedo o tratamento for iniciado, mais lenta tende a ser progressão da doença (Freepik)

A dificuldade de encontrar as palavras ou o costume de trocá-las por outras parecidas semanticamente – como faca e cortador – ou fonologicamente – como faca e vaca – tendem a ser os primeiros sintomas de um tipo de demência conhecido como afasia primária progressiva (APP). Outro sinal é uma sutil dificuldade para elaborar frases, evidenciada por erros de concordância verbal e nominal nunca antes cometidos ou inversão na ordem das palavras, por exemplo. Podem ainda surgir erros de escrita (disgrafia) e dificuldades de leitura (dislexia), de modo que escrever e ler passam a ser tarefas com dificuldade progressiva, assim como expressar ideias e pensamentos.

A afasia primária progressiva é uma doença neurodegenerativa rara e de difícil diagnóstico, que afeta inicialmente questões relacionadas à linguagem, impactando a comunicação, e evolui para alterações cognitivas mais graves, podendo progredir de modo similar à doença de Alzheimer ou outros tipos de demência. O diagnóstico neurológico dessa síndrome demencial demanda uma análise completa, que, além das questões de linguagem e comunicação, envolve outras funções cognitivas.

Agora, um estudo apoiado pela Fapesp e publicado na revista PLOS ONE mostrou que essa condição pode ser detectada precocemente por meio de um conjunto de testes fonoaudiológicos conhecidos como Bateria Montreal Toulouse de Avaliação e Linguagem (MTL-BR).

“A possibilidade de diagnosticarmos precocemente e com mais precisão é uma ótima notícia, pois, quanto mais cedo o tratamento for iniciado, mais lenta tende a ser progressão da doença. Quanto mais precoce for a reabilitação, maior a chance de o paciente conseguir manter as habilidades comunicativas, de fala, leitura e escrita, por mais tempo. Mas é claro que não estamos falando de um diagnóstico completo, apenas de uma parte da avaliação capaz de permitir a identificação de pacientes que precisam de maior acompanhamento e atenção”, afirma Karin Zazo Ortiz, professora do Departamento de Fonoaudiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e autora correspondente do artigo.

No estudo, os pesquisadores avaliaram 87 indivíduos, sendo 29 deles com diagnóstico de afasia primária progressiva e 58 saudáveis, pareados por idade e grau de escolaridade.

“Comparamos o desempenho dos participantes com e sem a síndrome em um vasto número de tarefas que envolvem distintos processamentos linguísticos. Com isso, observamos diferenças marcantes em algumas tarefas e, nessa etapa do trabalho, conseguimos identificar quais são os testes mais relevantes entre as 22 tarefas que constituem a bateria MTL-BR”, conta Ortiz.

Por se tratar de uma bateria muito extensa e completa, diz a pesquisadora, a identificação dos testes-chave pode contribuir para simplificar a avaliação, tornando a detecção preliminar mais rápida e acessível.

De acordo com os resultados, as tarefas em que os pacientes com afasia primária progressiva apresentaram pior desempenho no MTL-BR foram: entrevista dirigida, compreensão oral de frases, discurso narrativo oral, compreensão escrita de frases, ditado, repetição de frases, fluência verbal semântica, nomeação de substantivos e verbos, manipulação de objetos por comando verbal, fluência verbal fonológica, reconhecimento de partes do corpo e orientação esquerda-direita, nomeação escrita de substantivos, compreensão de texto oral, ditado numérico, compreensão de texto escrito e cálculo numérico (mental e escrito).

Ortiz explica que a bateria de testes foi escolhida como objeto de estudo por fornecer uma avaliação ampla da compreensão e da produção oral (fala) e escrita, além de ser o único teste validado existente no Brasil para distúrbios de linguagem adquiridos de origem neurológica.

A pesquisa segue agora para uma nova etapa, que tem por objetivo identificar quais seriam as tarefas linguísticas mais importantes para a identificação de cada variante da síndrome.
O artigo Language assessment in primary progressive aphasia: Which components should be tested? pode ser lido em: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0318155.

* Texto adaptado da Agência Fapesp. Leia a matéria na íntegra aqui

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