(Fernanda Moreira/Divulgação)
O transplante de fígado está sendo utilizado em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo para tentar salvar as vítimas graves de febre amarela que tiveram o órgão comprometido pela doença. Antes do surto, que já matou 96 pessoas em Minas, o procedimento nunca havia sido testado para tratar a doença. Seis transplantes foram realizados o Estado desde janeiro deste ano como única alternativa para salvar a vida dos doentes. Apenas dois sobreviveram e estão internados em estado grave no Centro de Terapia Intensiva (CTI) do Hospital Felício Rocho, em Belo Horizonte.
A unidade de saúde, aliás, realizou a maior parte das cirurgias: quatro. É lá que está internado o médico e professor da UFMG Rodrigo Bastos Fóscolo. O docente foi diagnosticado com a enfermidade e foi submetido à técnica na madrugada a última segunda-feira (27).
Em Minas Gerais, até o momento, somente o Felício Rocho e a Santa Casa de BH foram credenciados pelo Ministério da Saúde para realizar o transplante de fígado em caso de hepatite fulminante em decorrência da febre amarela.
Critérios e eficácia
O diretor do MG Transplantes, Omar Lopes Cançado, explica que por tratar-se de uma cirurgia altamente complexa, somente pacientes gravíssimos podem ser submetidos a ela. "Os critérios para o transplante de fígado estão previstos na legislação brasileira. Somente pode ser realizado em pacientes com hepatite fulminante, em que a taxa de mortalidade é de 100%", explicou.
Segundo Cançado, como o uso do transplante para pacientes com febre amarela é inédito no mundo, o Ministério da Saúde ainda está avaliando a eficácia da cirurgia para este tipo de patologia. "Ainda são necessários estudos para confirmar se o transplante vai entrar no rol de procedimentos para a doença", pontuou o diretor do MG Transplantes.
O hepatologista e responsável técnico pelo setor de transplante de fígado do Felício Rocho, Antônio Márcio de Faria Andrade, reforça que a cirurgia é indicada apenas para aqueles em que o fígado já caminha para parar de funcionar. "Neste caso vale a pena a tentativa de transplante", ressaltou.
Fila e mobilização
A mobilização da classe médica pela captação de um fígado quando Rodrigo Fóscolo foi diagnosticado com hepatite fulminante gerou o questionamento de que o médico poderia ter sido favorecido com o primeiro lugar na fila para o procedimento.
Os dois especialistas garantem que as vítimas de febre amarela com quadro de hepatite fulminante entram na fila e transplante como qualquer outro doente. "Não tem nenhum privilégio ou benefício. Porém, o paciente pode ir para 1º lugar da fila dependendo da gravidade do quadro", assegura o diretor do MG Transplantes.
Todos os procedimentos são realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e acompanhados pelo Sistema Nacional de Transplantes. A fila de espera também é única em todo o país.
"O Sistema Nacional de Transplantes leva em conta a data de inscrição na lista, a gravidade do quadro do paciente e a regionalização da doação. Todos esses aspectos estão descritos em leis e normas", garante a Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig).
Omar Lopes Cançado explica que, em todos os casos em que há indicativo para transplante, o hospital deve enviar relatório para o MG Transplantes, que encaminha para o Ministério da Saúde. Um grupo técnico avalia e autoriza ou não o transplante. "Tudo deve ser feito muito rápido e com muito critério".
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