Em meio à corrida para descobrir uma vacina eficaz contra a Covid-19, a notícia da suspensão dos estudos de uma das imunizações deixou algumas pessoas desanimadas. Porém, especialistas afirmam que a paralisação não deve ser avaliada como algo negativo, pois mostra a seriedade das pesquisas.
O relato de efeitos colaterais por parte de voluntários serve para entender, inclusive, quem pode ou não tomar a dose quando ela estiver sendo aplicada. Na última semana, esse foi o motivo para que a empresa Johnson & Johnson anunciasse a interrupção da fase 3 da proteção que está desenvolvendo.
A retomada dos testes só vai acontecer depois de o caso ser analisado por um conselho independente de monitoramento de dados e segurança.
Em todo o mundo, 60 mil pessoas participam dos testes da Johnson & Johnson. Em Minas Gerais, voluntários já estavam sendo cadastrados pela UFMG para participação nos estudos.
“Quando a empresa suspende as pesquisas por causa de efeito colateral, indica que o estudo está sendo muito bem feito. É preciso paralisar as atividades para verificar se (a reação) tem relação com a vacina. Se descobre que sim, já se sabe quem não pode tomar esta vacina”, explica a infectologista Ana Helena Figueiredo, do Grupo Iron.
Processo de desenvolvimento
A especialista comenta que o desenvolvimento de uma imunização, seja ela para qual doença for, pode levar até dez anos até ser disponibilizada ao público. No caso das destinadas a combater a Covid-19, o andamento mais rápido se deve aos estudos do tipo de tecnologia da vacina, que já tinham sido iniciados há anos.
Na primeira etapa da pesquisa, diz Ana Helena, os estudiosos definem o tempo e o tipo de vacina a ser produzida. “Geralmente dura de dois a quatro anos”, frisa.
Depois, na segunda fase, chamada de pré-clínica, a imunização é testada em tecido vivo ou animais para verificar a segurança, o método e a capacidade de ela gerar estímulo imunológico. Leva-se, então, dois anos para concluir essa parte. Só em seguida que ela é apresentada à comunidade científica e aprovada para estudos em humanos.
“Nesse caso, um número pequeno de pessoas saudáveis recebe a dose em teste. São escolhidas pessoas que, geralmente, vão desenvolver uma boa imunidade. Pensando em um estudo normal, pode-se levar até dois anos. Sendo aprovada, não causou nenhum efeito colateral importante, é hora da segunda fase do estudo clínico, quando parte dos voluntários recebe a vacina propriamente dita e outra parte recebe placebo. É para comparar o efeito dela”, explica a infectologista do grupo Iron.
Caso a substância tenha eficácia comprovada, amplia-se o número de pessoas nas quais serão aplicadas as doses. “Elas podem até apresentar efeitos colaterais, pois não são apenas pessoas saudáveis. Esta etapa serve para entender quanto tempo o efeito dura, quanto tempo a imunidade vai permanecer. Depois dessa fase , a vacina é liberada para produção e aplicação”, comenta Ana Helena Figueiredo.