Tradição e vocação levam médicos gabaritados para o SUS

Bruno Inácio
binacio@hojeemdia.com.br
07/11/2018 às 20:44.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:40
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Ter o próprio consultório, com um salário mais vantajoso, nem sempre é o que um médico deseja para a carreira. Tradição familiar e vocação para o ensino têm levado profissionais a trabalhar na rede pública, seja em postos de saúde ou em grandes hospitais. Para eles, a gratificação é ajudar a construir um Sistema Único de Saúde (SUS) de qualidade e acessível a toda a população.

Os especialistas, inclusive, auxiliaram na consolidação da assistência a pacientes com doenças mais complexas. O trabalho e o amor desses “medalhões” são o tema da terceira reportagem da série sobre os 30 anos da rede, iniciada pelo Hoje em Dia na última segunda-feira.

Alguns médicos estão no SUS desde os primeiros anos de implantação do sistema. É o caso do pediatra e pneumologista Wilson Rocha Filho, de 69. Há quase três décadas, ele se dedica a atender crianças no Hospital Infantil João Paulo II, em BH.

Trajetória

Considerado um dos profissionais mais respeitados de Minas, Filho decidiu seguir os passos do pai, Wilson Rocha, que também atuou na rede pública. “A medicina, o ensino e o trato com o paciente são coisas que aprendi com ele, que também esteve à frente do setor de pediatria do Felício Rocho por 20 anos. Quando voltei do exterior, onde fiz a especialização, senti a obrigação de exercer o ensino, e o SUS me proporcionou isso”, relembra Filho.

O estímulo para continuar são os cerca de 700 pacientes atendidos, por mês, no João Paulo II. “Os casos mais difíceis de tratar estão na rede pública de saúde. É gratificante trabalhar com a população carente, que não teria acesso a serviços de ponta. A gente proporciona a essas crianças um serviço digno”.

Aposentadoria é algo que não passa pela cabeça do pediatra. Segundo o especialista, a motivação para adiar o descanso vem da oportunidade em treinar os residentes no hospital. “Minha renda duplicaria se eu atendesse só no consultório, mas minha satisfação pessoal e profissional talvez seria reduzida pela metade”, assegura.Flávio Tavares“Os casos mais difíceis de tratar estão na rede pública de saúde”, diz o pediatra Wilson Rocha Filho

Estrutura

Aos 54 anos, o neurologista Paulo Caramelli se diz satisfeito por estar há 12 no Hospital das Clínicas (HC) da UFMG, em BH. Antes de vir de São Paulo para a capital, ele já era conhecido por renomadas pesquisas na área. 

A estrutura do SUS é o que mais atrai o médico. “Só aqui um paciente carente terá condições de ser atendido por uma equipe grande e qualificada”, frisa.

Além disso, Caramelli, que trabalhou por uma década no HC da Universidade de São Paulo (USP), afirma que a assistência mais humanizada está na rede pública. “A primeira consulta de um paciente no HC da UFMG leva de 45 minutos a uma hora. Isso acontece na rede privada? Raramente”, observa.

Ex-presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM-MG), Fábio Guerra reforça a importância de ter profissionais renomados no SUS. “Wilson Rocha e Paulo Caramelli, por exemplo, se especializaram ainda mais no atendimento público, aumentando o reconhecimento do sistema”, avalia.

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