cuidado

Uso indiscriminado de chás, ervas e fitoterápicos pode trazer sérios riscos à saúde; entenda

Vivian Chagas
@vivisccp
15/02/2022 às 18:55.
Atualizado em 15/02/2022 às 19:04
Várias ervas de uso rotineiro produzem lesões hepáticas, em virtude de ser o fígado o principal responsável pelo metabolismo e excreção destas substâncias (Divulgação/Pexels)

Várias ervas de uso rotineiro produzem lesões hepáticas, em virtude de ser o fígado o principal responsável pelo metabolismo e excreção destas substâncias (Divulgação/Pexels)

O caso da enfermeira que morreu devido a uma hepatite fulminante após consumo de um chá "emagrecedor" contendo 50 ervas acendeu um alerta para quem costuma pensa que “se é natural, não faz mal”.

O uso de chás, ervas ou fitoterápicos para os mais diversos fins, como melhorar a digestão, desinchar ou diminuir o apetite, é comum na rotina de muitas pessoas. Mas, segundo a Sociedade Brasileira de Hepatologia, não deveria, já que podem aumentar as chances de problemas hepáticos graves, .

“Todas as substâncias que ingerimos, inclusive as das plantas, são metabolizadas no fígado, depois disso, são distribuídas para o corpo. Muitas plantas como confrei, carqueja e boldo, se ingeridas em grande quantidade ou com frequência, podem danificar o órgão, já que são ricas em substâncias químicas, muitas vezes desconhecidas”, explica a professora, colaboradora do Centro Especializado em Plantas Aromáticas, Medicinais e Tóxicas da UFMG, e fundadora do Instituto Cayapiá, Maria Lins Brandão.

Segundo ela, muitas substâncias que prometem efeitos como emagrecimento rápido ou a solução de alguma doença, na verdade, acabam provocando também distúrbios gastrointestinais.

“As plantas contêm milhares de substâncias químicas que agem no corpo como qualquer outro produto ou medicamento. Quando se prepara um chá, estamos retirando essas substâncias da planta e tomando. Por isso, precisam ser usadas para os fins adequados e da forma correta”, alerta a professora.

Outro problema dos produtos naturais é que eles não passam por estudos clínicos e também não há regularização por parte de agências sanitárias, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária  (Anvisa). Isso faz com que seja mais difícil controlá-los, impedindo que haja uma mensuração adequada dos princípios ativos que os compõem.

“Qualquer produto com propriedades terapêuticas, como, por exemplo, a promessa de emagrecimento, só pode ser comercializado no Brasil com autorização, já que  representa um alto risco de dano e ameaça à saúde das pessoas”, alerta a agência.

Neste site, é possível consultar se um produto está proibido ou registrado como medicamento.

Maria Lins Brandão ainda ressalta que a divulgação de informações inverídicas em redes sociais tem contribuído para o aumento dos casos e o retorno do uso de algumas substâncias.

“Redes sociais não é um local adequado para se buscar informações sobre medicamentos. O ideal é procurar um especialista no assunto”, diz.

Afinal, chá emagrece?

A especialista e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia (SBEM), Lorena Lima Amato, explica que os chás emagrecedores só levam a alguma percepção na balança quando têm efeito diurético, já que a pessoa acaba perdendo água rapidamente e, consequentemente, acontece a perda de peso na balança em curto prazo.

“Mas isso é um engano, porque perder líquido não é o mesmo que perder gordura, ou seja, não é perder peso efetivo no emagrecimento”, alerta. Por outro lado, o chá pode contribuir para o processo de emagrecimento por manter a pessoa hidratada e ajudar um pouco na saciedade.

A médica ainda ressalta que chás e demais fitoterápicos não são fórmulas mágicas, e não levam ao emagrecimento.

"Na obesidade, por exemplo, a pessoa acredita que pode ser um caminho curto, rápido para a perda de peso, mas não é. Não existe fórmula mágica para emagrecer. É preciso mudar o estilo de vida e modificar hábitos, por isso, a importância de ser bem orientado por especialistas de educação física, endocrinologistas e nutricionistas. É um tratamento de longo prazo, feito com sustentabilidade”, comenta.

Fitoterápicos trazem riscos?

Lorena Lima alerta que uso de medicação fitoterápica sem orientação médica pode trazer riscos, já que têm plantas medicinais que são tóxicas e podem levar à morte. 

"Geralmente, nas medicações fitoterápicas não se sabe exatamente a dose da composição. Não vamos condenar todos, pois conhecemos vários que são muitos usados, como é o caso da camomila, e que são seguros. Por isso, é importante também não generalizar”, explica a especialista.

Ainda segundo ela, alguns fitoterápicos podem atrapalhar o funcionamento da glândula adrenal, por exemplo, responsável por produzir o cortisol e a aldosterona. "Outras plantas podem afetar a função tireoidiana e pancreática, por exemplo, dependendo da erva utilizada", explica.

Uso correto

Segundo Maria Lins, o ideal é consumir chás de plantas que tenham usos tradicionais seculares ou que tenham sido submetidos a estudos por cientistas, que comprovaram  efeitos benéficos e ausência de toxicidade. 

“As plantas introduzidas no Brasil mais comuns como capim canto, hortelãs, camomila e manjericão enquadram-se nessas duas categorias, pois são usadas há séculos e foram estudadas nos seus países de origem. Já as plantas brasileiras, infelizmente, por falta de financiamentos para os estudos, devem ser usadas com mais cautela”, explica

Para fazer o consumo adequado, primeiro é preciso ter consciência que as plantas também têm compostos químicos, como qualquer remédio de farmácias.

“Quando preparamos um chá estamos extraindo esta química. É importante, portanto, sempre buscar informações corretas sobre as plantas antes de usá-las e não seguir conselhos e orientações de pessoas que pouco conhecem sobre elas”, alerta.

Ainda segundo Maria Lins, plantas como chá verde, por exemplo, possuem substâncias que podem auxiliar no emagrecimento, junto com outras atividades recomendadas por médicos ou nutricionistas. 

© Copyright 2024Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por
Distribuido por