COMPORTAMENTO

Com o tempo a seu favor: é possível encarar o envelhecimento numa boa. Veja como:

Izamara Arcanjo
Especial para o Hoje em Dia
23/07/2022 às 06:00.
Atualizado em 23/07/2022 às 08:46

Há quem tire de letra, mas encarar o envelhecimento numa boa parece ser um desafio a mexer com a vaidade – e a cabeça – da maioria das mulheres em algum momento. No ano passado, o Brasil alcançou a marca de 50 milhões de pessoas com 50 anos ou mais, ou 25% da população, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Em 30 anos, haverá mais sexagenários do que crianças. Mas mesmo diante de questões como etarismo, culto à juventude e rompimento de padrões e estereótipos, é possível lidar com essa etapa da vida de forma mais leve, dizem especialistas.

Na avaliação da psicanalista e doutora em neurociência Ângela Mathylde Soares, o desejo da maioria das pessoas é viver mais tempo, mas sem envelhecer ou parecerem velhas.

“O que queremos é parecer novos para sempre”, diz. “A vergonha e o medo de envelhecer chegam a ser aterradores para algumas pessoas. Isso acontece quando elas não conseguiram se livrar da dependência do olhar do outro. Quanto você tem primeiramente um relacionamento com você, o olhar é seu. O verdadeiro relacionamento que tenho que estabelecer é comigo mesma”, diz.

(Arquivo pessoal)

(Arquivo pessoal)

O paradoxo de querer viver mais, mas sem o ônus das mudanças trazidas pela idade, tem um custo enorme – sobretudo para a saúde mental das mulheres, constantemente cobradas quanto à aparência nas sociedades ocidentais. 

Também desencadeia reações variadas nas redes sociais quando artistas e famosos postam fotos na internet. Foi o que aconteceu com a atriz Betty Gofman, de 57 anos, que em junho usou o Instagram para promover uma reflexão sobre o envelhecimento e a onda das harmonizações faciais.

Na ocasião, Gofman publicou duas selfies de rosto lavado, acompanhadas do texto: “Sem filtro, sem maquiagem (só um batonzinho). Sem botox. Sem preenchimentos. Difícil envelhecer? Muito. Dolorido? Muito, mas gosto de me olhar no espelho e me reconhecer nele. Mesmo mais velha, com rugas, a pele mais flácida, cabelos brancos”, escreveu.

Muita Estrada Pela Frente

Helena Queiroz, de 63 anos, é diretora da Rede Longevidade. Administradora por formação, aposentou-se jovem, mas se dedicou a estudar e hoje tem uma nova profissão: psicóloga e psicanalista. Também fez um doutorado em Educação, pois gosta de se dedicar à pesquisa. 

Helena se enquadra no conceito de mulheres ageless (sem idade, em livre tradução do inglês). Elas também são chamadas de perennials, uma referência ao termo millennials, usado para denominar os jovens adultos nascidos a partir dos anos 2000. 
O termo “ageless” apareceu na mídia pela primeira vez a partir de uma pesquisa publicada pelo jornal britânico The Telegraph, que entrevistou mais de 500 mulheres acima de 40 anos.

Não se trata de mulheres que não envelhecem, mas de mulheres que, sem fazer força, mantêm um estilo de vida que não é limitado pelo tempo. Para a psicóloga, o segredo para parecer sempre jovem não é fazer plástica ou harmoni-zação facial, mas estar bem consigo, ter uma vida produtiva e cheia de relações saudáveis. 

“Não pretendo fazer plástica e deixei meus cabelos brancos, apesar de ainda serem poucos. Também tenho uma barriguinha, que é difícil perder com a idade, e que nós, mulheres, chamamos de ‘estômago mais alto’, mas coloco uma cinta e fica tudo bem”, brinca.Helena tem uma vida agitada e produtiva. Além de atender diariamente, de forma remota ou presencial, no consultório, participa de grupos de dança, de uma confraria de vinhos e faz trabalhos voluntários. 

Para dar conta de tudo, tento manter o corpo em dia. Sem excessos, faço atividade física, mantenho uma boa alimentação e uma rotina saudável. É o que importa”, acrescenta.

Cabelos brancos

Entre as mulheres, também vem ganhando força o movimento de assumir os cabelos brancos. Antes da pandemia, eles eram vistos como um desleixo, descuido, uma escolha de mulheres pouco vaidosas e que não se importavam com a aparência. Mas o fechamento obrigatório de salões de beleza e o isolamento social devido à Covid-19 obrigaram muitas mulheres a se render ao grisalho, provando que essa decisão não as torna menos bonitas.
Nas redes sociais, Glória Pires, Fafá de Belém, Samara Felippo e Fernanda Montenegro são exemplos que ajudam a reforçar o movimento pelo cabelo natural. Famosas, dão força a quem não deseja mais esconder o tom trazido pela idade. 

A gerontóloga e psicanalista Denise Vinte Di Iório, de 65 anos, faz parte deste grupo. “A pandemia me deu esse empurrão. Assumi definitivamente os brancos e foi muito libertador. Mas antes do cabelo tive que assumir internamente a questão da idade. Acho que vivi todas as etapas da vida. Brinquei quando criança, aproveitei a adolescência, casei-me e me separei, tive filhas gêmeas. Enfim, vivi com intensidade. Isso facilitou o processo”, avalia.

Entretanto, Denise faz uma reflexão: “Depois que deixei meus cabelos brancos, dificilmente os homens olham para mim. A mulher mais velha não atrai estes olhares, pois o padrão de mulher almejado pelos homens é o de uma jovem”.

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